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José de Abreu conta que fez seu primeiro teste de elenco para 'Joia Rara'

20 dez 2013 - 09h20
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<p>Jos&eacute; de Abreu&nbsp;j&aacute; estrelou mais de 45 produ&ccedil;&otilde;es na TV</p>
José de Abreu já estrelou mais de 45 produções na TV
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Reprodução

Em 33 anos de carreira na televisão, José de Abreu se acostumou a receber convites para todas as produções em que atuou. Pelo menos, até agora. É que Ernest, vilão que interpreta em Joia Rara, lhe trouxe uma situação inusitada. Pela primeira vez, o ator se submeteu a um teste de elenco - com direito a um mês de espera pela resposta.

A diretora geral Amora Mautner e o diretor de núcleo Ricardo Waddington chegaram a pensar que poderia ser muito cedo para escalá-lo para mais um vilão. Afinal, em seu último trabalho na TV, José de Abreu havia se destacado na pele do asqueroso Nilo de Avenida Brasil, também dirigida pela mesma equipe.

Mas, ao conhecer o perfil do personagem, o ator insistiu e pediu para fazer. Conseguiu agendar um teste para que fosse avaliado o entrosamento em cena com Bruno Gagliasso, Carmo Dalla Vecchia e Bianca Bin, que vivem Franz – primogênito de Ernest –, Manfred e Amélia, respectivamente. "Eu corri atrás desse personagem, pedi a Amora para fazer teste porque achava que ia ser um grande trunfo mostrar para o público que eu podia fazer aquele bêbado lixeiro e podia também fazer um aristocrata chique", explica.

Foi por engajamento político que José de Abreu se envolveu com o teatro. Quando estudava Direito na PUC/SP, resolveu assistir a um ensaio do Tuca – Teatro da Universidade Católica – e foi chamado para ajudar na produção. Até que entrou em cena para substituir um ator que havia faltado e acabou virando o protagonista do espetáculo. "O Tuca era um grupo de teatro político. Nunca tinha visto teatro na minha vida, eu era muito caipira", recorda.

Mas, envolvido com a militância política, acabou se exilando na Europa depois de dar apoio logístico à VAR-Palmares – organização política armada brasileira de extrema esquerda – e levar o dinheiro do cofre do Ademar de Barros do Rio de Janeiro para São Paulo. "Aí, a coisa começou a pesar. Era melhor ir embora senão você ia preso", conta ele, que chegou a ser detido no Congresso da UNE, em 1968, durante três meses. De volta ao Brasil, foi morar em Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde deu aulas de teatro.

A estreia na TV aconteceu em Três Marias, exibida pela Globo em 1980. Desde então, José de Abreu não fica fora do ar por intervalos muito grandes. "Gosto demais de fazer novela. É muito bom envelhecer fazendo novela porque é um exercício. Decorar texto é a melhor coisa que se faz para o cérebro não dançar. É exercício que se faz para velho", constata, bem-humorado, aos 67 anos.

Seu último personagem, o Nilo de Avenida Brasil, exibida em 2012, teve uma grande repercussão. Como o público tem reagido ao Ernest de Joia Rara?

José de Abreu - A pesquisa que a Globo fez deu que o público gosta muito do personagem, embora seja o vilão. Acho que o público de novela brasileira já sabe dividir personagem de ator. Isso ficou claro na pesquisa porque as pessoas falam do ator, comparam meu trabalho com o Nilo. Gostam dessa coisa do Ernest ser chique, bem educado, com bons modos, apesar de ser grosso.

Em sua opinião, por que os vilões costumam cair no gosto popular?

José de Abreu - Acho que os vilões criam uma empatia com o público. Talvez o público jogue nos vilões o lado mau que todo mundo tem. Quer dizer, você vê o vilão fazendo uma maldade e isso satisfaz o seu lado mau sem você ter de fazer alguma coisa. Eu costumo dizer que isso é muito bom na minha vida pessoal porque não preciso fazer vilania, eu já faço na novela.

Na trama, Ernest prejudica a vida de muitas pessoas. E, ao mesmo tempo, demonstra uma personalidade carinhosa ao lado da neta, Pérola (Mel Maia). Como equilibrar a vilania do personagem com esse lado mais amoroso?

José de Abreu - Eu procuro fazer com todos os personagens uma coisa que aprendi no teatro, que é criar uma vida real, criar um ser humano crível, em quem as pessoas acreditem. Ninguém é uma coisa só. E é muito fácil, é bem crível que uma pessoa se apaixone pela neta, filha de seu primogênito, que ele ama mais do que tudo na vida. E mais ainda uma menina que, embora ele, Ernest, não saiba ou nem queira saber, tem uma sensibilidade, um astral diferente. Ele pode não entender, mas ela tem. E a função da relação dos dois é ela mudá-lo.

