Fora da Globo, Ângela Chaves ganha merecido protagonismo na Netflix
Sucesso de ‘Pedaço de Mim’ ressalta a ousadia do streaming enquanto a teledramaturgia se repete e irrita o público
Às vezes, a demissão é o melhor impulso a um profissional. O baque inicial pode se tornar uma grande virada. Aconteceu com Ângela Chaves. Dispensada da Globo no fim de 2021, após 25 anos no canal, a autora nunca recebeu tanta visibilidade e elogios como agora, na esteira da repercussão positiva da série ‘Pedaço de Mim’, da Netflix.
Antes à sombra de dramaturgos veteranos, atuando como colaboradora na maior parte das obras, ela experimenta o protagonismo fora da emissora onde participou do roteiro de sucessos como ‘Celebridade’ e ‘Páginas da Vida’.
Os últimos trabalhos nos Estúdios Globo foram a série ‘Os Dias Eram Assim’ e o remake de ‘Éramos Seis’. A onda de cortes devido à nova política de contratos na empresa da família Marinho interrompeu suas ideias para novas séries e novelas.
Assim como ocorre com atores demitidos da TV, os novelistas também encontram oportunidades nas plataformas de streaming. Ângela Chaves aplicou a ampla experiência no desenvolvimento da história de Liana (Juliana Paes), que engravida de gêmeos de pais diferentes.
Baseada em acontecimento verídico, a série oferece drama folhetinesco sem vergonha de manipular – e prender – as emoções de quem o assiste. Ponto positivo em momento monótono na teledramaturgia, com novelas incapazes de manter o entusiasmo do público após os primeiros capítulos.
Livre da longa fila de produções da Globo, onde um autor raramente consegue emplacar um trabalho logo na sequência de outro, Ângela Chaves já tem outra série pronta, baseada no romance ‘Véspera’, de Carla Madeira. Deve ir ao ar na plataforma Max.
“O sucesso de um é o sucesso de todos”, disse a autora sobre o novo mercado de trabalho fora da TV, ao conversar com a imprensa. “A maior quantidade de possibilidades para todo mundo é sempre bom.”
Ela ressaltou uma vantagem do streaming em relação às emissoras abertas: a liberdade para ousar em cenas e diálogos. Hoje, os criadores de novelas e séries da Globo, Record e SBT são reféns do politicamente correto e temem a implacável patrulha do cancelamento.