Globo depende de milionários autores de novelas para se manter líder no Ibope
Emissora busca recuperar o status e a audiência dos folhetins gastando menos
Aguinaldo Silva foi dispensado pela Globo em 2020. Silvio de Abreu deixou o canal no mesmo ano. Manoel Carlos e Benedito Ruy Barbosa se aposentaram. Gilberto Braga morreu.
A emissora que produz uma das melhores teledramaturgias do planeta – com novelas exibidas em mais de 100 países – não conta mais com a maioria dos autores que escreviam tramas das 21h dez anos atrás.
Alguns escritores promovidos ao horário mais nobre e rentável de folhetins tiveram estreias complicadas. Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari viram ‘A Lei do Amor’ ser rejeitada por público e crítica. Dizendo-se traumatizada, a veterana deixou o canal.
Manuela Dias fez um trabalho inovador em ‘Amor de Mãe’, porém, a produção ficou atrás das antecessoras no Ibope. Lícia Manzo recebeu elogios por ‘Um Lugar ao Sol’, mas a novela acabou sendo a menos vista da história da faixa das 9 da noite.
Após a recuperação positiva conseguida por ‘Pantanal’ (aumentou o índice em 35%), parte do público foi espantada por ‘Travessia’, de Gloria Perez (perda de 6 pontos na média do horário).
A ascensão do executivo Amauri Soares ao cargo de diretor-geral da Globo deve dar novo rumo às novelas. Ele tem o desafio de apostar em sinopses que se transformem em sucesso de faturamento e no Ibope. Ao mesmo tempo, enxugar o caro departamento.
A busca por economia não pode colocar em risco as produções que garantem as maiores receitas da emissora. Depois de dezenas de demissões de atores e jornalistas, a TV da família Marinho toma o máximo cuidado ao reformular a teledramaturgia. Trata-se da área mais sensível da empresa.
Autores de novelas estão entre os profissionais mais bem pagos da televisão. Até pouco tempo atrás, quando estavam com uma trama no ar, chegavam a ganhar mais de R$ 2 milhões por mês entre salário e participação no merchandising inserido no roteiro.
A partir da reestruturação financeira do Grupo Globo, iniciada em 2018 e intensificada recentemente, os novos contratos têm valores menores. Alguns autores foram dispensados. Poderão voltar com vínculo de curto prazo e rendimento mais baixo.
Entre os remanescentes, três talentos se destacam. Walcyr Carrasco é, no momento, o dramaturgo mais bem-sucedido da Globo e uma espécie de curinga. Suas tramas populares, como ‘Amor à Vida’ e ‘A Dona do Pedaço’, reverteram quedas de audiência.
Ele se tornou imprescindível para a Globo. Seu passe vale mais que ouro. Volta à tela com ‘Terra e Paixão’ em 8 de maio. A missão é elevar a faixa das 21h para a média de 30 pontos, ante os 24 de ‘Travessia’.
Dono do fenômeno ‘Avenida Brasil’, de 2012, João Emanuel Carneiro foi deslocado para o Globoplay. O que seria um rebaixamento na carreira gerou o maior êxito de ficção do streaming, ‘Todas as Flores’. O folhetim ocupará a programação noturna da TV no segundo semestre. Com status renovado, o autor mostra que a emissora precisa dele.
Prestigiado pela adaptação de ‘Pantanal’, Bruno Luperi atualiza outro novelão de seu avô, Benedito Ruy Barbosa. ‘Renascer’ rendeu 60 pontos de média em 1993. A nova versão, prevista para 2024, já suscita enorme expectativa na cúpula do canal. Investir em remakes é uma maneira de arriscar menos.