Morte de Nahim e Chrystian aumenta audiência e ressalta lado cruel da TV
Vários programas aproveitam a curiosidade do público para prestar homenagem que o falecido artista deveria ter recebido em vida
Na edição de quinta-feira (20), a cobertura da morte do sertanejo Chrystian fez o ‘Fofocalizando’ disparar no Ibope. Subiu 1,2 ponto em relação ao dia anterior. Exibido na sequência, o telejornal policial ‘Tá na Hora’ surfou na mesma onda: cresceu 1,1 ponto ao destacar a trajetória e o velório do cantor.
Programas do SBT e de outros canais já haviam conseguido resultado positivo de audiência com a morte de Nahim na semana anterior. Aproveitaram a comoção de fãs e também o interesse mórbido de parte do público. Noticiar a morte de um famoso – seja grande ídolo ou subcelebridade pouco conhecida – sempre dá impulso a qualquer programa, dos que praticam jornalismo sério às atrações que vivem de intencional sensacionalismo.
Nestas ocasiões fica evidente uma dinâmica cruel da televisão: a maioria dos artistas não consegue espaço no dia a dia da programação da TV para divulgar sua música, sua peça de teatro, suas ideias, fazer um pedido de ajuda, porém, ganha horas e horas quando está num caixão à espera do sepultamento.
Os programas priorizam quem se mantém no auge e os que produzem notícias chamativas, como um escândalo de traição ou uma polêmica nas redes sociais. Há também preferência por aquele que superexpõe a intimidade. Fotos da vida privada são bem-vindas, assim como conteúdo sexualizado.
Quem deseja apenas falar da carreira e da produção artística recebe o desprezo e fica fora da pauta. Outro procedimento manjado da televisão é convidar famosos para comentar a morte de colegas. Muitos deles nem tinham amizade ou contato com o falecido, mas se dispõem a verter lágrimas diante das câmeras em troca de alguns minutos de visibilidade.
A cobertura da despedida de um famoso exige respeito e discernimento. Mostrar ou não o rosto no caixão? Relatar ou não detalhes (às vezes indignos) de como aconteceu a morte? Dar um clima protocolar ou embarcar na onda de forte emoção? Não há uma cartilha, mas espera-se que apresentadores, repórteres, diretores, editores e entrevistados demonstrem bom senso e não usem o morto como trampolim.