Hugo Bonemer: admirável coragem de um ator que se assume gay
Ser honesto consigo mesmo e com o público é raro em tempos de assustadora intolerância
“A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo”, escreveu a romancista francesa Anaïs Nin, referência do feminismo na literatura.
Jovem ator com carreira em ascensão, Hugo Bonemer expandiu-se muito ao verbalizar poucas e reveladoras palavras.
Numa entrevista ao ‘TV Fama’, da RedeTV!, foi questionado a respeito de sua vida amorosa – pergunta recorrente a qualquer famoso.
Ao confirmar a existência de um relacionamento, ouviu do repórter: “Ela é do meio artístico?” Sem titubear, Hugo o corrigiu: “É ele, é um ator”.
Em tempos de intolerância generalizada, capaz de cercear a liberdade de expressão e suscitar medo, a espontaneidade do ator surpreende.
Assim como chama atenção a coragem de assumir quem é, sem rodeios, sem eufemismos, sem máscara.
Não é todo dia que um galã de TV, com fãs que o têm como um príncipe encantado, comenta de maneira tão sincera sobre sua homossexualidade.
No meio artístico, há uma abissal diferença entre ser gay e assumir-se gay.
A maioria daqueles que o são prefere o silêncio, por temer as inevitáveis consequências numa sociedade ainda tão homofóbica.
Em muitos casos, a parte conservadora do público finge não saber pois assim não se sente obrigada a rejeitar. Um comportamento hipócrita.
Ao oferecer a cara a tapa, Hugo Bonemer dá um recado semelhante ao da canção ‘I Am What I Am’, eternizada na voz de Gloria Gaynor.
‘A vida não vale nada / Até que você possa dizer ‘eu sou o que eu sou’.
Outro trecho diz: ‘Eu sou o que eu sou / E o que eu sou não precisa de desculpas’.
Procurado pelo blog, o ator preferiu não ser entrevistado sobre o tema. Enviou uma mensagem autoexplicativa.
“Falar sobre o ato será sempre menos importante do que o ato em si, especialmente no que se refere a tocar o coração das pessoas que limitam as outras e as obrigam a viver vidas infelizes, conformadas com a mentira. O fato de falar a verdade já é significativo por si só.”
Para o filósofo francês Michel Foucault, o “desejo de ser livre” nos ajuda a enfrentar “nossos monstros secretos”.
E somente quando os derrotamos podemos enfim “nos afirmar enquanto identidades” e “enquanto força criativa”.
Ao viver sua verdade, Hugo Bonemer demonstra usufruir de uma liberdade rara e valiosa.
Feliz de quem, como ele, não precisa criar um personagem para se esconder de si mesmo.
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