João Vitor Silva reflete sobre trama de Garota do Momento: 'Colocar o nosso ponto de crítica'
Em entrevista à CARAS Brasil, o ator João Vitor Silva, o Ronaldo de Garota do Momento, fala sobre volta às novelas da Globo em trama com embates sociais
João Vitor Silva retorna às novelas da Globo como Ronaldo em Garota do Momento, nova novela das seis do canal, três anos depois de realizar seu último trabalho na emissora em Verdades Secretas 2. Na trama de Alessandra Poggi, que retrata o Rio de Janeiro dos anos 1950, o ator vive o irmão do meio de Pedro Novaes. Em entrevista à CARAS Brasil, ele reflete sobre o papel social de Garota do Momento: "Colocar o nosso ponto de crítica".
Rock Story (2016) foi a última novela de João Vitor. Depois dela, o ator só retornou à TV em 2021, com Verdades Secretas 2, que foi direto para o streaming. "O convite (para Garota do Momento) surgiu lá atrás, porque eu já tinha trabalhado com Natalia (Grimberg), nossa diretora (artística). Fizemos uma parceria linda em Verdades Secretas. Ela me chamou para fazer um teste para a novela que ela estava iniciando, bem no comecinho. Fiz o teste. No dia seguinte, ela me ligou e falou: 'Cara, já te aprovei. Já gostei desse teste, já mostrei para a direção da Globo, e o pessoal já quer que você faça'. Fiz o primeiro workshop dessa novela ajudando a escolher os atores que ainda entrariam, já escalado para esse personagem", conta.
"É a minha primeira novela das seis em 25 anos de carreira. Dos horários de novelas da Globo, era o único que eu ainda não tinha participado. Então, sou um estreante na novela das seis. Acho que as novelas das seis, geralmente, trazem essa leveza, esse ambiente onde a maldade não se perpetua tanto. Onde até quando a maldade aparece, ela aparece de uma forma um pouco mais leve (...) Já faz um tempo que não tínhamos uma novela de época, então tem todo esse universo mágico, que já encanta muito um artista curioso", emenda.
De acordo com Vitor, o que mais o encanta em Garota do Momento é a possibilidade de recriar o Rio de Janeiro dos anos 50. "Mas agora, numa fabulação crítica, como a gente está enquadrando o gênero da nossa novela. Então, não é só uma novela que retrata o Rio de Janeiro dos anos 50, mas uma novela que quase corrige e quase conta como seria bom se fosse assim. E isso é muito poderoso, enquanto artista, poder colocar o nosso ponto de crítica também sobre essas cenas, nosso olhar sobre a atualidade, mostrar como algumas questões que aparecem lá nos anos 50 ainda perpetuam até hoje. Enfim, acho que é uma novela diferente, uma novela que vai tratar sobre temas muito sérios e muito necessários neste momento, mas com muita leveza e com muita música, muito rock, muitos figurinos lindos e cenários maravilhosos", destaca.
SOBRE RONALDO
Filho do meio de Raimundo (Danton Mello) e Lígia (Palomma Duarte), Ronaldo é irmão mais novo de Beto (Pedro Novaes) e mais velho de Celeste (Débora Ozório). Ainda quando pequenos, eles foram abandonados pela mãe, que fugiu para seguir o sonho de se tornar cantora.
Formado e com um cargo na Hi-Fi Propagandas — empresa de seu pai —, Ronaldo sonha um dia assumir os negócios da família. No entanto, esta posição já está reservada para Beto, que não demonstra muito interesse pelo legado.
É apaixonado por Bia (Maisa), a namorada de Beto, embora nunca tenha se declarado para ela. Ronaldo é inseguro, não apenas porque almeja o que não pode ter - Bia -, mas também porque percebe que as desavenças entre o pai e Beto são mais um sinal de amor do que de rancor.
