Globo é citada em crítica de Lira contra as big techs que hospedam fake news
Emissora que apoia o projeto de lei contra a desinformação na web não merece ser associada a empresas que lucram com mentiras
Na tensa sessão na Câmara dos Deputados na noite de terça-feira (2), o presidente da casa, Arthur Lira, estava visivelmente contrariado pela decisão da maioria dos líderes de adiar a votação do PL das Fake News.
Diante de um tumulto no plenário, chegou a reprovar o comportamento dos colegas parlamentares. “Ainda vou ver o dia em que esta Câmara vai aprender a se comportar”, disse.
Minutos depois, Lira desabafou contra a ação predatória de alguns gigantes de tecnologia contrários às regras mais duras de controle de conteúdo na internet.
“Nós demos os 8 dias (desde a votação da urgência) para que as big techs fizessem o horror que fizeram com a Câmara Federal. E eu não vi aqui ninguém defender a Câmara Federal.” Foi aplaudido.
Na sequência, ele reafirmou seu apoio ao cerco contra as fake news. “Num País com o mínimo de seriedade, o Google, o Instagram, o Facebook, TikTok, todos os meios, a Rede Globo e quem quiser, todos os meios tinham que ser responsabilizados. Vamos ver como um site de pesquisa (o Google) pode ter um tratamento desonroso com esta Casa e ficar vendendo e votando coisas contra a população brasileira.”
(A íntegra dos discursos da sessão está disponível no site da Câmara. Assista a um trecho em vídeo no final do post.)
A Globo não merece ser incluída no grupo de empresas que se beneficiam financeiramente com mentiras e difamações na web.
Desde julho de 2018, o canal possui o serviço de checagem ‘Fato ou Fake’. Os telejornais da rede destacam verificações realizadas por jornalistas profissionais a fim de negar boatos criados e divulgados intencionalmente com interesses ideológicos ou políticos.
Importante apontar que a cúpula da Globo apoia o PL das Fak News, como sinaliza na cobertura política, não apenas por concordar com a responsabilização das plataformas digitais em relação aos conteúdos hospedados.
O canal está de olho também em outra parte do projeto de lei: a obrigatoriedade do pagamento pelo uso de material jornalístico produzido por empresas de comunicação. Google, Meta (Facebook) e outras big techs do gênero são contrários a essa regra que pode gerar custos bilionários.
Por sua ampla produção de material como maior companhia de mídia do País, a Globo receberia, provavelmente, a maior parcela da remuneração, assim como acontece na divisão das verbas publicitárias dos grandes anunciantes de TV.
Ainda que questionável, o interesse econômico da Globo nessa questão não deve ofuscar seu papel relevante contra a disseminação de fake news e a valiosa defesa do jornalismo profissional.
Arthur Lira mantém boa relação com a Globo. A inclusão da TV da família Marinho em sua fala não sinaliza uma crítica direta. O poderoso presidente da Câmara quis ressaltar que a lei, se aprovada, será para todos, e ninguém escapará da implicação jurídica de seus atos na internet.