Maior problema de ‘Terra e Paixão’ é a falta de graça e emoção dos personagens
Noveleiros assistem com indiferença à novela que luta para recuperar a audiência da faixa horária mais cara da Globo
Entre as definições para ‘carisma’ no dicionário Houaiss está “fascinação irresistível exercida sobre um grupo de pessoas”. É justamente o que falta à maioria dos personagens de ‘Terra e Paixão’.
O problema se mostra mais grave entre os protagonistas. Mesmo interpretados por atores talentosos, eles não empolgam, tampouco geram identificação ou torcida a favor.
Uma trama pode ser fraca, porém, os noveleiros não perdoam personagens insossos. Aline, Caio e Daniel formam um trio sem a necessária química. Não há entre a fazendeira e os irmãos apaixonados por ela o necessário fogo da paixão. Tudo é morno, às vezes até frígido.
O mesmo acontece com os principais vilões. Antônio, Irene e Graça são tediosos. Falta o vigor da maldade e aquela pitada de humor ácido que diverte o público. Os telespectadores se acostumaram com a sedução de malvados desconstruídos. Não dá para aceitar antagonistas pomposos tão aborrecidos.
Autor de ‘Terra e Paixão’, Walcyr Carrasco presenteou os fãs de teledramaturgia com casais românticos cativantes, a exemplo de Catarina e Petruchio (‘O Cravo e a Rosa’), Serena e Rafael (‘Alma Gêmea’), Paloma e Bruno (‘Amor à Vida’).
Assim como criou alguns dos mais melhores vilões. Entre eles, a Violante de ‘Xica da Silva’, a Cristina de ‘Alma Gêmea’, o Félix de ‘Amor à Vida’ e o Alex de ‘Verdades Secretas’.
Desta vez, existe uma conjunção infeliz entre o texto excessivamente sério para o estilo característico do dramaturgo, a escalação de atores e as atuações. O que se vê na TV é um folhetim apenas correto, sem brilho.
Hoje, o melhor termômetro da aceitação de uma novela não é a aferição realizada pelo Ibope, e sim o engajamento nas redes sociais. ‘Terra e Paixão’ não gera aquelas conversas saborosas na timeline nem a criação de memes. Poucas cenas repercutem na internet.
Para vencer a anestesia dos noveleiros será preciso dar mais emotividade e motivação aos personagens. Precisam exalar o que dizem.
“O desejo enquanto real não é da ordem da palavra e sim do ato”, afirmou o psicanalista francês Jacques Lacan. É o ‘Terra e Paixão’ precisa entregar: atitudes convincentes que façam o público se apaixonar aos poucos pelo folhetim.