Livro de Cristiana Lôbo sobre presidentes é lançado 2 anos após a morte dela
Vitimada por um câncer, saudosa comentarista da GloboNews ainda é referência na cobertura política e ética jornalística
“Ela nunca queria ser notícia, e sim transmitir as notícias”, disse à GloboNews Murilo Lôbo a respeito de sua mulher, Cristiana Lôbo, no lançamento do livro ‘O que vi dos Presidentes’.
O viúvo tem razão: a jornalista jamais se colocava no centro dos holofotes. Gostava de destacar a informação apurada nos bastidores e fazer a análise com sólido argumento, sempre discreta e elegante. Foi assim que se tornou a mestra de inúmeros colegas de telejornalismo.
Partiu antes de concluir a obra. As atualizações foram feitas pela amiga e também jornalista Diana Fernandes. O livro editado pela Planeta chega nas livrarias às vésperas do 2° aniversário da morte de Cristiana.
Após longa batalha contra um mieloma múltiplo, tipo de câncer das células da medula óssea, ela não resistiu a uma pneumonia. Tinha 64 anos. Deixou 2 filhos e 2 netos.
Em ‘O que vi...’, a veterana revela seu olhar sobre 8 presidentes da República que acompanhou de perto em Brasília: José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
A respeito de Lula, diz que a bem-sucedida versão comedida, de terno e gravata, era bem diferente do político visto na intimidade, quando “tomava cachaça, contava piadas e falava palavrões à vontade”.
Cristiana afirma que a alta popularidade deu ao petista “uma autoconfiança às vezes exacerbada”. Comenta o “deslumbramento” dele com o poder. “... foi seduzido pelo estilo de vida da burguesia quando assumiu o Palácio do Planalto.”
Ainda sobre o líder de esquerda, a jornalista relembra momentos de fúria com subordinados, cenas engraçadas em viagens ao exterior e a relação afetuosa com pessoas próximas, entre outras memórias como testemunha de décadas de história do país.
Na introdução do livro, a filha de Cristiana Lôbo, Bárbara, comenta as várias vezes em que a acompanhou nas conversas com políticos para que a mãe conseguisse ‘furos’ (informações exclusivas). O filho, Gustavo, ressalta a generosidade dela com os novatos do jornalismo, a quem tratava de maneira maternal.
Em seu depoimento, o viúvo, Murilo, com quem a jornalista foi casada por 41 anos, diz “ter o coração confortado pelas boas lembranças”. Sempre sorridente e acessível, tanto diante das câmeras quanto fora do ar, Cristiana Lôbo foi aquele tipo de pessoa insubstituível e inesquecível.