Entre falhas, 'Avenida Brasil' repete biotipos de personagens
- Geraldo Bessa
Avenida Brasil desperta amor e ódio na mesma proporção. Ao longo de sete meses no ar, a novela de João Emanuel Carneiro angariou muitos fãs por sua agilidade e personagens suburbanos. E outros tantos detratores por sua falta de lógica e falhas grotescas de roteiro. Próximo do fim da história, é inegável o sucesso da obra, muito mais pela sua forma do que pelo conteúdo. Até porque, dramaturgicamente, nada de novo foi realmente criado. A novela é uma reciclagem de um emaranhado de situações e personagens bem conhecidos da TV brasileira. A história da mocinha vingativa já foi utilizada em tramas como Chocolate com Pimenta, a vilã loura e ardilosa com tendências para o humor, foi mostrada com a Nazaré, de Renata Sorrah, em Senhora do Destino, de 2004, e até na Flora, de Patrícia Pillar, de A Favorita, de 2008, primeira trama de João Emanuel no horário nobre.
Além da influência de histórias já contadas, é possível observar nas sequências criadas pelo autor a inspiração em seriados americanos, e principalmente, autorreferência em excesso. Da tintura loura utilizada por suas vilãs, passando pela presença frequente do lixão em suas tramas, e até na trilha incidental das cenas. Muita coisa lembra o trabalho do próprio João Emanuel. Pela audiência média acima dos 40 pontos, João conseguiu convencer seus telespectadores em quase todos os momentos de sua engenhosa história. Só não teve a mesma sorte na hora esconder sua falta de habilidade com as novas tecnologias. Não há dúvidas: a grande vergonha de Avenida Brasil foram os meses em que a novela ficou paralisada no jogo de gato e rato entre Carminha, de Adriana Esteves, e Nina, de Débora Falabella, pelas imagens que incriminariam a grande vilã. Como se estivesse nos anos 1990, Nina, ridiculamente, não se deu ao trabalho de guardar suas fotos em algum e-mail ou salvá-las em um pen-drive. Por tamanha "distração", a personagem foi esculachada nas redes sociais.
É por isso que, em meio às falhas e mesmice, o que chamou a atenção em Avenida Brasil foi a estética apurada desenvolvida por Ricardo Waddington e Amora Mautner. O corte rápido, a fotografia de cinema e a luz sempre apostando em contrastes foram o grande trunfo da dupla, que levou esse capricho técnico até os últimos capítulos. Em contrapartida, os dois assinam a direção da trama mais gritada da história da televisão brasileira. Tudo bem que a Globo investe severamente na conquista e na ânsia de ser o espelho da classe C. Mas a visão de subúrbio de Avenida Brasil beira o caos. Apesar do bom desempenho de suas interpretações, Letícia Isnard, Eliane Giardini e Heloísa Périssé não economizaram nos decibéis de seus gritos. Chegaram a incomodar.
Emoldurada por cenas de alto impacto, a novela presenteou seus atores principais com sequências tensas e emocionais. No entanto, de forma desmedida, essa tensão que imperava na história começou a cansar o público. Adriana Esteves não precisava nem da metade de suas caretas para mostrar a boa atriz que se tornou ao longo do tempo. Sem poupar o telespectador, a novela pecou por exageros diários em suas atuações. Assim como desperdiçou atores em cenas patéticas e sem relevância, caso de Nathalia Dill e todo o núcleo de Cadinho, de Alexandre Borges. O humor só se fez realmente presente com a ida do garanhão e suas mulheres para o Divino, muito pelo tom de humor certeiro de Débora Bloch. Em meio a gritos e choros, personagens menores e mais leves deram certo charme ao cotidiano da trama. Principalmente as intervenções de Adauto, de Juliano Cazarré, e a inocência de Zezé, a empregada fofoqueira interpretada por Cacau Protásio.
Avenida Brasil - Globo - de segunda a sábado - às 21h.