Globo mostra que mulheres podem e querem ter mais prazer
Série do ‘Fantástico’ e café da manhã na Ana Maria Braga com itens eróticos prestam um serviço à população
No domingo à noite, a tradicional família brasileira está sentada diante da TV quando surge no ‘Fantástico’ uma matéria sobre prazer sexual feminino e o mercado de produtos eróticos.
Mulheres falam abertamente sobre clitóris, vibradores, a busca do orgasmo com um parceiro ou sozinha, a descoberta tardia da masturbação, a importância da autoestimulação para a saúde mental...
Os conservadores devem ter se afundado no sofá por raiva da abordagem tão direta e divertida de um tema proibido na maioria dos lares e também entre casais tradicionalistas. Vão dizer que gozar é coisa de comunista?
A série ‘Prazer, Renata’, comandada pela repórter Renata Ceribelli, é um serviço de utilidade pública. Demorou para a Globo oferecer um conteúdo tão valioso. Estamos quase em 2024 e o machismo ainda oprime as mulheres, inclusive em relação às potencialidades de seu corpo.
Mostrar brasileiras comuns, de diferentes perfis, manuseando vibradores e outros artigos de prazer íntimo ajuda a derrubar o tabu. Os episódios ressaltam que o orgasmo é um direito. Pode ser atingido individualmente ou na companhia de alguém.
Após a estreia da série, Ceribelli esteve no ‘Mais Você’. A jornalista e Ana Maria Braga exibiram às 11h da manhã brinquedinhos eróticos de estimulação vaginal. Uma pequena revolução já que esse assunto era proibido na TV até pouco tempo.
Segundo pesquisas, cerca de 70% das brasileiras fingem ou já fingiram orgasmo. São milhões de mulheres com vida sexual insatisfeita por variados motivos, a exemplo do parceiro insensível que só pensa no próprio prazer e não faz os estímulos necessários para que a companheira atinja o ápice na relação.
Para que a televisão aborde sem firulas o tema hoje, algumas mulheres tiveram de dar a cara a tapa no vídeo e na sociedade. Impossível não lembrar do choque nacional provocado pelo depoimento da babá Nelly da Conceição no final de um capítulo da novela ‘Páginas da Vida’, em 2006 (vídeo reproduzido abaixo).
Em linguagem popular, ela contou ter descoberto o orgasmo apenas aos 45 anos. “Botei na vitrola a música ‘Côncavo e Convexo’ (de Roberto Carlos) e fui dormir. Quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão e toda babada. Comentei com as amigas, elas disseram: ‘Poxa, você gozou!’. Aí é que vim saber o que era gozo. Moral da história: sou uma mulher de 68 anos, que homem pra mim não faz falta, eu mesma dou meu jeito.”
A repercussão foi tão forte que Nelly perdeu o emprego em uma casa de classe média alta. Acabou crucificada por dar voz às mulheres mais velhas que demoraram muito tempo para descobrir o que é um orgasmo.
Ainda bem que, nesses 17 anos, a liberdade feminina evoluiu ainda mais – e a TV está menos moralista. A série ‘Prazer, Renata’ já pode ser considerada uma das mais importantes produções de jornalismo deste ano. As sex shops e as 50 mil vendedoras porta a porta de produtos para o bem-estar sexual agradecem a forcinha da Globo.