A direção da novela chegou a indicar fontes de referência para a criação de seu personagem?

José de Abreu - A Amora me pediu para ver House of Cards. É uma série do Netflix genial sobre política em que Kevin Spacey tenta um tipo de interpretação em que representa de uma maneira muito fria. Mas o personagem tem uma coisa diferente que talvez um dia a gente consiga fazer: ele fala com a câmara. Você vai ficando cúmplice e ele faz os maiores absurdos. É um vilão único. E a Amora queria que eu visse para que o Ernest fizesse vilanias sem se envolver com elas. Meu personagem fica com raiva, bate na mesa. Mas, na hora de fazer as coisas, é frio, como a gente imagina que seja um suíço preciso como um relógio.

<p>Jos&eacute; de Abreu</p>
José de Abreu
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Reprodução
E você fez algum estudo específico para o Ernest por conta própria?

José de Abreu - Fui para Suíça. Aí, é coisa de viagem de ator. Já começo a estudar, leio tudo sobre joalheria, história da joia. Ainda mais que a novela se chama Joia Rara e o Ernest é um joalheiro. A joia, para ele, é a Pérola, ela tem nome de joia. Pérola é a única que não é uma pedra, não é um mineral, vem dentro da ostra. A pérola é uma joia rara. Cheguei em uma cidade da Suíça e descobri que naquela região tudo que é bom se chama Alpen Pearl, que significa Pérola dos Alpes: o melhor restaurante, a melhor cerveja, o melhor hotel. Liguei para as autoras, contei isso e falei: "chama a menina de Alpen Pearl". Só por essa descoberta já valia ter ido na Suíça porque cria uma verdade interna que é demais. O resto eu preparo. Claro que tenho uma técnica de 45 anos de profissão, aprendi a construir um personagem.

Por que esse processo minucioso é tão importante para o resultado que você apresenta em cena?

José de Abreu -

 Às vezes, estou decorando um texto, esperando para gravar ou até gravando mesmo, vem uma imagem na minha cabeça. Outro dia, o Ernest estava falando para Gertrude (Ana Lúcia Torre) que a firma vai quebrar, a Houser Fundição, uma empresa que o avô dele fundou. E na hora que eu estava falando, vi a Suíça. Isso dá verdade para o personagem. Mas não tem como medir. É uma coisa que vai na sensibilidade do espectador e vai naquela zona artística que a gente não sabe como medir. Você enche o espírito de informações do papel, junta tudo, bota sua emoção. Eu gosto da composição. 80% de uma possível cultura que eu tenha, de conhecimento da vida vêm da pesquisa que faço para meus personagens. Porque é o estudo mais gostoso que tem.

Você veio de um trabalho também dirigido por Amora Mautner, com quem já trabalhou outras vezes. Qual é a vantagem de repetir esta parceria?

José de Abreu - Eu adoro ser dirigido. Adoro que o diretor me fale o que fazer e a Amora gosta disso. E ela ficou impressionada como eu faço o que ela pede e disse que parece que eu tenho botão. E eu gosto muito do jeito dela. A Amora tem uma faísca diferente. Olha, vou falar uma coisa, eu adoro ir para o Projac, adoro o dia a dia de gravações e adoro representar, mas ela despertou uma faiscazinha que acho que estava meio adormecida.

Como assim?

José de Abreu -

 De me tirar da zona de conforto. E isso desde a primeira reunião. Ela tirou todos os meus truques, que naturalmente você pega. Como, por exemplo, pensar no texto, dar uma pausa para pensar na fala porque decorei mal. E até esse decorar mal deixa você em um estado de apreensão que te tira da zona de conforto. Mas eu aprendi com a Amora o seguinte: tenho de estar com o texto na ponta da língua porque ela me desafia o tempo inteiro. E não tem pausa. Ernest Houser não tem pausa, "time is money" (tempo é dinheiro).

Você costuma mudar bastante de visual para os personagens que interpreta – para o Pandit, de Caminho das Índias, raspou a cabeça e, para o Nilo, de Avenida Brasil, cultivou uma barba grande. Como foi decidida a caracterização de Ernest?

José de Abreu -

 Eu provoquei. A Amora tinha mandado eu raspar tudo. Aí, convenci a Marie Salles, que faz o figurino e o visual da gente, e o Alê de Souza a testarem a roupa com bigode e cavanhaque porque eu achava que ia dar uma coisa boa de época. O cavanhaque dava um ar de seriedade. A Amora não queria por causa do Nilo, que era barbudo. Mas eu queria porque o Mundo chama o Ernest de bode velho o tempo inteiro e bode velho tem de ter cavanhaque. Alguém quando escreveu aquele bode velho viu o Ernest de cavanhaque.

