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Luis Ricardo lança biografia em que conta conselho de Silvio Santos; leia capítulo inédito

'Luis Ricardo - Muito Além do Palhaço Mais Famoso do Mundo' será lançado em São Paulo na próxima segunda-feira, 27, pelo apresentador que interpretou, por uma década, o Bozo

22 jan 2025 - 17h43
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O apresentador Luis Ricardo se tornou conhecido depois de dar corpo ao palhaço Bozo, personagem que por anos animou os pequenos telespectadores do SBT, emissora de Silvio Santos.

Luís Ricardo, que se tornou popular depois de interpretar o palhaço Bozo, agora se prepara para lançar sua biografia
Luís Ricardo, que se tornou popular depois de interpretar o palhaço Bozo, agora se prepara para lançar sua biografia
Foto: Instagram/@luisricardosbt / Estadão

Agora, ele se prepara para lançar a sua biografia, Luis Ricardo - Muito Além do Palhaço Mais Famoso do Mundo (Citadel). O livro, escrito pelo terapeuta William Sanches, reúne suas memórias, desde as origens em uma família de tradições circenses, até o estrelato no SBT, onde passou por atrações como Show de Calouros, Viva a Noite, Qual é a Música?, Tentação, Gol Show e, mais recentemente, os sorteios da Tele Sena e o Roda a Roda Jequiti.

Luis Ricardo - Muito Além do Palhaço Mais Famoso do Mundo será lançado na próxima segunda-feira, 27, às 19h, na Livraria Drummond (Av. Paulista, 2073, Conjunto Nacional, Loja 153 - Consolação - São Paulo/SP).

  • Editora: Citadel (192 págs.; R$ 69,90)

Confira abaixo um trecho do livro

"Durante os quase dez anos em que interpretou Bozo, Luis Ricardo apresentou o programa ao vivo. Como a atração era exibida de segunda a sexta, em dois turnos, alguns brincavam na época que a sigla SBT, na verdade, queria dizer Sistema Bozo de Televisão. Por sua experiência prévia no circo, o apresentador raramente ficava nervoso durante a transmissão, mesmo em início de carreira. Isso não significa, é claro, que estava livre de enfrentar algumas saias-justas ao vivo e a cores - como se dizia então, quando a TV colorida era ainda novidade nos lares brasileiros.

Um dos perrengues mais divertidos de que até hoje se lembra foi a vez em que entrou no ar sem o nariz do palhaço. "No começo, eu morava no circo com meus pais. Pegava o ônibus de madrugada até o estúdio, que ficava na Vila Guilherme (Zona Norte da capital paulista). Tinha de chegar por volta das seis da manhã para fazer a maquiagem", recorda-se Luis Ricardo. "Com o tempo, peguei a manha e passei a me maquiar sozinho. Mesmo assim, era muito puxado, porque eu ainda ajudava a minha família no circo à noite", completa.

Para descansar, ele removia a peruca e o nariz de palhaço a fim de tirar um cochilo no camarim, entre os turnos. E numa dessas entrou no ar só de peruca, sem o nariz… "Fiquei uns três minutos e meio gesticulando com as mãos na frente do nariz, até a hora do break (como se chamam os intervalos entre os programas de TV). Só tirava uma das mãos para atender o telefone. Enquanto isso, a equipe do outro lado da câmera morria de dar risada", conta. Mesmo com a chegada de outros atores para revezar o papel e facilitar o trabalho dos artistas, de vez em quando algum detalhe escapava do roteiro.

Como quando Gilberto Fernandes (que interpretava o Papai Papudo) insistiu em fazer uma esquete em que se vestia de indígena para enviar um sinal de fumaça a outra indígena pela qual estava apaixonado (no caso, Valentino Guzzo, que interpretava a Vovó Mafalda). Imitando os movimentos de tribos indígenas da América do Norte, que batiam um tapete sobre uma fogueira para criar os tais sinais, Gilberto (ou Gibe, como era conhecido pelos colegas) levou um saco de estopa com pó de carvão ao estúdio. "Ele começou a bater o saco no chão, e aquela poeira preta subiu e escureceu a tela. Obviamente não tinha detector de fumaça naquela época. O diretor desceu correndo do 'aquário' para saber o que estava acontecendo. Tivemos de cortar o programa e chamar o comercial, foi uma loucura", diverte-se Luis Ricardo.

