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"Há uma situação patética. É muito triste", diz Adnet

Ator e humorista fala sobre o programa, isolamento e as lições que poderão ser deixadas por esse período

30 jun 2020 - 05h12
(atualizado às 08h11)
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No comando do Sinta-se em Casa, Marcelo Adnet tem feito sucesso com suas crônicas do dia a dia inspiradas em acontecimentos do Brasil e do mundo. As figuras políticas, como o presidente Bolsonaro, são os grandes trunfos do programa de humor, disponível no Globoplay e aberto para não assinantes, com episódios novos de segunda a sexta.

O humorista Marcelo Adnet.
O humorista Marcelo Adnet.
Foto: TV Globo / Reprodução / Estadão Conteúdo

As gravações são realizadas na casa do ator e humorista, no Rio, onde está confinado com a mulher, Patrícia Cardoso, e os sete bichos de estimação do casal, quatro gatos e três cachorros.

Para fazer a atração, ele conta com uma equipe bem reduzida. "Faço a concepção geral do produto, crio tudo: textos, personagens, situações, onde vou filmar, o figurino. A minha mulher, a Patrícia, grava com meu celular e me ajuda também nas caracterizações, figurinos, direção de arte." Remotamente, trabalham ainda editor e supervisora artística. "É só essa a equipe. Somos nós quatro."

Ao Estadão, Adnet fala sobre o programa, pandemia e as lições que poderão ser deixadas por esse período de isolamento:

O roteiro de 'Sinta-se em Casa' é muito alinhado aos noticiários, ao que está acontecendo no Brasil e no mundo. Como você seleciona o que vai ser destaque nessa sua crônica diária?

É uma questão de sentir a temperatura do dia, e quais são as pautas que mais mexem com as pessoas. Aí tem todo um exercício de transformar isso em humor. Uma notícia jornalística - e normalmente têm sido notícias bastante trágicas até -, como transformar isso em humor? Aí decido dentro de mim, comigo mesmo, o que acho que vai funcionar, e o que acho que dá pra fazer dentro de casa com o mínimo de qualidade.

E como surgiu a ideia do quadro 'Olimpíada dos Gatinhos'?

Assim que o programa começou, resgatei dois gatinhos, porque chegou para a gente um pedido para resgatar uma gata, mas ela também tinha um irmão com quem ela era grudada, eu não quis separar esses irmãozinhos. O Romarinho jogar bola, ele tem uma passada meio torta, e a Princesa, que é toda nobre, é mais quietinha, mais na dela. Eles são tão agitados que achei que faria o maior sentido transformar uma coisa tão simples em uma atracao de entretenimento sem forçar nada com eles. É muito fácil: eu simplesmento jogo uma bolinha ali, boto um elemento e eles logo interagem, correm, brincam, lutam, dormem.

Quais outros projetos que você está tocando neste isolamento?

Além do Sinta-se em Casa, também estou fazendo o podcast do Fora de Hora, que vai ao ar toda terça feira, e também estamos planejando uma volta da Escolinha, se vai ser um podcast ou se vai ser feito de casa, ou como vai ser. Estou compondo alguns poucos sambas-enredos, porque não estou conseguindo tempo mais para compor como eu gostaria. Vou ser carnevalesco da Botafogo Samba Clube, que é uma escola de samba do Grupo Especial da Intendente de Magalhães, o que corresponderia à terceira divisão do carnaval do Rio. Ganhei a disputa de samba do ano passado na escola, tive um grande contato com todos os integrantes e este ano veio o convite para ser carnavalesco. Foi uma sugestão, inclusive, do pessoal da São Clemente, que foi a outra escola com a qual ganhei samba no ano passado e foi a primeira vez que coloquei samba em escola de samba. O ano passado foi muito importante para mim pelo samba e este ano a vida de sambista também continua.

Você continua a ser atacado nas redes sociais? Consegue identificar o perfil das pessoas que te atacam?

Sim, continuo. Praticamente 99,9%, sem exagero, são de fiéis apoiadores do presidente, chateados com alguma piada minha ou com alguma postura minha. Então, não é nada que me surpreenda, não.

O que acha da decisão de governadores de iniciar a flexibilização do isolamento no Brasil?

Quando você tem uma luta contra os números, uma luta contra a divulgação correta dos números, uma luta contra a informação, você dificulta todo o processo de tomada de decisão. Essa insistência em negar a pandemia nos levou a um lugar de cegueira, porque não sabemos de fato o que está acontecendo, e é uma vergonha internancional, de o Brasil estar com números que estão sempre liderando, de uma forma negativa, a pandemia. Então, acho que é uma decisão que é temerosa, mas entendo que boa parte da populacao precise sair para trabalhar, para desenvolver suas atividades, para salvar seus negócios, salvar suas vidas. Claro que tem que ter essa consideração, mas, ao mesmo tempo, como a gente fechou os olhos para pandemia e fez campanha contra o reconhecimento da pandemia, partindo do governo federal, isso nos atrasou muito e nos colocou nessa situação muito complicada de agora. Vou esperar que dê tudo certo, mas é tudo muito temerário.

Como você acha que o governo federal deveria se posicionar em relação à crise do coronavírus?

Acho que deveria ter assumido a pandemia, dizer 'estamos em uma pandemia' o quanto antes possível, deveria o quanto antes ter dedicado algumas verbas para instruir a população sobre o uso de máscaras, uso de álcool gel. Não se fez nada. Deveria ter um plano para dar máscaras e álcool gel para a população carente, para quem está abaixo da linha da pobreza, informar as pessoas. Informar é o basico. Ficou uma guerra entre a imprensa, que informava, e o governo, que queria desinformar o tempo todo. Uma situação absolutamente patética, de pessoas negando, desprezando a pandemia. É tudo muito triste.

Quais lições você acha que essa pandemia deixará?

Apesar de ser um desastre, a pandemia é também uma oportunidade única de todos nós termos de nos desconectar de tudo, e estabelecer uma vida nova. Talvez alguns erros que cometêssemos no passado não vamos voltar a cometê-los. Acho que vamos ser mais cuidadosos com a higiene, temos tudo para sermos mais altruístas e fazer que a sociedade civil seja capaz de fazer campanhas para apoiar causas, pessoas e comunidades. E muitas reuniões inúteis podem deixar de acontecer. Acho que a gente tem que saber também onde acelerar e onde desacelerar.

Estadão
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