Cabelo de atriz quebra após forte clareamento: "contratempo capilar"
O rosto expressivo e o discurso sóbrio de Simone Spoladore ganham certa leveza quando ela fala de Violeta, sua personagem na novela Balacobaco, da TV Record. Sempre na busca por novas experiências, a atriz de 34 anos enxerga no tom exagerado do papel um detalhe que faltava em sua trajetória televisiva. "O mais próximo que cheguei da comédia na TV foi em Bela, A Feia, mas não é nada que se compare ao que já vivi nas gravações de Balacobaco. Usei roupas extravagantes, perucas e cheguei até a me vestir de homem. Foi libertador", detalha.
A personagem, que era loura no início da trama, no entanto, sofreu algumas mudanças, já que o cabelo de Simone não aguentou a forte química de clareamento. "A autora teve de adaptar a trama ao meu contratempo capilar. A história da Violeta foi reinventada em função do que aconteceu naturalmente. Para a personagem, foi um ganho de cenas engraçadíssimas. A Violeta já era maluca e ficou ainda mais, achei que os disfarces foram uma saída bem eficiente da Gisele (Joras)", elogiou a atriz.
Natural de Curitiba e "cria" da efervescente cena teatral da cidade, Simone estreou na TV sob a direção de Luiz Fernando Carvalho, na minissérie global Os Maias, de 2001. Ao longo de sua carreira, ela tenta equilibrar a assumida predileção por filmes alternativos, como Sudoeste e Elvis & Madona, com os convites de caráter mais comercial que aparecem na TV, novelas como América, da Globo, e Vidas em Jogo, da Record. "É importante não ter preconceitos e selecionar projetos que agreguem. Sou do tipo que topa qualquer coisa por um bom personagem", ressalta.
Na Record desde 2009, ano em que deu vida a Verônica, vilã de Bela, A Feia, Simone está satisfeita com o destaque destinado a seus personagens nas novelas da emissora. "É preciso ter o mínimo de possibilidade de criação. E, nas três novelas que fiz na Record, tive o estímulo de interpretar mulheres instigantes", garante.
Você é conhecida do público de TV por personagens de época como a Catarina, de Esperança (2002), ou dramáticos, como a Andréa, de Vidas em Jogo (2011). É difícil de encarar o tom exageradamente cômico de Balacobaco?
Simone Spoladore - Acredito que Balacobaco seja um aprendizado daqueles bem divertidos. É uma maneira de eu me aproximar do público e mostrar o meu trabalho de forma diferente. Realmente, o início da minha trajetória na TV é marcado por personagens densas e isso ficou muito na cabeça de quem acompanha minha carreira. Que eu me lembre, o que chega mais próximo do cômico foi a vilã que fiz em Bela, A Feia (2009). Até no cinema, que é onde eu tenho trabalhado intensamente nos últimos anos, só fui fazer comédia no filme Elvis & Madona (2010).
A Violeta é essencialmente uma personagem de composição. Você gosta deste tipo de trabalho?
Simone – É um exercício interessante e que merece uma atenção especial. Pois, embora seja uma personagem vários tons acima, é necessário que ela seja naturalista também. Afinal, a história dela é contemporânea. O trabalho de comédia que desenvolvi em Elvis & Madona foi útil na hora de fazer o processo de composição da Violeta. No filme, eu precisava de verdade para viver uma mulher extremamente masculina. Na novela, me visto de homem, uso perucas e figurinos exóticos, e a personagem ainda assim precisa ser coerente e crível.
Tanto na TV quanto no teatro e no cinema, a diversidade de seus personagens é notória. É uma escolha sua ir por caminhos tão diferentes a cada trabalho ou isso simplesmente acontece?
Simone – É difícil responder essa pergunta. Cada trabalho chega a mim de forma diferente. É claro que sei o que quero para a minha carreira, mas, às vezes, me deixo levar também. Funciono bem com convites, assim como corro atrás de oportunidades que eu julgue importantes. Acho que uma atriz tem de ter cuidado com os trabalhos que atrai. Fiz muitos trabalhos de época no início, mas tratei de fazer coisas mais atuais e mostrar que eu era capaz de variar.
Era uma preocupação sua não ficar marcada pela figura da intérprete de tipos lúdicos e barrocos?
Simone –
Não chegou a ser uma preocupação. Era mais uma questão de evidenciar essa minha preferência pela diversidade. Experimentar está na minha vida. É só prestar atenção aos meus últimos trabalhos, que fiz com vontade de descobrir novos espaços e abordar outras linguagens. Carrego comigo aquela sensação de nunca estar satisfeita com o que estou fazendo. No momento, estou em uma novela, mas acabei de sair de uma temporada teatral com
Depois da Quedae estou envolvida com vários filmes.
Balacobaco foi feita a toque de caixa depois do fraca audiência de Máscaras. Você teve de desistir de algum outro projeto para fazer a novela?
Simone – Não, mas se tivesse de desistir, seria tranquilo. É uma questão de responsabilidade e prioridade pelo contrato e pela relação que tenho com a emissora. Sou muito organizada com trabalho. Então, consigo tranquilamente rodar filmes enquanto estou trabalhando na TV. Na época de Bela, A Feia (2009), me envolvi e fiz pequenas participações em filmes como Não Se Pode Viver Sem Amor, Luz nas Trevas, O Último Romance de Balzac, Sudoeste e O Gerente. É cansativo, mas é possível (risos).
Sua intimidade com o cinema é bem evidente. Mas o que a TV representa na sua trajetória?
