Protagonistas de 'Flor do Caribe' perdem espaço para veteranos
Em sua fase final, Flor do Caribe mostra que, às vezes, o protagonismo de uma novela foge do seu núcleo central. Mais uma aposta praiana de Walther Negrão, conhecido por produções do gênero como Top Model, de 1989, e Tropicaliente, de 1994, o folhetim se afasta cada vez mais de sua proposta de sol, mar e beldades para dar espaço a uma trama com grande ênfase histórica. Mas os novos contornos da obra não são reflexos apenas da vontade do autor. O mérito (ou demérito) mesmo vai para o trio principal da história, formado por Grazi Massafera, Henri Castelli e Igor Rickli. Com um desempenho fraco, os três viram o foco da novela se voltar para a disputa entre os personagens de Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira.
A atuação do trio central deixa a desejar desde o inicio do folhetim. Em especial, o desempenho de Grazi e Rickli, que em inúmeras cenas se mostraram artificiais e inexpressivos. Sem empolgar, comover ou sequer passar a credibilidade necessária a seus papéis, não conseguiram também se manter como fio condutor da história. Em contrapartida, com décadas de experiência em teledramaturgia, Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira conseguiram transformar seus papéis, que a princípio poderiam ser definidos como um tanto quanto caricatos, em perfis críveis. Isso porque, além do talento, ambos conseguem despertar empatia com seus tipos. Seja através do sofrimento de Samuel, retratado por suas lembranças da Segunda Guerra Mundial, ou pela certa comicidade e ironia das atitudes malignas do ex-nazista vivido por Mamberti.
O intérprete de Dionísio, inclusive, foi ainda mais longe ao se revelar o verdadeiro vilão do folhetim. Posição que deveria estar sendo ocupada pelo personagem de Igor Rickli, que não correspondeu às expectativas de sua escolha. Desta forma, nada mais óbvio do que a trama se concentrar nas maldades do patriarca da família Albuquerque. Mesmo prestes a responder por inúmeros crimes de guerra, além de outras atrocidades como racismo, corrupção e paternidade ignorada, ele mantém sua arrogância digna da típica caricatura do vilão maniqueísta.
Sem exercer o papel de grande vilão do folhetim, o personagem de Rickli perde um pouco de sua função na trama. Não é à toa que Alberto aparece cada vez menos nas sequências da novela. Apesar de todas as transformações pelas quais a trama de Flor do Caribe passou, a produção tem demonstrado fôlego e boa audiência, com média de 27 pontos. Tanto que foi esticada em duas semanas pela Globo e seu último capítulo foi remarcado para final de setembro.
Flor do Caribe – Globo – de segunda a sábado – às 18h15.