Lula se iguala a Bolsonaro ao alimentar telejornais com polêmicas evitáveis
Presidente tem sido criticado até por jornalistas progressistas incomodados com a sequência de manifestações problemáticas
Quando Lula venceu Bolsonaro no 2° turno da eleição, a maioria dos jornalistas de política respirou aliviada por se livrar da cobertura das declarações esdrúxulas do então presidente de direita.
Impossível esquecer o impacto e a repercussão de despautérios como “Não sou coveiro”, “País de maricas”, “Se tomar vacina e virar jacaré, problema seu”, “Caguei para a CPI”, “O voto do idiota é comprado com Bolsa Família”, “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, entre outras bizarrices.
Outra parte da imprensa demonstrou preocupação com a derrota do ‘capitão’, já que a ininterrupta verborragia bolsonarista garantia audiência e engajamento. A polêmica sempre atrai mais atenção do que notícia positiva.
Para surpresa geral, Lula tem oferecido conteúdo igualmente controverso em discursos improvisados, entrevistas e na live semanal. As frases equivocadas se acumulam.
Por enquanto, não há impacto na avaliação do governo, ainda estável. O pior efeito está nas análises dos comentaristas políticos da TV. Até jornalistas indisfarçavelmente de esquerda criticam o descontrole verbal de Lula.
Segundo eles, o presidente errou feio, por exemplo, quando citou um inimigo (“Eu falava: ‘Só vai estar bem quando eu foder esse Moro’”.), sobre a escravidão no Brasil (“Toda a desgraça que isso causou ao país causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação”), a respeito de pessoas com algum transtorno mental ou deficiência intelectual (“Desequilíbrio de parafuso”) e quando acusou os Estados Unidos e a União Europeia de “incentivar a guerra (na Ucrânia)”, entre outras falas contestadas que o obrigaram a se retratar.
Os telejornais das maiores emissoras dão destaque ao palavrório do presidente. Nos canais pagos de notícias, onde há mais tempo para análise, os analistas afirmam haver grande problema de comunicação no governo. Informam que Lula recebe discursos prontos, lê e depois os descarta. Prefere o improviso. Assim, se excede ao manter um tom de palanque eleitoral e a postura de quem acredita ter o direito de dizer tudo o que pensa sem avaliar as inevitáveis consequências.
As gafes, imprecisões e hostilidades disparadas pelo petista ofuscam as notícias positivas sobre a Administração Federal, assim como fazia o protagonismo virulento de Bolsonaro.
Poupado no início do mandato, Lula tem sido questionado especialmente por âncoras e comentaristas da GloboNews, emissora com relação próxima aos principais nomes do governo, incluindo ministros palacianos e a primeira-dama Janja da Silva. O presidente precisa se conter ou ser contido, afirmam os jornalistas globais.