"Ronaldo é o filho do meio, e ele vive intensamente os dilemas de ser o filho do meio. Todos os dilemas que o filho do meio acaba trazendo, que é um clássico da dramaturgia, né? A inveja do primogênito - ainda mais naquela época, onde o título de primogênito era algo muito importante -, o filho mais olhado, o sucessor do pai; enquanto, na verdade, o Ronaldo é mais parecido com o pai e fica buscando essa atenção e esse olhar da família para ele. Ronaldo tem uma grande dificuldade de se sentir amado por essa família e vive meio na sombra do irmão", relata.
"Ele é um jovem inteligente, formado. É publicitário, trabalha na agência de publicidade com o pai, é o responsável, o diretor de criação da agência de publicidade. Vem de uma família rica, mas que tem todas essas questões. A família já é disfuncional porque a mãe abandonou esses filhos quando eles eram crianças, para viver o sonho dela de ser artista. Então, é uma família que já cresceu de uma forma desestruturada. Naquela época, você ter a sua mãe abandonando a casa para viver um sonho, era uma coisa não muito bem vista, sempre muito comentado - filhos de pais separados, mãe desquitada são termos e rótulos que pesavam muito nos anos 50", acrescenta o famoso.
Apesar de tudo, João Vitor enxerga Ronaldo como um cara determinado, e se identifica com ele nesse quesito. "Ronaldo, para além de todas as questões pessoais, ainda tem que lidar com essas questões de família. Mas tudo isso sempre muito bem humorado, divertido. Todo esse ciúme acaba ficando engraçado para quem vê um pouco de fora; que é um pouco a pegada da novela, trazer esses temas pesados, mas sempre com leveza. O que eu me identifico muito com o Ronaldo é a determinação dele. Acho o Ronaldo muito determinado e acho que temos isso em comum. De resto, fica um pouco complicado achar semelhanças. Espero que não tenham tantas, porque o bichinho não é flor que se cheire (risos)", avalia.
DUDA SANTOS E PEDRO NOVAES
Como já citado, o personagem de João Vitor é irmão de Beto, papel de Pedro Novaes. Este, é apaixonado por Beatriz, vivido por Duda Santos (23). O artista aproveita para enaltecer os dois colegas, e mais um pouco o projeto. "Garota do Momento é uma novela das seis leve, romântica, com muita música, que fala de assuntos muito pertinentes e muito necessários. Uma novela corajosa, transgressora, lindamente encabeçada pela nossa protagonista Duda Santos, maravilhosa; representando de maneira brilhante o que é ser uma mulher preta nos anos 50, com todo esse panorama histórico do Rio de Janeiro", pontua.
"Pedro Novaes é um querido. Adorando me aproximar dele, conhecê-lo cada vez mais. É um ótimo parceiro de cena. Gosta de brincar, de trocar, de jogar junto; está sendo muito divertido construir esses irmãos junto com ele", frisa.
RETORNO ÀS NOVELAS
De acordo com João Vitor, deixar a teledramaturgia nunca foi uma escolha dele. "Depois de três anos, estou retornando às novelas. Não é bem uma escolha muito consciente. Acabou que depois da De Verdade Secreta 2 - que foi a novela que fiz, a minha última na Globo -, fui sendo chamado para fazer outras coisas fora. Fiz Impuros, que é uma série (da Disney+) que eu já faço há sete anos, fui fazer um filme com o Kleber Mendonça (diretor, produtor e roteirista) no meio disso, também fiz um outro filme, uma coprodução Brasil-Holanda, chamado Quatro Meninas, enfim", fala.
"Fui fazendo outros trabalhos fora da Rede Globo. E estou muito feliz com esse retorno, feliz de fazer um horário em que nunca participei. Era o horário que faltava para eu ter ali o meu check completo, em todos os horários de novelas. É um bom retorno com uma oportunidade de trazer para esse público tão fiel das novelas brasileiras um João diferente, mais experiente, mais solto, mais brincalhão em cena, que eu acho que é o que o Ronaldo me pede também nessa novela", destaca.
