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Mulheres complexas estão no centro da trama de 'Sharp Objects'

Com 8 episódios, minissérie da HBO que estreia neste domingo, 8

8 jul 2018 - 06h12
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LOS ANGELES - Em tempos de Time's Up, a representação feminina na frente e atrás das câmeras é a reivindicação da vez em Hollywood. A minissérie da HBO Sharp Objects, que entra no ar neste domingo, 8, às 22h, atende a todos os requisitos: é baseada em Objetos Cortantes, primeiro livro da escritora Gillian Flynn, lançado no Brasil pela Intrínseca, tem uma showrunner em Marti Noxon e uma trinca de atrizes nos papéis principais.

Amy Adams, em sua estreia como protagonista na TV, faz a jornalista Camille, que volta à sua cidade natal para reportar o desaparecimento de uma garota. Patricia Clarkson interpreta Adora, mãe de Camille, e a jovem Eliza Scanlen é Amma, a caçula. A relação entre as três é complicada, para dizer o mínimo. "As mulheres em geral estão lidando com muita raiva", afirmou Marti Noxon em entrevista ao Estado, em Los Angeles. "Nessa história, a raiva é importante. Temos essas três gerações de mulheres e como elas lidam com seus sentimentos mais pesados. Esse tipo de história de crime e mistério preenche certo vazio das mulheres do mundo porque apresenta uma solução."

Noxon descobriu Gillian Flynn numa feira de livro de escola. Viu a capa de Garota Exemplar e ficou intrigada. "Quis saber quem era essa escritora, tão perversa de um modo delicioso." Em seguida, leu outros dois livros da autora, Lugares Escuros e Objetos Cortantes. "Camille ficou comigo." A produtora quis os direitos imediatamente, mas descobriu que eles estavam vendidos para um filme. "Achei que ia desaparecer, porque personagens femininas assim não costumam ser bem desenvolvidas no cinema. Na TV podíamos deixar as personagens viverem e respirarem."

Noxon convenceu Jason Blum, detentor dos direitos, a investir numa minissérie em oito episódios. O projeto ganhou volume, atraindo a HBO, Amy Adams, cinco vezes indicada para o Oscar, e o diretor Jean-Marc Vallée (de Livre e da série Big Little Lies).

Adams confessa que hesitou um pouco, apesar da qualidade do material. Eram oito horas fazendo uma mulher alcoólatra, que se mutila para lidar com a dor do passado. Voltar à pequena Wind Gap é remexer a relação para lá de conflituosa com a mãe e ser apresentada à sua irmã caçula, que tem um jeito totalmente diferente de encarar o amor opressivo de Adora. "Com as mulheres, a violência é muito mais psicológica do que física", disse Adams. "Gillian faz isso muito bem, usando uma família para ver o lado obscuro e as consequências da violência através das gerações."

Para Patricia Clarkson, muitas vezes as grandes histórias femininas são sobre mulheres que sofreram imensamente. E isso é bom. "Não temos de ser heroínas, ou exemplos, não temos de liderar países." Foi nisso que Flynn pensou quando começou a escrever seu primeiro livro: personagens femininas complexas, difíceis de gostar, não necessariamente heroicas, que não via na literatura da época. "Meu objetivo sempre foi criar mulheres com um leque de emoções. Não somos só isso ou aquilo." Em 2006, foi duro encontrar quem investisse. Em 2018, o jogo virou.

Entrevista com Gillian Flynn:

Garota Exemplar, lançado em 2014, foi um grande sucesso no cinema. Como foi fazer uma série de TV?

Há mais espaço na televisão. Gostaria de voltar e fazer Garota Exemplar como uma série de TV, tendo tempo e espaço para explorar mais personagens e a história.

Acha que lançou moda com Garota Exemplar?

Certamente, a popularidade do drama com Rosamund Pike abriu as portas para termos mais personagens complicadas. Acho ótimo. Quando estava tentando vender Objetos Cortantes, ouvi de muitos editores que ninguém queria ler esse tipo de livro, que as mulheres não queriam ler sobre mulheres que não fossem heroínas. Fico orgulhosa de provar que as mulheres são inteligentes o suficiente para saber que nem todo livro precisa deixar um sentimento bom.

Prefere histórias sobre o nosso lado obscuro?

Com certeza. Gostaria que não fosse assim. Eu me questiono por que às vezes estou para baixo. Aí, olho as coisas para ver na Netflix, o que estou lendo... E vivendo em Chicago, no meio do inverno. Penso: Veja algo feliz! Mas não quero. Então é minha culpa.

Estadão
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