Mas algumas das saias-justas não eram tão engraçadas assim. Pelo menos não a princípio. Um dos pontos altos do programa, as interações ao vivo com os telespectadores mirins por meio de jogos, acabou se tornando também um de seus pesadelos. "Atendi o telefone com a saudação de sempre: 'Alô, amiguinho, é o Bozo!'. E nada de resposta. Até que, lá pela quarta vez que repeti a frase, a criança falou: 'Vai tomar no c…'. Fiquei sem reação, não pude acreditar", conta Luis Ricardo. Após alguns segundos, que em um programa ao vivo parecia uma eternidade, ele voltou a si. "Apesar de toda a equipe ficar horrorizada, com a mão à boca, conseguimos contornar a situação. O sonoplasta logo cortou a ligação. E eu, mais calmo, retruquei: 'O quê? Na sua casa tem urubu?'", diz.

O problema é que os trotes começaram a ficar recorrentes. Não havia uma central telefônica para fazer algum tipo de triagem; as ligações eram conectadas diretamente ao telefone do programa. Como sempre fez antes de entrar no palco, Luis Ricardo pedia a Deus para colocar palavras em sua boca. E elas vieram, com uma dose de humor. "Comecei a usar rimas para disfarçar. Se alguma criança dizia 'Vai para a p. que pariu', eu respondia 'O quê? Uma ponte perto da sua casa caiu?', e assim por diante", relembra. A saída encontrada pela produção foi gravar o som de uma linha telefônica ocupada para incluir cada vez que Bozo recebia uma ligação "suspeita" - que o artista até hoje tem certeza de que eram de adolescentes, e não de crianças. Agora, se o telespectador resolvesse xingar no meio de um jogo, quando perdia um prêmio, por exemplo, aí era um Deus nos acuda…

Na raça

Atualmente a maioria dos programas, em quase todos os canais da TV aberta, é gravada. Já os canais de streaming surgiram com outro tipo de proposta de entretenimento, com foco na conveniência e na personalização - mas também, exceto por esportes e shows, raramente oferecem atrações ao vivo. De fato, os programas gravados permitem uma variedade maior de formatos, com mais tempo para criar e editar os conteúdos - o que influencia diretamente na qualidade da programação. Entretanto, Luis Ricardo sente saudade da espontaneidade do "quem sabe faz ao vivo", bordão criado pelo apresentador Fausto Silva, outro ícone da TV aberta no Brasil.

"A gente fazia TV na raça. Era mais simples, abria a câmera e começava o show. Quem era bom se garantia. Quem não era não durava muito", comenta. Não que ele seja contra as evoluções tecnológicas que transformaram o jeito de fazer televisão de lá para cá. "A era dos grandes apresentadores, que ficavam no ar por muitos anos, como Silvio Santos, Chacrinha, Faustão e tantos outros, terminou", acredita.

Ainda hoje, ele não se habituou a usar ponto eletrônico, dália, teleprompter… Para quem não está familiarizado com o jargão da TV, aqui vai a explicação. O primeiro é uma espécie de fone de ouvido que serve para o apresentador no palco se comunicar com o diretor. Já a dália se refere aos cartazes com as falas dos atores/apresentadores para relembrá-los caso alguém se esqueça de algum detalhe. O teleprompter, por sua vez, é o nome do equipamento acoplado às câmeras que exibe os textos a serem lidos pelos apresentadores, como nos telejornais. "O apresentador pode ler, sim, desde que passe o texto com o jeito dele", afirma.

Ele se recorda ainda de como a briga entre as emissoras antes do real time - ou tempo real, para usar o termo em português - dependia em parte da criatividade de toda a produção. Pois, até o final dos anos 1980, o instituto de pesquisa Ibope (hoje chamado Kantar Ibope Media) apresentava os dados consolidados da audiência somente no dia seguinte. "Eu amava quando o Silvio falava dos filmes que o SBT tinha comprado. Ele comentava algo como 'Amanhã vou exibir tal filme. É muito bom. Eu não vi, mas a Daniela, minha filha número 3, já viu e adorou. Mas não se preocupe, que só vou colocar o filme no ar depois que o capítulo da novela da Globo acabar'". No dia seguinte, era isso mesmo que ele fazia. No fim da novela, o Ibope da Globo caía, e o do SBT ia lá para cima", relembra.

Para Luis Ricardo, embora as produções estejam cada vez mais sofisticadas, por vezes até mesmo "enlatadas" demais, faz falta a naturalidade. "Na minha opinião, acho que ainda poderíamos fazer mais programas ao vivo. Por isso, gosto muito do Programa do Ratinho, que continua assim, mais humano", afirma. Entretanto, será que o público, principalmente o mais jovem, iria gostar? Ele não tem dúvida de que sim. "Se os erros de gravação fazem sucesso e os podcasts ao vivo bombam, é porque o povo quer autenticidade", acrescenta.

A TV evoluiu, com certeza. Mas segue sendo, como dizia o saudoso Clodovil, a lente da verdade.

Estadão
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