Globo vive pior crise de audiência nas novelas desde anos 70
Canal vê parte do público se desinteressar pelas tramas diárias e migrar para a internet e os serviços de streaming
Entre altos e baixos, a Globo produz uma das melhores teledramaturgias do planeta. Suas novelas já foram vendidas a mais de 150 países. Conseguem romper as diferenças culturais para entreter os mais diversos perfis de telespectadores.
Apesar da reconhecida qualidade, as principais produções de ficção do canal vivem a pior fase de audiência. Vários fatores contribuem para a crise, principalmente a concorrência dos canais pagos e serviços de streaming.
O hábito de navegar por horas em redes sociais, sites e canais de vídeos também tira relevante parcela de público de frente do aparelho de TV. Novos hábitos ‘matam’ a tradição de ficar inerte no sofá consumindo passivamente a programação oferecida pelas emissoras.
A recém-encerrada ‘Nos Tempos do Imperador’ marcou recorde negativo de audiência na faixa das novelas das 18h, criada em 1971. Marcou 16.9 pontos.
Os três piores resultados anteriores foram ‘Boogie Oogie’ (17.5 pontos em 2014/2015), ‘Espelho da Vida’ (17.8 pontos em 2018/2019) e ‘Meu Pedacinho de Chão’ (17.8 pontos em 2014).
O último grande sucesso, ‘Êta Mundo Bom!’, marcou média de 27 pontos em 2016. Ao comparar aquele momento com o atual, cerca de 2 milhões de pessoas deixaram de assistir à novela das 6 somente na Grande São Paulo.
A situação também é negativa às 19h. A produção no ar, ‘Quanto Mais Vida, Melhor’, registra média de 19.9 pontos, índice no mesmo patamar das problemáticas ‘Além do Horizonte’ (19.7 pontos em 2013/2014) e ‘Geração Brasil’ (19.4 pontos em 2014).
A Globo teve piores números nesse horário somente com novelas exibidas entre 1969 e 1970, no início da faixa dominada por produções voltadas à comédia romântica.
A faixa mais nobre também gera dor de cabeça ao canal carioca. ‘Um Lugar ao Sol’ caminha para se tornar a novela das 21h com audiência mais baixa de todos os tempos.
Está com média de 22.3 pontos, a pior desde ‘Rosa Rebelde’ (21.9 pontos), de 1969. O último folhetim a atingir a expectativa da emissora foi ‘A Dona do Pedaço’, com 35.9 pontos em 2019.
A novela atual atrai quase 3 milhões de telespectadores a menos na região metropolitana de SP do que aquela trama protagonizada por Juliana Paes (Maria da Paz) e Reynaldo Gianecchini (Regis).
Nunca antes, em seus 57 anos, a Globo sofreu retração simultânea tão grave nas três principais faixas de novelas. Mesmo baixos para o padrão do canal, os índices ainda garantem liderança folgada no ranking da Kantar Ibope.
Desde novembro de 2020, quando assumiu o cargo de diretor de Entretenimento da emissora, Ricardo Waddington busca renovar a teledramaturgia global.
O desafio tem sido dificultado pelos efeitos da pandemia e as restrições impostas pela reestruturação financeira no Grupo Globo. Há previsão de melhores resultados com a nova novela das 6, ‘Além da Ilusão’ (estreia nesta segunda, dia 7), e as próximas das 19h, ‘Cara & Coragem’ (no ar a partir de maio), e das 21h, ‘Pantanal’, marcada para começar em março.