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Drew Barrymore finalmente encontrou seu papel perfeito: ela mesma

Atriz relembra infância conturbada e fala do sucesso de seu talk show na CBS

9 abr 2022 - 10h10
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Momentos depois de irromper em seu estúdio de talk show em Midtown em uma manhã no final de fevereiro e anunciar que está "viajando" com a data palindrômica - 22-2-22, que faz com que ela tenha 47 anos - Barrymore deseja um feliz aniversário a cada membro da equipe que a cumprimenta. "Eu tenho que cumprimentar de volta", ela explica. "'Obrigada' é muito exaustivo." Eles aceitam a explicação. Por que não? É o jeito clássico de Drew.

Algumas horas depois, o marco parece ter um efeito mais sério sobre ela. Sentada em frente a Joseph Gordon-Levitt, Barrymore pergunta a seu convidado, também um ex-ator infantil, como ele aprendeu a estabelecer limites em uma indústria tão intensa e de alto nível. Ela levou décadas para começar a fazê-lo, diz, descrevendo como "uma honra estar nos meus 40 anos e me apaixonar por uma noção que eu deveria ter conhecido quando criança, mas não conheci".

Em suas duas temporadas, The Drew Barrymore Show provou ser uma mistura caótica de bizarrices diurnas na televisão e momentos inesperadamente emocionantes. Uma sessão de manicure com o músico e empresário do ramo de beleza Machine Gun Kelly se transformou em uma discussão franca sobre paternidade e vulnerabilidade aos olhos do público. Em outro episódio, Barrymore começou a chorar enquanto conversava com a personalidade de Queer Eye Bobby Berk antes de um primeiro encontro, preocupada por não saber como lidar com o namoro como mãe solteira e divorciada.

"Ela é simplesmente destemida e espontânea", disse Elaine Bauer Brooks, vice-presidente executiva de desenvolvimento e conteúdo multiplataforma da CBS. "Ela vai compartilhar tudo, mostrar tudo, revelar tudo."

O aniversário de Barrymore marca mais um ano de vida sob os holofotes, uma jornada que ela começou quando criança. A atriz que virou apresentadora muitas vezes faz referência à sua infância turbulenta de uma forma brincalhona, mas adota um tom mais sincero ao discutir como isso definiu seu enfoque à vida adulta. Embora o programa a ajude criativamente, o que mais a atraiu foi a programação fixa. Ela queria chegar em casa para o jantar, para dar a suas duas filhas a sensação de estabilidade que ela raramente experimentou.

Recentemente renovado para sua terceira temporada, The Drew Barrymore Show foi lançado apenas alguns meses após a pandemia do coronavírus, quando as produções de estúdio ainda estavam lutando para descobrir o que fazer. Mas para Barrymore, que fala ao The Washington Post enquanto está sentada em um sofá em seu camarim do CBS Broadcast Center, o momento não poderia ter sido melhor.

"Ironicamente, eu estava fazendo mudanças em minha vida pessoal que realmente me ajudavam a acreditar que as pessoas podem mudar. Eu não era tão prisioneira dos meus próprios demônios", ela diz. "Fiquei tão feliz por estar livre disso para variar e sinto que, aconteça o que acontecer, vou descobrir como lidar com isso em vez de me sentir ameaçada. Quero dizer, é um bom momento para algo assim, certo?"

O programa de Barrymore foi projetado para ser uma extensão de sua personalidade: efervescente e acolhedor com uma pitada de autoconsciência. No reino da televisão diurna, ela está longe de ser uma Oprah Winfrey, mais propensa a buscar conselhos de convidados do que a distribuí-los por ela mesma. Ela convida muitos amigos famosos, mas também não se volta para uma vibe de pegadinhas como Ellen DeGeneres, priorizando o conforto dos convidados acima de tudo. Ela diz que "vai morrer no dia em que fizer algo errado e ofender alguém ou, você sabe, dar um passo em falso".

"Eu amo as pessoas", acrescenta. "Eu me importo com elas, e eu as protejo, e quero fazer isso por elas. Isso não é para mim. E eu juro por Deus, Você precisa ser altruísta em um trabalho como este."

Depois que Machine Gun Kelly expressou que estava tendo um "dia muito estranho", Barrymore mudou de tom e contou suas próprias lutas com a saúde mental. Ele se abriu. Mas ela sabe quando ceder a palavra; ao entrevistar Dylan Farrow sobre suas alegações de abuso sexual na infância contra seu pai, Woody Allen, Barrymore concedeu a Farrow o tempo para desvendar seus pensamentos e o espaço para eles respirarem.

