Globo comete erro grave com Regina Duarte e os noveleiros em tributo a autor
Emissora parece sectária e revanchista ao tentar reescrever história da própria dramaturgia sem uma de suas maiores atrizes
Regina Duarte fez três Helenas de Manoel Carlos. Teve colaboração imprescindível ao sucesso na carreira do autor. Apesar disso, não foi chamada para a edição da série ‘Tributo’ em homenagem a ele, exibida na sexta-feira (3). Apareceu apenas em trechos de cenas de novelas e de um depoimento antigo ao acervo da Globo.
As redes sociais reagiram com críticas e ironias à emissora. “Cara, como que faz um programa em homenagem a Maneco sem Regina Duarte?”, questionou no X (antigo Twitter) a usuária July Carneiro, que se define “de esquerda, lulista’. Até antibolsonaristas reconhecem a falha do canal.
Contaminada pelo apoio irrestrito ao ex-presidente de direita, a atriz se tornou ‘persona non grata’ na Globo, de onde saiu em fevereiro de 2020, após 50 anos, para a fugaz experiência como secretária de Cultura do governo. Com exceção de uma entrevista ao ‘Fantástico’, ela nunca mais foi convidada para nada na rede carioca. Nem mesmo para o especial dos 70 anos da telenovela no Brasil.
A Globo parece agir com desprezo pela atriz que ajudou sua dramaturgia a se tornar imbatível no país e uma das melhores do planeta. Suscita ainda a impressão de hostilidade gerada entre extremos do espectro político. Esse apagamento (mal) disfarçado da artista provoca um ruído desnecessário que afeta a imagem da emissora.
O canal não era obrigado a convidá-la para gravar um depoimento inédito (também não chamou Vera Fischer, outra Helena espetacular), porém, tal atitude configura um desrespeito à atriz, à história que ela e a TV construíram juntos, ao autor celebrado e ao público das novelas.
O ativismo ideológico de Regina Duarte – ainda que gravemente equivocado segundo o julgamento de parte do Brasil – não é mais importante do que sua contribuição à televisão. Desconsiderá-la não fará sumir a Helena de ‘História de Amor’, a Helena de ‘Por Amor’, a Helena de ‘Páginas da Vida’, a Simone de ‘Selva de Pedra’, a Porcina de ‘Roque Santeiro’, a Maria do Carmo de ‘Rainha da Sucata’ e tantas outras personagens que mexeram com nossas emoções e influenciaram a sociedade.
Sempre se dizendo autônoma e imparcial, a Globo precisa se colocar acima da sórdida cultura do cancelamento.