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Música no Enem tocava em novela da Globo pró-reforma agrária

'Admirável Gado Novo' ambientava as cenas dos sem-terra contra poderosos ruralistas em 'O Rei do Gado'

22 nov 2021 - 08h44
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Luana (Patrícia Pillar) se dividia entre a luta pela terra e o amor por um rico fazendeiro
Luana (Patrícia Pillar) se dividia entre a luta pela terra e o amor por um rico fazendeiro
Foto: Divulgação/TV Globo

Sob suspeita de intervenção ideológica do governo federal, a prova do Enem causou surpresa ao ter uma questão com citação da música 'Admirável Gado Novo', lançada pelo cantor e compositor Zé Ramalho em 1979, sob a ditadura militar.

A canção a respeito da resiliência da população desfavorecida pode ser interpretada como uma crítica à falta de atitude do brasileiro em geral. Ao mesmo tempo, condena a "vigilância" do governo autoritário sobre os cidadãos e acena com a esperança de um mundo justo aos excluídos.

O forte contexto político – mais atual do que nunca – fez 'Admirável Gado Novo' ser incluída na trilha de 'O Rei do Gado', novela das 21h exibida na Globo entre junho de 1996 e fevereiro de 1997. Era tocada nas cenas dos sem-terra que invadiam terras para exigir a reforma agrária.

Fazia parte desse núcleo a boia-fria Luana, papel de Patrícia Pillar. O autor Benedito Ruy Barbosa criou uma heroína com discurso progressista contra os latifundiários e a concentração de renda no País. A mocinha ativista fez sucesso entre os telespectadores. Após muito sofrer, ela terminou nos braços do pecuarista Bruno Mezenga (Antônio Fagundes).

Na época, o folhetim recebeu elogios de José Rainha, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), entidade ligada à esquerda. "Até que a novela está parecida com a vida real", disse ele à Folha de S. Paulo.

A trama tinha um senador idealista que defendia a reforma agrária, Roberto Caxias (Carlos Vereza). Ele fazia grandiosos discursos no Congresso contra a desigualdade social. No desfecho, o político foi atraído a uma emboscada em um acompanhamento de trabalhadores do campo. Morreu assassinado a tiros por contrariar os interesses de gente rica e poderosa.

Na última cena de 'O Rei do Gado', uma mensagem surgiu na tela: "Deus, quando fez o mundo, não deu terra para ninguém, porque todos os que aqui nascem são seus filhos. Mas só merece a terra aquele que a faz produzir, para si e para os seus semelhantes. O melhor adubo da terra é o suor daqueles que trabalham nela". A novela teve média de 52 pontos de audiência. Nenhuma outra conseguiu índice tão alto nos últimos 25 anos.

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