Nos últimos anos, você se destacou na pele de personagens secundários. Até que ponto o tamanho do papel que você interpreta é importante?

José de Abreu - É muito importante. Ator tem um ego imenso. Quanto maior, melhor, sempre. A gente pode ser hipócrita e mentir, dizer: "Não, para mim, tanto faz, todo papel é grande". É mentira. Quanto mais fala tem, melhor. Com o Nilo, eu ganhei todos os prêmios, inclusive de melhor ator e não coadjuvante. O Cláudio Marzo me falou uma vez que a pior hora para um ator é quando ele recebe o bloco de capítulos e fala assim: "esse desgraçado não escreve para mim" ou "esse desgraçado quer me matar de trabalhar". É óbvio que é mais gostoso ser protagonista do que coadjuvante. Mas, sem dúvida, o Nilo era um dos melhores papéis da novela, se não o melhor. Da minha carreira também.

O que você avalia antes de aceitar um papel?

José de Abreu - Em novela, não dá para saber do papel. Em cinema e teatro, dá. Mas, em novela, eu vou muito mais pelo que o diretor me fala. Imagina o Nilo. A única coisa que eu sabia era que ele morava em um lixão e o Ricardo Waddington falou: "pensa no inferno de Dante. É o último andar". Perguntei se eu não ia ler nada da sinopse e ele disse: "não. Você vai adorar, confia em mim". Aceitei e confiei nele. E se eu não confiasse? Ia me matar (risos).

Acredita que interpretar o Nilo – um personagem popular, apesar das características vilanescas – mudou a maneira que o público tem de enxergar seu trabalho?

José de Abreu -

 Acho que o Nilo me colocou em um nível de atuação aos olhos do público. Porque foi uma novela das oito, que já tem uma audiência muito grande, e foi uma novela de muito sucesso, com uma audiência ainda maior. E eu estava fazendo um personagem que me deu possibilidade de experimentar um monte de lados de um ser humano. No momento em que ele era mendigo, bêbado e morava no lixo, quer dizer, ele já estava no último degrau possível da sociedade humana, abaixo da linha de pobreza, ele podia fazer qualquer coisa. E isso me deu possibilidade de mostrar para um público imenso que eu podia fazer coisas diferentes do que estava fazendo até então. Algo que, normalmente, só em teatro você faz. O Nilo era muito teatral.

Com exceção do Ernest, você sempre foi convidado para os papéis que interpretou na TV. Qual deles percebeu que elevou seu patamar como ator?

José de Abreu -

 Foram dois seguidos. Em

Ti-Ti-Ti

 e

Anos Dourados

. Foi uma coisa muito semelhante com o que está acontecendo agora com Nilo e Ernest. Em

Ti-Ti-Ti

, era um personagem pobre, burro e era o escada do Victor Valentin, interpretado por Luis Gustavo. Mas ele criou uma personalidade muito forte e fazia as pessoas rirem. Eu entrava em elevador e daqui a pouco as pessoas estavam rindo da minha cara. E logo depois, fui fazer

Anos Dourados

. Era o protagonista da série mais aguardada da Globo. E eu sabia de tudo que acontecia porque a Malu também fazia

Ti-Ti-Ti

 e ela ia ser protagonista da tal da minissérie do Gilberto Braga. Tinha o elenco inteiro pronto e não tinha o Major Dorneles. Um dia, o Talma (Roberto, diretor) me ligou e falou: "você vai fazer o Major Dorneles. Sobe aqui para a sala do Boni". Ele só faltava me olhar os dentes. Porque era um grande investimento artístico. No começo, foi difícil o público acreditar no Major Dorneles.

Por quê?

José de Abreu -

 Por causa do Chico de

Ti-Ti-Ti

, ainda lembrava muito. Ele usava um bigodinho falso que eu colava, todo mundo via que eu colava. E, em

Anos Dourados

, o personagem tinha um bigodinho também e ficou um pouco parecido, sem barba e cabelo curto. Mas, logo em seguida, o personagem pegou e foi uma loucura.       

Cara da vilania

José de Abreu interpretou vários personagens de perfil "boa praça". Entre eles, o Victor de Corpo a Corpo, de 1984, e o Chico da versão original de Ti-Ti-Ti, de 1985, entre outros. Mas seus papéis mais carrascos acabaram se sobressaindo. O primeiro malvado de fato que viveu na TV foi Eriberto, em Porto dos Milagres, de 2001. "Ele passou a novela inteira tentando matar o personagem do Marcos Palmeira. Aquele matava rindo, foi o primeiro vilão brabo", lembra.

