‘JN’ exibe 7 minutos arrasadores contra Bolsonaro
Telejornal explora depoimentos dramáticos de parentes de mortos pela covid-19 e destaca a exigência de pedido de desculpas do presidente
Desta vez, as críticas não saíram da boca dos âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos. Foram cidadãos anônimos, enlutados, que contestaram o negacionismo e a falta de solidariedade de Jair Bolsonaro.
Na segunda-feira (18), o ‘Jornal Nacional’ dedicou 7 minutos aos “depoimentos emocionantes de brasileiros que perderam parentes na pandemia”. Eles foram ouvidos no plenário da CPI da Covid, em Brasília.
“Emocionados, cobraram justiça e criticam a postura do governo federal”, anunciou o repórter Júlio Mosquéra. Foram ao ar trechos de falas de 5 familiares de mortos pelo coronavírus. O presidente foi alvo de contestações dramáticas.
“Quando a gente vê um presidente da República imitando uma pessoa com falta de ar, para nós, é muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, além de todo o mal que ele já fez, ele não faria isso”, afirmou Kátia Castilho dos Santos, que perdeu o pai e a mãe. “O sangue dessas mais de 600 mil vítimas escorre nas mãos de cada um que subestimou esse vírus.”
Em lágrimas pela morte do filho de 25 anos, Márcio Antônio Silva verbalizou sua dor diante dos deputados e das câmeras. “Três dias depois de enterrar meu filho... eu ouvi aquela fatídica frase: ‘E daí?’... Eu escutei lá no meu coração: ‘E daí que seu filho morreu?’ Nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade do País, porque não é questão política, se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas, de pessoas”, desabafou. “A nossa dor não é ‘mimimi’, nós não somos palhaços.”
A frase exata dita por Bolsonaro em 28 de abril do ano passado, na portaria do Palácio da Alvorada, a respeito do número crescente de vítimas fatais da covid-19 no Brasil, foi: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”. Messias é o nome do meio do presidente.
A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto não se manifestou, de acordo com o informado pela âncora Ana Luíza Guimarães, que ocupava o lugar de Renata Vasconcellos na bancada.
O que se viu ontem foi a edição do ‘JN’ mais potencialmente arrasadora contra a popularidade do presidente desde 8 de agosto do ano passado, quando o telejornal fez um especial com duração de 1h20 no dia em que o Brasil contabilizou 100 mil mortos na pandemia.
Na ocasião, Bonner e Renata fizeram críticas e cobranças diretas a Bolsonaro. “As ações dos governantes precisam ter como objetivo diminuir o risco de a população ficar doente. E não somos nós que estamos dizendo isso. É a Constituição brasileira que todas as autoridades juraram respeitar”, disse o jornalista.
“E a pergunta que se põe é: o presidente da República cumpriu esse dever?”, questionou a apresentadora. “Mais cedo ou mais tarde, o Brasil vai precisar de resposta. É assim nas democracias e repúblicas: todos temos direitos e deveres, e onde ninguém está acima da lei.”
Nos últimos 6 meses, o telejornalismo tem acompanhado diariamente os trabalhos da CPI da Covid. A maioria das sessões de depoimentos foi transmitida ao vivo por GloboNews, CNN Brasil e Band News, e ganhou visibilidade valiosa em todos os telejornais noturnos. Comentaristas de política dedicaram centenas de horas a análises e debates sobre a possível responsabilização de Jair Bolsonaro no relatório a ser apresentado.
Com raras entrevistas à TV, o presidente preferiu se defender – e debochar dos parlamentares da comissão – em suas lives de quinta-feira exibidas simultaneamente no YouTube e nas redes sociais.