O comediante Jimmy Fallon - amigo e ex co-protagonista de Barrymore - casado com sua parceira de produção, Nancy Juvonen - disse em um e-mail que a atriz "inteligente e culta" pode "ter uma conversa sobre basicamente qualquer coisa". Sendo ele próprio um apresentador de talk show, acrescentou que ela "sabe como fazer um bom programa e garantir que todos sejam bem-vindos à festa".

Barrymore, falando com Gordon-Levitt sobre crescer nos sets, diz que considera a câmera sua "amiga". Ela naturalmente encarou o estúdio como um espaço seguro e quer que seus convidados se sintam assim também.

Mas a câmera nem sempre foi amiga de Barrymore. Nascida em uma família da indústria do cinema e famosa depois de estrelar "E.T." aos 6 anos, ela começou a usar drogas e álcool e entrou na reabilitação aos 13. No ano seguinte, ela se emancipou de uma mãe que costumava levá-la ao Studio 54. Quando jovem, Barrymore deu um relato detalhado das circunstâncias que cercaram seu abuso de substâncias para a revista People, um movimento que o Los Angeles Times descreveu na época como "um ataque preventivo contra os tabloides".

O repórter da revista, Todd Gold, disse ao Times que a pressão para Barrymore fazer a reportagem de capa de 1989 veio de terapeutas que achavam que era uma maneira positiva de ela lidar com toda a atenção. "De agora em diante, ela pode dizer: 'Sim, eu tenho um problema, já falei sobre isso'... e deixar isso para trás", disse Gold.

Mais de 30 anos depois, Barrymore ainda não tem problemas para dar entrevistas. Ela gosta delas, na verdade. Quando um publicitário da CBS bate na porta do camarim para sinalizar que o tempo está quase acabando, Barrymore ignora. (Quando realmente importa, ela diz, eles invadem.) Ela aceita falar com a imprensa como uma chance de testar seus limites. "O que é bom? O que não é bom? É uma prova de fogo, e isso é a vida", ela continua. "Então, por que se esconder atrás da vergonha? Eu nunca tive o luxo disso. Não desde os meus 13 anos."

E, no entanto, tendo escrito mais de um livro de memórias - o primeiro, Little Girl Lost, de 1991, ao lado de Gold e outro, "Wildflower", de 2015, por conta própria - Barrymore reconhece o poder de contar sua própria história. Durante o segmento "Drew's News" de sua gravação de aniversário, no qual ela e seus convidados percorrem as manchetes e leem em voz alta recortes selecionados, Barrymore comenta as notícias da estrela pop em apuros Britney Spears conseguindo um contrato de livro com uma expressão conhecida: "Isso é inteligente", ela diz.

The Drew Barrymore Show oferece a ela uma oportunidade de controlar a narrativa, o que ela realiza compartilhando o suficiente sobre si mesma para acabar com qualquer especulação que reste. Ela não hesita em divulgar aspectos de sua vida pessoal, inclusive convidando duas vezes seu segundo ex-marido, o comediante Tom Green.

Falando com Gayle King no ar no ano passado, Barrymore se referiu à sua separação em 2016 do pai de seus filhos, o empresário Will Kopelman, como "a coisa mais devastadora pela qual já passei na minha vida". Ela esperou anos para começar a namorar novamente, e suas experiências voltando à ativa foram alguns dos momentos mais sinceros em seu programa. Em fevereiro, Barrymore contou a King, um convidado frequente, sobre criar coragem para abordar um homem bonito no Central Park. (Acontece que ele tinha 28 anos, jovem demais para o gosto dela.)

Barrymore também foi aberta sobre a decisão de parar de beber pouco antes da pandemia. "Eu estava, tipo, essa coisa em sua vida não funciona para você, e você [está] se enganando pensando: 'Você conseguiu isso' ou 'Você vai dominar isso um dia'", ela diz. Ela falou sobre isso na televisão porque, como o jornalista Gold observou anos atrás, reconhecer um problema em público parece ajudá-la a seguir em frente.

"Isso é tão importante e fascinante que não consigo imaginar tentar dizer sem, de fato, dizer", acrescenta. "Eu não tenho uma família... que varre m--- para debaixo do tapete. A gente não precisa contar tudo, mas não podemos nos enganar ou fingir ou pegar muito leve. Não é assim que o mundo funciona." /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Estadão
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