Figurinista de 'Joia Rara' diz se inspirar até em Beyoncé para criar estilos
O figurino é um dos principais itens para a construção de uma época distante da atualidade. Não é à toa que o trabalho de Marie Salles, figurinista de Joia Rara, demorou cerca de quatro meses para ficar pronto. Mesmo presa aos anos de 1930 e 1940, período em que se passa a trama de Thelma Guedes e Duca Rachid, ela se sentiu livre para percorrer diferentes momentos da história.
"Pego vários elementos. Peguei referências de grandes atrizes do cinema, de Madonna e até de Beyoncé, nos dias de hoje. Não preciso ficar presa no tempo. Eu vou e volto", ela explica.
Apesar do distanciamento histórico, diversas peças do figurino estão na lista dos mais pedidos da CAT (Central de Atendimento ao Telespectador). Um vestido preto e branco, um maxi colar grafite de Silvia, papel de Nathalia Dill, um vestido branco e um brinco prateado de Iolanda, interpretada por Carolina Dieckman, estão entre os mais requisitados. "O público gosta daquilo que ele conhece, que acha bonito e que tem relação de proximidade. Meu maior desafio é fazer o público se identificar", ressalta a figurinista.
A criação do núcleo budista foi uma das mais trabalhosas. Primeiramente, o vermelho intenso das roupas dos monges ficava chapado na tela. Por isso, Marie precisou tingir as peças em diversos tons de vermelho para deixar as cenas menos monocromáticas. "Se fosse um tom só, ia aparecer um borrão na tela. Trabalhei com uns cinco tons diferentes. Foi um trabalho intenso de tingimento", lembra ela, que preferiu seguir à risca o modelo das vestes budistas. "Estou falando de uma religião. Preciso ser o máximo fiel. Fomos de um preciosismo enorme."
Como parte da novela se passa em um fictício local nos Himalaias, Marie se permitiu desapegar da realidade e tomou diversas regiões como referências geográficas. A figurinista buscou influências de vários países, como China, Indonésia, Mongólia e um pouco do Japão. "Pesquisei toda a Ásia. Tem um pouco de tudo. Fiz uma mistura de toda a minha pesquisa e criei essa cidade imaginária", explica.
O núcleo do Rio de Janeiro passa por diversas subdivisões, como entre ricos e pobres e as épocas de 1934 e 1945. A existência de dois períodos distintos ao longo da novela fez com que Marie reaproveitasse parte do figurino. Diversas peças da década de 1930 foram adaptadas para os anos de 1940. "Fiz um híbrido. De 30 para 40, mudei a forma, tirei os ombros arredondados e os babados e deixei as saias mais justas. Senão, ia ser um orçamento enorme e um armário sem tamanho", brinca.
Além disso, Marie também precisou se adaptar às nuances das tramas das personagens. Como Iolanda, que começa a história pobre e é vendida para se casar com Ernest, papel de José de Abreu. No começo, o visual de Iolanda era de vestidos mais soltos, floridos e românticos. Já na segunda fase do folhetim, o figurino fica mais sóbrio e fechado. "É uma obra aberta. Nunca se sabe o que vai acontecer", aponta.
No entanto, o principal conceito de figurino da novela está pautado na mistura de estampas, recurso pouco habitual na moda. "O grande barato é tudo misturado. Ninguém é liso. Tem sempre uma blusa xadrez com uma saia de listra. Mas poucas pessoas reparam. Acho que é porque televisão é muito 'close'", argumenta.
Marie preferiu fugir do óbvio e do comum durante a criação do núcleo do fictício cabaré Pacheco Leão. Para compor o visual sedutor e colorido das vedetes, a figurinista e sua equipe buscaram inspirações em filmes do cineasta Woody Allen como Tiros na Broadway e A Era do Rádio.
"Os anos 1940 são muito ricos em mistura de estampas. Já fiz trabalhos baseados no Moulin Rouge. Quis ir pelos grandes musicais e as grandes atrizes, como Ava Gardner", afirma.
Uma das principais coristas do estabelecimento, Lola, interpretada por Letícia Spiller, foi inspirada em Carmen Miranda. Por isso, apresenta um visual repleto de babados, lingerie aparecendo e mistura de vermelho, verde e roxo. "A Lola é pura cor. Me inspirei até em editoriais de moda atuais", entrega a figurinista.