Evangélica, presidente do SBT se cerca de religiosos na TV; e não há problema nisso
Daniela Abravanel Beyruti busca profissionais que valorizam a fé para assessorá-la a enfrentar fase desafiadora na TV
O coach Paulo Vieira, autor de best-sellers como ‘O Poder da Ação’ e ‘Criação de Riqueza’, já orientou algumas das filhas de Silvio Santos. O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, foi ao SBT e orou pela emissora.
O evangelista Deive Leonardo fez pregação ao vivo no programa ‘Chega Mais’. Na noite de Réveillon, o canal exibirá um show gospel sob o comando do pastor André Fernandes.
Os nomes citados são de evangélicos bem-sucedidos. Exemplos de empreendedores da fé. Todos têm a admiração da presidente do SBT, Daniela Abravanel Beyruti. Ela, que já comemorou aniversário numa igreja, segue os princípios dos Evangelhos.
Há poucos dias, a imprensa soube que o empresário Rinaldi Faria, também evangélico, foi contratado para ser consultor de audiência. A emissora enfrenta momento difícil no Ibope, com dificuldade de recuperar a vice-liderança perdida para a Record.
Como se não bastasse a desconfiança de sua capacidade de liderar a empresa por ser uma ‘nepo baby’, Daniela é alvo também do preconceito contra evangélicos. Declaradamente ou em sigilo, inúmeros jornalistas e executivos do audiovisual e do meio publicitário questionam a suposta interferência de sua religião nos negócios.
Talvez haja um componente machista nesta questão. O fundador da Globo, Roberto Marinho, e seus filhos herdeiros, nunca foram subestimados por sempre cultivar ótima relação com a cúpula da Igreja Católica do Rio. O próprio Silvio Santos sempre disse que o SBT era “uma casa judaica” e, por isso, não locava horário para igreja de qualquer denominação.
O que Daniela Abravanel Beyruti faz parece óbvio: cercar-se de pessoas de confiança, com pensamento semelhante ao dela, a fim de impulsionar a emissora deixada por seu pai. Será que o SBT pode se tornar um canal conservador? Sim, existe a possibilidade. Trata-se de uma empresa privada, cujos rumos são mudados ao gosto dos gestores, desde que respeitem as normas impostas pelo governo a uma concessão pública de TV.
Caso aconteça, aliás, o canal estaria indo ao encontro do perfil de brasileiro que mais cresce: os evangélicos devem ser maioria no País em 2032, segundo destacou ‘Veja’ a partir de estudo do demógrafo José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.
Até a Globo busca seduzir os crentes. Toda empresa de comunicação sabe que precisará ampliar o diálogo com essa multidão. Afinal, os grandes anunciantes querem vender seus produtos e serviços aos protestantes, pentecostais e neopentecostais. Ignorá-los será, literalmente, um mau negócio.
O maior temor de um canal de TV comercial excessivamente pautado por algum tipo de fé, seja qual for, é a tentativa de doutrinar o telespectador, explicitamente ou de maneira subliminar, e demonizar outras religiões. A responsabilidade ética e o bom senso são imprescindíveis.