Em novela, uma forma de liberdade é virar quenga no bordel
As prostitutas são mais felizes do que as ‘honestas’ em ‘O Outro Lado do Paraíso’
Novela é novela, ou seja, ficção, liberdade poética, construção dramatúrgica. Tudo se torna possível, até o mais improvável.
Uma dessas improbabilidades é uma jovem de classe média se tornar prostituta apenas para se vingar do marido que sempre se recusou a fazer sexo com ela. Trata-se da trama de Melissa (Gabriella Mustafá) em ‘O Outro Lado do Paraíso’. Desiludida, a jovem procura o bordel de Pedra Santa. Quer se tornar quenga. Sua esperança é ser procurada por Diego (Arthur Aguiar), o ex-marido problemático que não quis tirar sua virgindade na noite de núpcias e propôs uma união casta. Melissa sabe que o geólogo só transa com garotas de programa – por isso decidiu se tornar uma delas.
Na casa de tolerância frequentada pelos garimpeiros vive outra garota que escolheu ir para o prostíbulo por vontade própria: Cleonice (Giovanna Cordeiro), a neta da clariouvinte Mercedes (Fernanda Montenegro). Ambiciosa, a moça foi atrás de dinheiro e liberdade. Cansou-se da vida simples na casa da avó, que a controlava com pulso firme.
No bordel colorido da novela das 21h da Globo, as prostitutas demonstram ser mais felizes do que as senhoras de respeito da sociedade de Palmas. Lá, exercem poder sobre os homens e o controle da própria vida. Uma representação vista em outros folhetins, como na Casa da Luz Vermelha de ‘Tieta’ (1989/1990), do estabelecimento comandado por Rosa Palmeirão (Luiza Tomé) em ‘Porto dos Milagres’ (2001) e da mansão de Zenilda (Renata Sorrah) em ‘A Indomada’ (1997).
Apesar da rotina divertida, muitas das ‘meninas’ de Pedra Santa alimentam o sonho do casamento de princesa, para ter uma vida tradicional com marido, filhos, cachorros etc. Exemplo desse perfil é Leandra (Mayana Neiva), sócia do bordel. Ela escondeu sua verdadeira profissão da família e do noivo. Planejava ‘largar a vida’ para se tornar esposa e mãe. Acabou desmascarada.
Assim, entre o drama e a comédia, a prostituição tem espaço relevante em ‘O Outro Lado do Paraíso’. Na teledramaturgia, as quengas nunca saem de moda.
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