Simone –
Acho que eu tive oportunidade de fazer coisas na TV que ajudaram muito a melhorar meu trabalho em outros veículos. Por ser um exercício diário, na televisão você aprende ou aprende (risos). Se eu não tivesse feito a Verônica, de
Bela, A Feia, por exemplo, eu não teria o humor necessário para fazer
Depois da Queda, peça onde minha personagem é inspirada na Marilyn Monroe. Está certo que é uma peça de dimensões trágicas, mas a Marilyn era comediante.
Depois de ser indicada ao prêmio Shell de Teatro pela temporada carioca de Depois da Queda, você pretende retomar o espetáculo?
Simone –
Quero muito voltar ao palcos no segundo semestre. Só paramos a peça porque início de novela é sempre muito desgastante e eu não estava dando conta de fazer o espetáculo e gravar as primeiras cenas da Violeta ao longo da semana. Assim que
Balacobacochegar ao fim, irei me reunir com a equipe do espetáculo de novo e preparar essa volta.
No início de Balacobaco, você ostentava um visual louro ao estilo Marilyn Monroe e, ao longo da trama, a Violeta foi mudando de caracterização. Sua versão platinada foi reprovada pela direção da novela?
Simone –
Fui a primeira a estranhar minha repentina versão loira. Mas depois me apaixonei pelo visual. No entanto, quem não aguentou foi o meu cabelo (risos). A química quebrou os fios.
Foi por isso que a Violeta passou a abusar de perucas e disfarces em Balacobaco?
Simone –
Sim (risos). Não é só o ator que precisa ter versatilidade para interpretar o que está no texto. Nesse caso, a autora teve de adaptar a trama ao meu contratempo capilar. A história da Violeta foi reinventada em função do que aconteceu naturalmente. Para a personagem, foi um ganho de cenas engraçadíssimas. A Violeta já era maluca e ficou ainda mais, achei que os disfarces foram uma saída bem eficiente da Gisele (Joras).
Com mais de 20 filmes e sete trabalhos na TV, em qual momento você percebeu que estava no caminho profissional certo?
Simone –
Quando a gente é mais nova, essa percepção fica um pouco esquecida. A gente vai fazendo, se descobrindo. Não sabia qual era meu potencial e para onde eu queria levar minha carreira. Olhando sob uma ótica mais atual e madura, cada personagem da fase inicial da minha trajetória me trouxe um pouco dessa certeza. Mas dois trabalhos me provaram que eu poderia viver como atriz: o filme
Lavoura Arcaicae minha estreia na TV, na minissérie
Os Maias. A alegria de me bancar fazendo o que gosto foi inigualável.
TV Press – Sua paixão pela atuação e a experiência em filmes e novelas chegam a despertar em você a vontade de ir além da carreira de atriz e, de repente, seguir o caminho da direção?
Simone – Nunca falei sobre isso. Mas estou pensando em dirigir, sim. Tenho muitas ideias, todas ainda em uma esfera muito pessoal, esperando para serem discutidas e lapidadas. Quero muito estrear na direção, contar uma história minha, mas é uma função que eu ainda vou demorar bastante para desenvolver. Não é um projeto pensado para daqui a dois anos. Eu não quero virar diretora, é algo mais. Não sei definir bem, mas quero ter a maturidade de conceber produções de forma bem pessoal.
No escurinho do cinema
O talento e a boa relação de Simone Spoladore com os principais diretores do cinema nacional lhe renderam muito mais que bons personagens em filmes como Desmundo, Primo Basílio, O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias e Elvis & Madona. Deram à atriz também prêmios e indicações importantes para seu currículo.
Na estante de Simone aparecem três troféus de melhor atriz dados pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte –, além de prêmios de entidades como a ACIE – Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira –, e do júri de festivais brasileiros como os de Gramado e Goiânia.
"É bacana ser premiada por trabalhos tão especiais. É um incentivo a continuar criteriosa com a minha carreira", analisa Simone que, aos 34 anos, foi surpreendida ao ser homenageada pelo conjunto da obra na última Mostra de Cinema de Tiradentes. "É a mostra que mais dá espaço a filmes pouco ortodoxos e de estética arrojada. Fiquei lisonjeada", anima-se.
Sem qualquer estrelismo, a atriz assume sua vaidade com o reconhecimento da crítica, mas se mostra preocupada com a falta de apoio a filmes que fogem de um estética mais comercial. "É preciso garantir a permanência de filmes que instiguem o público no circuito exibidor. O apoio da mídia faz muita diferença, mas o cinema brasileiro está sendo resumido a comédias que se assemelham à televisão ou a filmes influenciados por Hollywood", critica.
Agenda cheia
Assim que acabar as gravações de Balacobaco, Simone Spoladore já sabe que o tempo em que ficar fora do ar será tomado por trabalhos no teatro e no cinema. Em agosto, ela volta aos palcos com Depois da Queda, peça dirigida por Felipe Vidal – que deve cumprir temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Paralelamente, fecha alguns detalhes de agenda para dar conta de três filmes. "Vou fazer o primeiro longa de ficção da Flavia Castro, que fez o documentário Diário de Uma Busca, depois atuo no novo filme da Helena Ignez, que está em fase de captação de recursos. E, finalmente, volto a trabalhar com o Eduardo Nunes, mesmo diretor de Sudoeste", enumera, animada.
Trajetória Televisiva
# Os Maias (Globo, 2001) - Maria
# Esperança (Globo, 2002) - Catarina
# América (Globo, 2005) - Heloísa
# O Profeta (Globo, 2006) - Lucy
# Bela, A Feia (Record, 2009) - Verônica
# Vidas em Jogo (Record, 2011) - Andréa
# Balacobaco (Record, 2012) - Violeta