Globo não para de demitir veteranos com alto salário. Vai sobrar alguém?
Abrir mão de tantos mestres da reportagem e figuras de credibilidade nas bancadas pode afetar a qualidade do jornalismo do canal
As recentes demissões de Ernesto Paglia, 63 anos, Edney Silvestre, 72, e Neide Duarte, 71, deixam o jornalismo da Globo mais pobre.
Pobre de textos precisos e poéticos. Pobre do olhar experiente sobre pessoas e fatos. Pobre do carisma de veteranos que se tornam íntimos do telespectador.
A saída dos três repórteres avoluma a lista de jornalistas mais velhos e com salário mais alto a deixar o canal líder em audiência.
Somente este ano, foram dispensados também Carlos Tramontina, 66 anos, e Chico Pinheiro, 69, dois dos apresentadores de telejornal mais antigos e populares da emissora.
Sobraram poucos craques do jornalismo com mais idade. Em São Paulo, a repórter Ananda Apple, de 61. No Rio, a apresentadora e comentarista de economia Míriam Leitão, 69. Na GloboNews, a âncora do ‘Conexão’ Leilane Neubarth, 64.
A política de redução de despesas fixas impulsionou a renovação do elenco do canal. A cúpula do grupo sinaliza não ver problema em abrir mão de jornalistas que se tornaram a cara do noticiário.
Tal movimento suscita uma dúvida: a qualidade do jornalismo da Globo continuará a mesma? Ok, jovens profissionais dão conta do ‘hard news’, a cobertura diária dos acontecimentos do momento.
Mas falta à maioria deles algumas preciosidades cultivadas pelos veteranos: vocabulário rico, bagagem cultural, capacidade analítica, referências de coberturas históricas, visão humanizada da arte da reportagem.
Em qualquer empresa e setor, a sucessão é natural. Cedo ou tarde, os velhos terão de ceder lugar aos jovens. Ou, ao menos, dividir espaço com eles.
Contudo, em televisão, e especialmente no jornalismo, a ausência de figuras icônicas empobrece não apenas os telejornais e demais programas informativos como também a formação prática de quem está no início do caminho, ainda imaturo com o microfone em mãos. Conviver com bons exemplos é imprescindível.
Pela interminável sequência de dispensas, parece que só vai sobrar um medalhão do telejornalismo na Globo: o intocável William Bonner. O âncora e editor-chefe do ‘Jornal Nacional’ completará 60 anos em 2023.