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Ivana representa filhos que se opõem à idealização dos pais

Personagem expõe o conflito entre a expectativa e a realidade dentro das famílias

10 jun 2017 - 15h36
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Pai e mãe sonham com o filho perfeito. Projetam nele seus sonhos e, em muitos casos, a chance de redenção de frustrações. Mas quase sempre são surpreendidos pelo imponderável.

Afinal, filhos têm vida, personalidade e desejos próprios – e poucos aceitam abdicar da individualidade para aderir ao estereótipo criado na imaginação dos pais.

Autodescobrindo-se trans, Ivana enfrenta a pressão de ser diferente do que foi projetado por sua mãe
Autodescobrindo-se trans, Ivana enfrenta a pressão de ser diferente do que foi projetado por sua mãe
Foto: Maurício Fidalgo/TV Globo

Em ‘A Força do Querer’, Ivana, papel de Carol Duarte, enfrenta duas pressões. A primeira é compreender realmente quem é. A jovem vive a fase inicial da autodescoberta da transexualidade.

A segunda tormenta vem da mãe, Joyce, personagem de Maria Fernanda Cândido. A socialite preparou a filha para ser sua cópia fiel: linda, feminina, elegante, sofisticada, desejada pelos homens, a esposa ideal de um homem bem-sucedido.

Mas o destino e a genética se sobrepuseram ao seu projeto fantasioso. A filha ‘boneca’, que era capa de revistas na infância, se tornou uma mulher confusa, sem vaidade, com conflito de gênero – “desencaixada”, na definição da própria Ivana.

No capítulo de sexta-feira (9), mãe e filha tiveram uma cena especial, marcada por verdades incômodas lançadas por ambas as partes.

De um lado, Joyce manifestou inconformismo por Ivana ser tão diferente do que ela imaginou; do outro, a moça ressaltou o desejo de ser autêntica, portanto, diferente do padrão determinado pela mãe.

Ainda que a jovem tenha a condição trans como base dramatúrgica, acaba sendo representante de milhões de adolescentes e jovens em situações diferentes, porém igualmente em conflito com a idealização feita pelos pais.

Ivana simboliza o filho que não aceita a imposição de ter uma profissão convencional; a filha que tem ideologias opostas às da família; o filho que insiste num casamento desaprovado pelos pais; e circunstâncias afins.

Com delicadeza, bom senso e exatidão, a autora Gloria Perez joga luz sobre um problema presente em quase todos os lares: a difícil convergência entre as expectativas de pais e mães e as escolhas de seus filhos.

Uma novela, como se vê em ‘A Força do Querer’, pode ter relevância social ao promover um debate tão necessário e, ao mesmo tempo, tão negligenciado no dia a dia da família brasileira.

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