'Flor do Caribe' tem núcleo central fraco, mas empolga com secundários
A obra de Walther Negrão sempre passeou por vários estilos e estéticas. Em suas tramas praianas, como Top Model – parceria com Antônio Calmon –, de 1989, e Tropicaliente, de 1994, o autor soube equilibrar o clima solar com uma história central realmente cativante. Na atual novela das 18h, Flor do Caribe, apenas o sol, o mar e personagens secundários se destacam. São nos núcleos de apoio que se encontram os personagens mais interessantes da novela. Como a família de Quirino e Doralice, vividos por Aílton Graça e Rita Guedes. Incomodada com a relação do filho Juliano, de Bruno Gissoni, com uma mulher mais velha, a empregada doméstica tenta separar o casal de maneira sutil. Sem tramoias ou vilanias, apenas com diálogos verossímeis a qualquer mãe que assiste ao folhetim.
Aliás, Rita é um grande destaque em termos de atuação entre o elenco. Em seu primeiro papel sem apelar para suas formas voluptuosas, a atriz tem mostrado que está preparada para voos mais altos em sua carreira. Outros nomes também se sobressaem do geral, como o de Veridiana e seus netos Candinho, Lino e Dadá, encarnados pela veterana Laura Cardoso e os novatos José Loreto, José Henrique Ligabue e Renata Roberta. O quarteto demonstra muito entrosamento em frente às câmaras. Diferenciados dos demais por serem os únicos do folhetim com sotaque nordestino, eles conseguem fazer tanto comédia quanto drama.
Em contrapartida, o núcleo central da novela é o que menos empolga. Em parte pela história, que começou como uma aventura e agora se encontra estagnada em uma luta velada de poderes entre o mau-caráter Alberto e o bom moço Cassiano, vividos, respectivamente, por Igor Rickli e Henri Castelli. Mas também pela falta de ação entre os protagonistas. Entretanto, as sequências estreladas pelo vilão de Rickli são as que mais incomodam. Estreante no universo da teledramaturgia, ele ainda não encontrou o tom adequado para seu personagem. Assim, seu texto, que já perde muito pela grande quantidade de clichês, acaba soando pouco crível.
Apesar de mostrar um certo progresso em relação aos seus trabalhos anteriores, Grazi Massafera ainda está longe de mostrar capacidade de sustentar o papel principal de um folhetim. Inexpressiva em grande parte da trama, ela não consegue passar a intensidade necessária às suas cenas. Dessa forma, despreparada para assumir a responsabilidade de interpretar a mocinha, ela entrega o protagonismo de Flor do Caribe nas mãos das personagens de Rita Guedes e Daniela Escobar.
No entanto, o fraco desempenho do trio de protagonistas parece não atingir o Ibope do folhetim. Com média em torno de 27 pontos, Flor do Caribe se destaca em comparação com as últimas tramas do horário das 18h. Sobretudo em relação a Lado a Lado, que, apesar de muito bem feita, derrubou a audiência da faixa e teve média final de 18,2 pontos. Os bons números da novela atual, inclusive, demonstram que Walther Negrão retomou a sintonia com o público, façanha que não conseguia desde que escreveu a infantil Era Uma Vez, exibida em 1998.
Flor do Caribe – Globo – de segunda a sábado – às 18h30