O bom desempenho na pele de vilões fez com que o ator fosse convidado para interpretar vários outros. E, certa vez, escutou de Herval Rossano, que dirigiu sua primeira novela – As Três Marias –, que tinha uma boa cara de galã rústico. "Perguntei o que aquilo queria dizer e ele disse: 'é para não chamar de vilão, que os atores não gostam'", revela, aos risos. 

Agenda cheia

A vida profissional de José de Abreu já está definida até 2016. Em 2014, ele deve atuar em uma minissérie e, em 2015, em uma novela. Além de entrar em cartaz em duas peças: uma adulta, depois da minissérie, e uma infantil, que tentará conciliar com o folhetim. Mas ainda é cedo para revelar os autores das produções. "Ainda não está totalmente fechado. Uma coisa eu posso adiantar: vou trabalhar com a Amora Mautner por um bom tempo", avisa. "Nós fizemos uma novela há 12 anos e brigamos a novela inteira. Agora, a gente entendeu. Somos geminianos nascidos no mesmo dia, somos iguais!", completa.  

Trajetória Televisiva

# As Três Marias (Globo, 1980) – Leonel

# Terras do Sem-Fim (Globo, 1981) – Pepe

# Sítio do Picapau Amarelo (Globo, 1981) - Pai da Rapunzel

# Caso Verdade (Globo, 1982) - Dr. Fernando (episódio "Disque CVV para Viver")

# Caso Verdade (Globo, 1983) - Márcio (episódio "Erro Médico")

# Parabéns pra Você (Globo, 1983) - Dr. Fontes

# Transas e Caretas (Globo, 1984) - Renato

# Anarquistas, Graças a Deus (Globo, 1984) - Angelim

# Caso Verdade (Globo, 1984) - Jonathan (episódio "Esperança")

# Sítio do Picapau Amarelo (Globo, 1984) - Barba Azul

# Corpo a Corpo (Globo, 1984) - Victor

# O Tempo e O Vento (Globo, 1985) - Juvenal

# Ti-Ti-Ti (Globo, 1985) - Chico

# Anos Dourados (Globo, 1986) - Dorneles

# O Outro (Globo, 1987) - Genésio

# Bebê a Bordo (Globo, 1988) - Tonhão

# O Primo Basílio (Globo, 1988) - Julião Zuzarte

# Kananga do Japão (Manchete, 1989) - Getúlio Vargas

# Tieta (Globo, 1989) - Mascate (primeira fase)

# Pantanal (Manchete, 1990) – Gustavo

# O Canto das Sereias (Manchete, 1990) - Ulisses

# Ana Raio e Zé Trovão (Manchete, 1991) - Investigador Roberto Dantas

# Na Rede de Intrigas (Manchete, 1991) - Artur

# Amazônia (Manchete, 1991) - Artur

# Perigosas Peruas (Globo, 1992) - Mr. Fry

# Renascer (Globo, 1993) - Egberto

# Sonho Meu (Globo, 1993) - Geraldo

# História de Amor (Globo, 1995) - Daniel Veloso

# A Indomada (Globo, 1997) - Delegado Motinha

# Corpo Dourado (Globo, 1998) - Renato

# Força de Um Desejo (Globo, 1999) - Pereira

# Vila Madalena (Globo, 1999) - Viriato

# A Muralha (Globo, 2000) - General Zé Batista

# Porto dos Milagres (Globo, 2001) - Eriberto Pereira

# Os Maias (Globo, 2001) - Steve Chandler

# Desejos de Mulher (Globo, 2002) - Bruno Vargas

# A Casa das Sete Mulheres (Globo, 2003) - Onofre Pires

# Malhação (Globo, 2003) - Paulo

# Senhora do Destino (Globo, 2004) - Josivaldo

# Mad Maria (Globo, 2005) - Lindolfo Macedo

# JK (Globo, 2006) - Carlos Lacerda

# Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (Globo, de 2007) - Coronel Firmino

# Desejo Proibido (Globo, 2007) - Chico

# Caminho das Índias (Globo, 2009) - Pandit

# Malhação ID" (Globo, 2009) - Diretor Livramento

# Insensato Coração (Globo, 2011) - Milton Castellani

# Avenida Brasil (Globo, 2012) - Nilo

# O Dentista Mascarado (Globo, 2013) - Gerôncio Passos Dias Durão

# Joia Rara (Globo, 2013) - Ernest Hauser

Fonte: TV Press
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