Globo vê ‘JN’ e novelas perderem audiência. Tá feliz, Naro?
Menor impacto da pandemia no jornalismo e cansaço com reprises de novelas explicam parte do problema com emissora inimiga do presidente
“Eu não assisto à Globo”, repete Jair Bolsonaro sempre que possível. A falta de audiência da parte do presidente – e de milhões de outros brasileiros – começa a fazer diferença no desempenho do todo-poderoso canal carioca.
Depois de atingir médias diárias acima de 35 pontos em 2020, no auge da cobertura da pandemia de covid-19, o Jornal Nacional viu 15% de seu público desaparecer. Os índices dos primeiros 6 meses deste ano são os piores desde 2015.
A média semestral foi de 25 pontos. Ainda que represente uma queda, esse número é maior do que a soma da audiência de RecordTV, SBT, Band e RedeTV! no horário de enfrentamento direto com o principal telejornal da Globo.
Por que o JN caiu? O fator principal é a perda de interesse de parte dos telespectadores em relação às notícias sobre a pandemia. Há certa normalização da crise sanitária no País após quase 1 ano e meio.
Poucos ainda se chocam com os números de casos, internações e mortes, ainda que sejam altos e mantenham o Brasil em condição crítica. Infelizmente, nos acostumados. Estamos ‘anestesiados’.
Muitos perderam o hábito de assistir ao Jornal Nacional todas as noites para se atualizar sobre os assuntos relacionados ao coronavírus por não enxergar mais gravidade na situação (especialmente com o avanço da vacinação) ou para evitar o cansaço mental provocado pela overdose de informações.
As novelas também contribuem para a crise de audiência da Globo. No ar desde 12 de abril, a edição especial de Império registra média de 26,9 pontos até agora, abaixo da expectativa. Exibida anteriormente, a segunda fase de Amor de Mãe marcou 31 pontos.
Antes, a reapresentação de A Força do Querer conseguiu 29,9 pontos. A primeira reprise às 21h nesse período de pandemia foi Fina Estampa, com a ótima média de 33,4 pontos. Na comparação com 1 ano atrás, a Globo perdeu cerca de 20% de audiência na faixa da teledramaturgia das 9 da noite, a mais nobre e lucrativa de sua programação.
O horário das 18h dá pequena colaboração para o desempenho inferior da emissora carioca. A edição especial do momento, de A Vida da Gente, está com média de 20 pontos. A antecessora, Flor do Caribe, terminou com 1 décimo a mais. A primeira reprise na pandemia, Novo Mundo, totalizou 19,4. A última trama inédita, Éramos Seis, encerrada em março de 2020, conseguiu 20,7 de média.
Na faixa das 19h, a segunda temporada de Salve-se Quem Puder, iniciada em março, está com 25 pontos, 2 a menos do que a fase inicial, exibida de janeiro a junho de 2020. A novela anterior, Bom Sucesso, encerrada antes da pandemia, foi um sucesso: média de 28,6 pontos.
Essa perda de telespectadores do JN e dos principais horários de novelas explica o momento ruim da Globo no Ibope. “Tá feliz, Naro?”, perguntaria o humorista Esse Menino, do meme da ‘Pifaizer’. Jair Bolsonaro não poupa críticas e xingamentos ao canal da família Marinho. “O Grupo Globo me persegue”, afirma.
Ironicamente, o ‘aquecimento’ da campanha presidencial de 2022, com vários pré-candidatos gerando notícias desde já, pode ajudar o ‘Jornal Nacional’ a se recuperar. A antecipação da cobertura eleitoral, inclusive com a divulgação de pesquisas de intenção de votos, é tudo o que a Globo precisa para tentar atrair o público que se afastou.
Em relação às novelas, a emissora espera que a retomada da exibição de produções inéditas – ‘Novos Tempos dos Imperador’ às 18h, em agosto; ‘Quanto Mais Vida Melhor’, às 19h, em novembro; e ‘Um Lugar ao Sol’ às 21h, também em novembro – traga de volta muitos telespectadores.