Léa Garcia fez grande vilã, falsa princesa e emocionou o público em ‘O Clone’
Atriz morreu aos 90 anos no dia em que seria homenageada e deixa um legado imensurável
Léa Garcia morreu cercada de pessoas que a admiravam e prestes a ser aplaudida no Festival de Cinema de Gramado, o mais importante do Brasil. Isso serve de alento.
A maioria dos atores de sua geração partiu esquecida, longe dos palcos e estúdios. Muitos deles não receberam nenhuma homenagem.
Nascida no Rio, a atriz havia completado 90 anos em março. Receberia esta noite o Troféu Oscarito pela carreira. Estava em Gramado (RS) desde o fim de semana, aproveitando a programação do evento de cinema.
Em 1976, ela se tornou a mulher mais odiada do país ao interpretar Rosa em ‘Escrava Isaura’, fenômeno de audiência da Globo e uma das novelas mais exportadas pela emissora.
Entre os escravos da senzala, Rosa era uma vilã que tramava contra a mocinha da trama, vivida por Lucélia Santos, e traía os próprios irmãos pretos que buscavam a liberdade. Léa chegou a ser agredida na rua por telespectadores revoltados com a personagem.
O primeiro destaque de sua carreira na TV aconteceu logo na estreia, quando fez a empregada doméstica Dalva em ‘Assim na Terra como no Céu’. O patrão milionário Renatão (Jardel Filho) a levava para as festas dos ricos e famosos mentindo se tratar de uma princesa africana. Uma trama a respeito da difícil aceitação dos pretos na sociedade.
A atriz também se destacou como a professora de história Leila em ‘Marina’. O roteiro usava a personagem para contar ao público a história de Zumbi dos Palmares e os horrores da escravidão.
Em 2002, ela surgiu como Tia Lola em ‘O Clone’. Uma mulher doce que fazia o possível para ajudar a sobrinha Deusa (Adriana Lessa). Integrava o mesmo núcleo familiar de Ruth de Souza (Dona Mocinha), outro ícone negro do teatro, cinema e televisão.
Com mais de 70 anos de carreira, Léa Garcia conquistou o respeito da crítica e dos colegas de profissão. As novas gerações, infelizmente, desconhecem sua grandiosidade artística.
Conquistou vários prêmios e foi uma das poucas atrizes brasileiras indicadas à Melhor Interpretação Feminina no Festival de Cannes. Aconteceu por seu primeiro filme, ‘Orfeu’, de 1959. Não ganhou, mas a nomeação a tornou conhecida internacionalmente.
A atriz deixa três filhos, três netos, dois bisnetos, uma tataraneta e uma legião de admiradores.