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"Acham que sou o anticristo", diz preparador de misses

4 out 2012 - 15h52
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Mariana Ghorayeb

Preparador de misses, ou missólogo, Evandro Hazzy fala com propriedade. Conseguiu levar ao Rio Grande do Sul oito títulos no Miss Brasil - o último neste ano, com a vitória de Gabriela Markus -, se prepara para entrar no Guiness Book, não mede palavras e não tem medo de polêmicas. Em entrevista exclusiva, ele falou com o Terra sobre a preparação das candidatas, sua entrada na vida política e as críticas que recebe pelo método de trabalho.

"Acham que sou o anticristo, que mexo no visual das meninas e acabo modificando a beleza natural. Eu não acredito em beleza natural", disse ele, que mostrou também não se importar com a "perseguição". "Me amem ou me odeiem, mas falem de mim".

Evandro lembrou a polêmica com Rayanne Morais no Miss Rio de Janeiro e lamentou a saída da noiva de Latino antes da grande final do Miss Brasil. "Ela tem o rosto perfeito. Fiquei triste quando tiraram ela, que não tem culpa dessa polêmica toda. Ela tem sonhos como qualquer outra menina e, se o título foi aceito, ela competiu de igual para igual com as outras candidatas".

Veja abaixo a entrevista completa:

Como você chegou nos concursos de miss?
Quando eu era criança, com uns quatro anos de idade, pela minha avó materna. Ela foi minha maior incentivadora, me levava nos concursos e na época do Miss Brasil eu ficava na casa dela para ouvir no rádio. Minha mãe participou também, então é uma coisa de família. No colégio eu também organizava os concursos no intervalo, tinha jurados, faixas de papel higiênico... A gente escolhia a garota mais bonita da escola. Nesse meio, minha criatividade já era bem avançada.

Como surgiu a ideia de criar o Manual da Miss?
Surgiu depois de eu viajar por muitos países e achar que é um auxílio para as meninas que sonham com isso. Não é só para miss. Quem lê o manual sabe que é para vida, que vai conseguir pegar dicas valiosas para seu dia a dia, para mulheres modernas ou para as que sonham também em fazer sucesso em concursos de beleza. Achei que faltava algo didático no mercado que auxiliasse as meninas que sonham em ser misses.

Quais são as características essenciais para quem quer se tonar uma miss?
Primeiro de tudo ela tem que querer ser miss. Não pode ser influenciada por ninguém, tem que ser algo que vem dela, tem que querer muito se tornar uma. É uma tarefa árdua, que requer disciplina, discernimento do que é certo e errado e muita disposição para estar sempre linda, acordar no salto, atender todo mundo com um sorriso no rosto. Quando a mulher chega até mim eu pergunto, antes de tudo: 'você tem consciência do que é ser miss? Você quer isso para você?' Aí sim, se ela concorda a gente começa.

Como acontece essa preparação?
Em primeiro lugar tem o bate-papo. É quando eu abro o livro e conto o que é ser miss, o papel de uma miss e quero que ela tenha certeza que quer ser. Se a resposta for positiva, eu começo a organizar o conjunto harmônico dela, corpo e rosto. Vejo se está tudo certo, se precisa fazer alguns ajustes estéticos, e então passamos pelos profissionais que trabalham comigo. Começa a montagem de uma mulher para o concurso de beleza.

Qual a duração desse curso preparatório?
No mínimo seis meses. Não tem como eu eleger uma mulher, hoje, em dois meses de curso. Por isso temos sucesso no Rio Grande do Sul e sempre me perguntam o por quê desse bom resultado. É por isso, porque conseguimos eleger uma miss com no mínimo oito meses de antecedência. E então, começamos a fazer o trabalho.

Qual o custo dessa preparação?
Não é barato. Na verdade temos vários tipos de pacotes, tem só uma orientação minha ou pode fazer o curso completo. Tem alguns com cirurgia plástica, figurino, vestuário... Hoje, se gasta no mínimo R$ 20 mil reais.

