Jabor tinha carta branca na Globo para criticar tudo e todos
Cineasta fez história com crônicas ácidas no ‘Jornal da Globo’ e chegou a analisar a sexualidade de Bolsonaro
A morte de Arnaldo Jabor, aos 81 anos, por complicações de um AVC, encerra um capítulo importante no jornalismo da Globo. Ele era o único comentarista generalista da emissora – e com total liberdade para dizer o que quisesse, doesse a quem doesse.
Estreou no ‘Jornal da Globo’ em 1991. Na época, os veteranos Paulo Francis (1930-1997) e Joelmir Beting (1936-2012) também tinham participação fixa na coluna de opinião do telejornal da noite.
Inicialmente, Jabor falava por 1 minuto, três vezes por semana, principalmente a respeito de política. Mas, ao longo dos anos, sua visão apurada e cáustica a respeito do mundo explorou outros temas.
Criticava a economia, o comportamento de homens poderosos, as aberrações da sociedade, a banalização da cultura, os ataques às liberdades individuais e coletivas.
Seu texto era irreverente e, ao mesmo tempo, cheio de referências históricas. Jabor era um polemista nato. Não temia desagradar, aliás, fazia questão de incomodar.
O telejornalismo precisa de mais profissionais assim, que vão além da notícia. Mentes que interpretem o mundo e as pessoas e ofereceram versões menos óbvias e monótonas da realidade.
Ousado, ele chegou a refletir, em participação no ‘JG’ em fevereiro de 2020, a respeito da vida sexual de Jair Bolsonaro. “É muita estranha a sua fixação em atacar a homossexualidade”, disse. “Há uma sexualidade torta no Executivo.”
Cineasta premiado, Arnaldo Jabor era também um inspirado frasista. Uma de suas pérolas: “O que você procura pode ser impossível de achar, então, procure algo que você pode achar e seja feliz ao invés de passar a vida inteira procurando algo indefectível que você nunca vai encontrar”.