PRIMEIRA NOVELA
A primeira novela de João Vitor na TV Globo foi Kubanacan. Ambientada nos anos 1950, na fictícia ilha caribenha Kubanacan, a trama satirizava os problemas dos países sul-americanos. "Guardo memórias maravilhosas desse trabalho. Trabalhei com Nair Belo, Lolita Rodrigues (...) E foi lá que conheci a Adriana Esteves e o Vladimir Brichta no início da relação deles. Depois, encontrei com eles em alguns outros trabalhos. Temos um carinho, um afeto muito bem construídos desde aquela época", diz.
"É claro que é diferente fazer uma novela criança e uma novela na fase adulta; a responsabilidade muda, o peso muda, tudo é diferente. Mas, de alguma forma, o fato de ter começado criança me traz um conforto para esse ambiente do set, para o ambiente dos estúdios. Me parece um lugar em que sou muito confortável, e que eu sei muito bem estar ali. Desde criança, vivencio isso. Então, não existe nenhum estranhamento em voltar aos estúdios e gravar essa novela. Pelo contrário, é um resgate, um passeio por essa memória tão linda que eu tive lá atrás - tanto de Kubanacan quanto do Sítio (do Picapau Amarelo), quanto de todas as minhas experiências lá pelos estúdios", completa o artista.
PERSONAGENS MARCANTES
Questionado se ao longo de sua trajetória artística, um personagem o marcou especialmente, João Vitor reforça: "É muito difícil escolher um personagem e apontá-lo como o mais marcante, o mais importante. Os personagens são como filhos pra gente. É como perguntar para a mãe qual é o filho preferido dela. Não sei se é o personagem mais importante, mas acho que enquanto criança é um personagem muito marcante, que colho frutos até hoje".
"Ainda dou palestras falando sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo, sobre a minha experiência de fazer o Pedrinho. Acho que criança sim, de ator mirim, sem dúvida, o trabalho mais marcante que fiz, mas acho que tem um salto muito grande depois do Verdades Secretas, onde acho que o grande público realmente entendeu que "o Pedrinho" tinha crescido e que estava fazendo personagens com cargas dramáticas um pouco mais pesadas. Então, é um trabalho muito marcante, mas não acho que seja o trabalho mais determinante da minha vida", emenda.
O SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
João Vitor Silva viveu o Pedrinho no Sítio do Picapau Amarelo entre 2004 e 2005. No bate-papo, ele relembra histórias de bastidores divertidas da época. "Tenho diversas histórias marcantes do Sítio. Muito difícil não ter muitas memórias de criança. Imagina três crianças - atores que deram vida a Pedrinho, Emília e Narizinho - tentando se divertir nos intervalos? A gente fazia muitas coisas: jogava bola no camarim, subia em árvore na hora do almoço. E tem uma passagem: subi numa árvore, num horário de almoço, com a menina que fazia a Narizinho, a Carol Molinari", conta.
"Na época, a gente gravava ao lado da casa do Big Brother Brasil. E A gente subia nessa árvore para ficar vendo a casa do Big Brother lá de cima. Até que um dia, caí da árvore dentro da casa do Big Brother. E eu estava de figurino, de macacão do Pedrinho, estilingue pendurado no pescoço. Enfim, isso foi uma história que eu conto até hoje, porque foi muito surpreendente cair na casa do Big Brother. Por sorte, os participantes do reality estavam todos trancados dentro da casa, naquela hora de manutenção externa, e não tinham os dummies ainda, eram uns ninjas. Fui tirado da casa por esses ninjas. Tomei bronca da minha mãe, aquela coisa toda", completa o ator.
Deste trabalho incrível de João Vitor, ficaram as lembranças e as amizades. "Tenho contato com muita gente. De vez em quando, falo com a Isabelle Drummond (que fez a Emília). Com a Dhu Moraes, falo sempre. Com a Suely Franco, de vez em quando, quando a gente se encontra. Com a Dona Nicette Bruno, mantive contato com ela durante muitos anos. O (Cândido) Damm, que fez o Visconde, e o Aramis Trindade, que também fez o Visconde. Tenho muito carinho e, apesar de não falarmos sempre, vira e mexe a gente troca uma mensagem ou outra. E estamos sempre querendo saber se o outro está bem, como está; acaba que vira uma família", finaliza.
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