JP News completa 2 anos no ar com erros, perdas e uma valiosa vantagem
Canal de notícias fez piruetas para se distanciar do bolsonarismo após a ascensão de Lula e a fuga de anunciantes
A Jovem Pan News comemorou 2 anos no ar em 27 de outubro. Quem observa de fora vê um cenário de incertezas. Após ser associado ao bolsonarismo e dar espaço privilegiado aos discursos de direita e extrema-direita, o canal busca se recolocar no mercado após a derrota nas urnas de seu maior garoto-propaganda.
Apostar tudo no apoio a Jair Bolsonaro e na reeleição do então presidente foi o erro mais grave da TV sediada na Avenida Paulista. Outro equívoco: se deixar contaminar pelo radicalismo sem medir as consequências de uma possível reviravolta eleitoral.
Não há nada de errado em ser uma emissora à direita no espectro político. O problema está em pisotear princípios imprescindíveis do jornalismo profissional, como a isenção e o direito ao contraditório. Ao hastear bandeira por Bolsonaro, a JP News se tornou um canal panfletário dependente de uma ideologia. O tombo veio – e foi doloroso, especialmente no bolso.
Nesses 12 meses desde a vitória de Lula, a emissora perdeu seus apresentadores e comentaristas mais famosos. Entre eles, Augusto Nunes, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Caio Coppolla e Antônia Fontenelle. A maioria era declaradamente contra a esquerda em geral e demonizava o lulismo.
As demissões – impostas pela direção ou voluntárias de quem se sentiu traído pela emissora – foram interpretadas como uma tentativa de suavizar a linha editorial para não desagradar tanto ao novo governo e reverter a campanha de boicote promovida pelo movimento Sleeping Giants Brasil, responsável pela saída de dezenas de anunciantes.
O cavalo-de-pau ainda não surtiu efeito. O governo federal não demonstra interesse em grande interação com a emissora tampouco direcionar uma fatia generosa da verba milionária de propaganda oficial. A Jovem Pan News continua de castigo.
Estrela em ascensão e uma das poucas vozes da direita que haviam restado no canal, Tiago Pavinatto saiu em agosto após se negar a fazer uma retratação no ar. O canal ganhou um influente desafeto e concorrente no YouTube.
Surpreendentemente, a Jovem Pan News contratou Rafael Colombo, um âncora explicitamente progressista, para o ‘Jornal da Manhã’. Um aceno à pluralidade de ideias.
Os reveses, ainda que impactantes, não foram suficientes para prejudicar a emissora no ranking de audiência aferida pela empresa Kantar Ibope. No segmento de notícias da TV paga, continua na vice-liderança, à frente da concorrente direta CNN Brasil.
Essa vantagem dá ao canal uma relevância que não pode ser ignorada. No 2º turno da eleição presidencial de 2022, 58 milhões de brasileiros votaram em Jair Bolsonaro. Natural que alguns veículos de comunicação priorizem esse público.
A Jovem Pan News pode crescer exponencialmente se souber agradar ao telespectador conservador sem perder o compromisso com a verdade. O seu desafio é ser uma TV ligada à direita moderada defendendo os inegociáveis pilares da democracia.