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Está proibido ser velho e ganhar salário alto na televisão

Sequência surpreendente de demissões no jornalismo da Globo espelha a crise no mercado e a frieza do mundo corporativo

30 nov 2021 - 11h00
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Renovação é um processo desejável – e inevitável – em qualquer área. Nas empresas, na política, no esporte, no universo artístico e, por que não, no telejornalismo. Mas o que se vê, hoje, na Globo, vai além de uma sucessão geracional planejada. Trata-se de descarte de veteranos em nome do custo-benefício.

 Isabela Assumpção, José Hamilton, Franciso José e Renato Machado: obrigado pelas grandes reportagens e boa sorte
Isabela Assumpção, José Hamilton, Franciso José e Renato Machado: obrigado pelas grandes reportagens e boa sorte
Foto: Memória Globo e Reprodução/TV

“Está velho? Ganha salário alto? Então chegou a hora da demissão. Obrigado por tudo, tchau.”

Às vezes, a dispensa acontece da maneira mais fria possível. Foi o caso de Isabela Assumpção, 72 anos, do ‘Globo Repórter’. Quarenta e um anos de emissora encerrados em uma ligação de celular de alguns minutos. Triste. Insensível. E pouco estratégico da parte o canal: o RH deveria presumir que a história vazaria e pegaria mal para a imagem do departamento e da TV.

Ah, não vamos nos iludir. É a dona Rede Globo. Lá não costumam se importar com o que os ‘de fora’ pensam e dizem...

A onda de não renovação de contratos e demissões atingiu outros ‘medalhões’, como são chamados os jornalistas velhos de guerra em atividade há 30, 40, 50 anos ou mais. Entre eles, o ex-âncora e ex-correspondente Renato Machado, 78, a lenda viva José Hamilton Ribeiro, 86, e Francisco José, 77, ícone do jornalismo no Nordeste. A necessidade de redução de custos (para o desejado aumento do lucro) explica os cortes surpreendentes.

A Globo é uma empresa privada, tem o direito de contratar e demitir quem quiser, quando quiser. A crítica em questão se baseia na maneira apressada como o processo tem sido conduzido. Fica a impressão de que está proibido ser velho e ganhar bem no canal – e que somente os mais novos e ‘baratos’ vão sobreviver a essa reformulação de pessoal.

Na verdade, a emissora carioca reflete o que acontece no mercado jornalístico. Pela sobrevivência do negócio, todas as empresas do ramo (de jornais a revistas, de portais a TVs, de rádios a produtoras de vídeo) buscam desesperadamente reduzir despesas, principalmente a da folha de funcionários.

Com isso, veteranos com salários maiores são trocados por profissionais jovens que topam ganhar bem menos. De um lado, as novas gerações conectadas à modernidade trazem dinamismo e nova visão ao ofício. Por outro, perde-se a experiência múltipla – da arte da reportagem, do testemunho histórico, da vida em si – dos calejados descartados.

Tempos estranhos. 

Quem trabalha em comunicação se aposenta mais tarde do que na maioria das outras categorias. O prazer de escrever, gravar, narrar, enfim, produzir notícia, faz o jornalista esticar a carreira o máximo possível. Por isso, para esses repórteres longevos dispensados pela Globo, é tão doloroso ter o vínculo abruptamente rompido e, de repente, se ver sem trabalho após tantas décadas dedicadas ao jornalismo.

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