Cerca de 100 pessoas tentam se tornar missólogos por ano. Qualquer um que tiver interesse pode se tornar um preparador?
Acho que é legal quando a gente consegue ser uma referência. Fico feliz quando sou citado por esses jovens que querem entrar na carreira e sonham com esse mercado. Acho bacana. O mercado está aberto, crescendo cada vez mais e hoje temos alguns a partir de 13 anos de idade, que já começaram a fazer um trabalho. Fico feliz em poder ajudar e ser referência para esses meninos.

É inevitável falar em concurso de beleza e não pensar em brigas de ego ou até mesmo inveja. Como você lida com isso em um ambiente tão feminino?
Na verdade quando você entra em uma disputa, seja ela qual for, você sabe que existe rivalidade, vencedores e perdedores. Tem que ter esse equilíbrio na sua mente, de que você pode ganhar ou perder. A disputa vai existir sempre, principalmente onde tem muitas mulheres reunidas e o foco é a beleza. Meu objetivo é trabalhar isso e meu conselho é ignorar. Sempre que você sabe que alguém fez algo que te prejudicou na caminhada, ignore. Na vida nada é mais forte do que desprezar um concorrente. Trabalhamos a guerra psicológica: você tem que saber tirar o brilho da (outra) pessoa através do psíquico. E eu faço um trabalho bem forte com isso.

Muitas pessoas criticam seu trabalho, falam que você interfere na naturalidade das misses que treina. O que você tem a dizer sobre isso?
Nem Jesus agradou todo mundo, então eu também não vou agradar. Tem mais gente que me ama do que me odeia. Eu já fui perseguido por religiosos que acham que eu sou o anticristo, que mexo no visual das meninas e acabo modificando a beleza natural. E eu já disse uma vez que eu não acredito em beleza natural. As pessoas omitem se fazem cirurgia ou não e, hoje, 90% das mulheres não são mais naturais. Quando eu falo de beleza natural é quando você acorda de rosto lavado e enfrenta o mercado. Sempre vai ter algum recurso, um batom, gloss, pigmentação, mudança de cor de cabelo, chapinha pra alisar o cabelo que é ruim. Isso é ser natural? Eu acho que auxilio a beleza que Deus deu. O avanço da tecnologia está aí para a gente usar. Me amem ou me odeiem, mas falem de mim. Se eu não fosse tão bem (na profissão) acho que não seria oito vezes campeão no Brasil e quase líder no mundo. Já falei com minha assessoria para entrar no Guiness Book.

Também tem a polêmica das plásticas da Bruna Felisberto, em 2009. Ela disse que foi influenciada por você para fazer uma cirurgia no nariz e, além de não gostar do resultado esteticamente, ficou com dificuldade para respirar. Depois disso, alguma coisa mudou no seu jeito de trabalhar?
Não, não mudou. Para tudo na vida têm indivíduos e indivíduos. Ao fazer uma cirurgia plástica você sabe que têm riscos. Se você vai hoje numa manicure fazer mão e pé está sujeito a pegar uma infecção. Na cirurgia pode dar certo ou errado. Não deu certo, mas eu acho, no meu ponto de vista, que ela ficou infinitamente melhor. Se pegar as fotos de quando ela apareceu no meu escritório e as que ela tirou depois da cirurgia dá para ver. E não sou só eu que falo. O corpo da pessoa muda muito, pode acontecer varias coisas, como queloide, tem a cicatriz, se vai ficar boa ou não. Cada um reage de um jeito.

Como é a relação de vocês hoje em dia?
A gente se fala socialmente. Como tudo na vida, sempre passa. Mas o respeito e o carinho da profissional que é a Bruna ficou. É uma ex-miss que eu tenho carinho e desejo cada vez mais sucesso para ela. A pessoa tem que ser feliz, ela está bem realizada profissionalmente e é o que importa.

O sul do País é considerado um celeiro de mulheres bonitas. Para você, quais as diferenças dessas candidatas para as concorrentes de outros Estados?
Obviamente é um celeiro, por ter uma miscigenação muito forte e as principais modelos serem gaúchas. Temos muita facilidade de trabalhar com elas. A dificuldade seria trabalhar com um biótipo diferente, uma beleza rústica. Eu posso desafiar meu talento de trabalhar com qualquer mulher do mundo ou de outro Estado do Brasil, mas acho que a beleza gaúcha ajuda muito no meu trabalho. Um fator positivo que temos aqui no Sul é o clima. É diferente dos outros Estados, onde o calor excessivo danifica a pele, o cabelo...

