Em crise, Band repete erros do SBT e se perde na programação
Depois do início de século promissor, emissora paga por erros próprios e não mostra sinais de organização
Nos dias de hoje, a Band talvez seja o principal exemplo dentro da televisão da crise de mídia vivida pelo Brasil como um todo. Com credibilidade em xeque mais do que nunca, a perda de programas antes vistos como pilares de uma renovação, como Agora é Tarde e o CQC de Marcelo Tas, críticas públicas de ex-funcionários, a arriscada e velha aposta no jornalismo policial apelativo, a imprevisibilidade do futuro, dos objetivos e, em especial, da programação, a emissora do Morumbi se vê cada vez mais próxima de um cenário enfrentado por outro parceiro no passado: o SBT.
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Inaugurado originalmente em 1981, o Sistema Brasileiro de Televisão sofreu bastante com as aventuras de seu dono, Silvio Santos, que nem sempre foi esse bom marqueteiro capaz de agradar Globo e Record de uma vez só e ainda fazer um afago no maior rival da televisão tradicional, o Netflix. Desde seu surgimento, o SBT se caracterizou pelas apostas, se posicionando como uma televisão que, literalmente, poderia mudar do dia para a noite. E mudava.
Seu maior exemplo é o seriado Chaves. Em 31 anos de direitos adquiridos, o SBT jamais abriu mão de ter a exclusividade da transmissão do humorístico mexicano na TV aberta, mesmo que tenha o excluído da programação por diversas vezes, sem qualquer explicação, durante meses, deixando fãs órfãos e irritados. No lugar, vinham reprises de novelas, pegadinhas, enfim. Qualquer coisa que ocupasse os diversos buracos deixados no queijo suíço que era a programação de Silvio e companhia.
Hoje mais maduro, o SBT tem quase uma grade fixada na mente de seus espectadores. Todo mundo sabe que, às 19h45, vai encontrar Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto na bancada do SBT Brasil, assim como sabe que, no começo da tarde, tem Casos de Família e no domingo, às 11h, Domingo Legal. As surpresas desagradáveis mudaram de emissora.
Com o fim repentino do Agora é Tarde, a Band abriu um buraco na programação do fim de noite que, no passado, ainda com Danilo Gentili, tinha bons números para o horário. Resolveu reprisar Roma, mostrando que o planejamento de suporte para uma suposta - e previsível - falha de Rafinha Bastos no comando do talk show simplesmente não existiu.
CQC e Pânico: mesmo destino?
O primeiro vive crise conhecida. Assim como Agora é Tarde, o Custe o Que Custar está colocando em prova o seu próprio nome e suando a camisa para permanecer no ar. Dan Stulbach, como Rafinha, não tem a menor química com o público para comandar o CQC, e seus companheiros de bancada, Rafael Cortez e Marco Luque, apostam em piadas mais batidas que stand up de tio em ceia de natal. No seu mês de estreia, março, o novo CQC teve menos de dois pontos de média na audiência, índice mais do que preocupante para o horário, considerado nobre pelo mundo da televisão. É o pior momento da história do humorístico, que estreou em 2008.
Já o Pânico, que há anos tem se tornado um programa com temática cada vez mais apelativa, não consegue vencer o desgaste com o espectador. As contratações de Patrick Maia e (parcialmente) de Tiririca não animam, e o humorístico sofre para superar os cinco pontos de média na audiência semanal. Nem as câmeras estilo colonoscopia nos bumbuns das Panicats adiantam mais. Como se não bastasse, perderam Wellington Muniz, o Ceará, para o Multishow. É o fim da dupla Silvio e Vesgo, que veio se desfazendo aos poucos com o passar dos anos.
Menino de ouro: o problema é Luiz Bacci ou o modelo sensacionalista?
Boletins de Ocorrência, Aqui Agora... o SBT já o fez, mas percebeu que o jornalismo estilo Datena e companhia está com os dias contados. Resolveu apostar no conservadorismo de seu público de maneira diferente: Rachel Sheherazade.
Polêmica, controversa, atraente para o mercado publicitário, mas sem muito espetáculo, a âncora do SBT Brasil faz o estilo jornalismo opinativo, com postura séria, sentada, tom de voz autoritário, mas sem gritar, passando uma suposta credibilidade para o público que compartilha de sua opinião e que, em massiva maioria, é o mesmo dos programas policiais. O modelo é o problema.
Na mão contrária, assim como a Record, a Band ainda crê em Datena e no Brasil Urgente como um trunfo para deixar a crise. O jornalístico está longe de ser uma potência no horário, ficando frequentemente em quarto lugar, atrás das novelas globais, do Chaves e de seu rival direto, Cidade Alerta, que tem tom mais bem humorado, fazendo piada com seus próprios e evidentes defeitos. Marcelo Rezende é mais solto, piadista. Datena é autoritário, fala alto, dá bronca ao vivo. É cansativo.
Recentemente, a Band perdeu uma grana pesada com o fracasso de Luiz Bacci. O menino de ouro chegou com um peso que fazia justiça ao apelido, mas não vingou. Não tinha jogo de cintura para ser algo além de um apresentador sensacionalista, e caiu junto com o Tá Na Tela. Foi para a UTI com o Café com Jornal, em uma tentativa de recuperar um pouco do que lhe foi entregue financeiramente. Saiu brigado com Datena e teve que voltar para a Record.
Em contrapartida, vem nova temporada do Masterchef aí. O reality foi um sucesso em seu ano de estreia, indo na contramão do que a emissora faz no restante de seu programação: mostrando ousadia e espírito renovador para o modelo de programas do estilo no Brasil. Mas, por enquanto, o posto de SBT do momento é da emissora dos Saad. E dela ninguém tasca.