Nice é parecida demais com Damares Alves para ser mera coincidência
Entrada de religiosa radical em ‘Terra e Paixão’ sinaliza uma crítica ao uso do nome de Deus e a quem quer converter os LGBTs
Os cabelos pretos, os óculos com armação grande, o colar de pérolas, a fala pausada, a religiosidade extrema, o discurso conservador...
São muitas as semelhanças entre a missionária Nice (Alexandra Richter) de ‘Terra e Paixão’ e a senadora e pastora Damares Alves (Republicanos-DF).
A evangelizadora que diz ser a verdadeira herdeira de Cândida (Susana Vieira) está decidida a ‘moralizar’ o bar da cidade.
Pretende converter à fé as garotas que fazem programa no estabelecimento e até sugeriu a ‘cura gay’ para Kelvin (Diego Martins). Disse que ele precisa encontrar uma moça para casar e ter filhos.
Suscita a lembrança da pregação em que Damares disse que Elsa, de ‘Frozen’, termina o filme sem um príncipe porque é lésbica, e que voltará para acordar a Bela Adormecida com um beijo gay.
Em tom cômico, Nice é uma crítica do autor Walcyr Carrasco – um homem bissexual declarado e que sempre defende os LGBTs em suas novelas – contra o uso do nome de Deus para julgar a orientação sexual e o comportamento das pessoas (“menino veste azul e menina veste rosa”).
Representa o radicalismo religioso e a hipocrisia daqueles que se colocam acima do bem e do mal a ponto de apontar o suposto pecado alheio sem olhar as próprias falhas.
Nice será aliada da vilã Irene (Glória Pires) e vai se revelar uma golpista movida pela ambição por dinheiro. Inspirada, Alexandra Richter dá o tom certo à farsante.
Faz rir e, ao mesmo tempo, transmite importante mensagem: ninguém é santo e cada um deve cuidar da própria vida ao invés de demonizar os outros.