No Miss Brasil 2012, quais eram suas candidatas favoritas ao título?
Neste ano o Miss Brasil cresceu muito em nível de candidatas. Tinha cinco mulheres que eu gostava muito: Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e eu gostava também da beleza da Rayanne Morais, apesar de toda a polêmica. Eu seria antiético se dissesse que ela não tem o rosto perfeito. Fiquei triste quando tiraram ela. Sou muito correto e acho que ela não tem culpa dessa polêmica toda, ela tem sonhos como qualquer outra menina e, se o título dela foi aceito, ela competiu de igual para igual com as outras candidatas.

Tem alguma coisa que você mudaria no formato do Miss Brasil?
Têm muitas coisas. Sou bem crítico, mas acho que eu prefiro falar isso pessoalmente para eles (organização do evento), me reunir, passar essa minha experiência. Acho que faltam alguns detalhes. Tenho algumas dicas para 2013 e espero que eles me ouçam (risos).

Pessoas "comuns" já procuraram seu trabalho?
Tem sim, muitas personalidades, pessoas da politica atual, governadores e pessoas que precisavam de dicas pessoal e para o dia a dia. Uma política mulher de grande renome já esteve sob meus cuidados, tanto da parte de figurino como também da parte estética. Todo mundo me pergunta nomes, mas por questões éticas eu não posso falar porque temos um contrato. Logo depois do Miss Brasil disseram que me procuraram (no escritório), uma pessoa candidata a um governo, para que eu fizesse uma assessoria de imagem.

Em 2011 você era pré-candidato a vereador em Porto Alegre. Concorre nas eleições deste ano?
Não, vou concorrer a deputado federal na próxima eleição. Estava tudo certo para eu concorrer a vereador neste ano, mas em conversa com minha família, como meu objetivo era trazer essa coroa para o Sul e eu não poderia me concentrar na campanha, decidimos adiar (a carreira política). A primeira pessoa que está sabendo da minha candidatura na mídia é você.

Sua experiência em concursos pode te ajudar de que forma nesse mandato?
Ajudei muitas pessoas e vou continuar ajudando. Na autoestima, nos conhecimentos das pessoas... Sou uma pessoa muito humana. Quem me conhece sabe que sou simples, que valorizo as pessoas como elas são, da forma que são, sou uma pessoa comum, ligado à família, religioso e com uma parte espiritual. Vou à igreja todos os finais de semana e acho que isso é o diferencial: mostrar que o Evandro tem um lado humano muito forte. Tenho um trabalho social em Porto Alegre, com meninas carentes, em que tentamos inserí-las no mercado de trabalho, ajudamos quem não tem acesso a roupas, um bom corte de cabelo, química... É bacana agregar meu trabalho nisso.

O que podemos esperar do Miss Universo?
Acho que a Gabriela Markus (Miss Brasil) tem 100% de chance. No ano passado o Miss Universo foi no Brasil e isso é um diferencial muito grande. Hoje também o País é o centro das atenções de todo o mundo e acho que a política ajuda um pouco nisso, como a Dilma, que fez um excelente trabalho levando o Brasil para o exterior. Acho que a Gabriela está muito, muito preparada. Ela tem inglês e alemão fluentes e isso é um diferencial enorme, já que tem mais de 90 países no Miss Universo. É o ano do Brasil, estou muito confiante! Nós vamos para Las Vegas e eu só volto de lá com a coroa de Miss Universo (risos).

Que conselho você daria às meninas que sonham em ser miss?
Acredite no seu taco, faça sua estrela brilhar e não desista na primeira derrota. Se você caiu, levante, erga a cabeça e siga em frente.

Evandro Hazzy preparou a atual Miss Brasil, Gabriela Markus
Evandro Hazzy preparou a atual Miss Brasil, Gabriela Markus
Foto: Carlos Contreras / Divulgação
Fonte: Terra
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