Thelma Guedes e Duca Rachid deixam 'Joia Rara' com ar de "déjà vu"
O tom lúdico é parte importante das tramas de Thelma Guedes e Duca Rachid. Com exceção da urbana Cama de Gato, de 2009, as novelas assinadas pela dupla carregam em sua espinha dorsal boas doses de misticismo e romance no estilo contos-de-fadas. Tudo isso feito em uma embalagem de teor dramático e com "pegada" aventureira. Caso do "remake" de O Profeta, de 2006, e, mais recentemente, de Cordel Encantado – obra de maior repercussão das autoras. Amparando-se em uma estética cinematográfica, unir o cangaço a um fictício reino europeu foi a grande "sacada" da novela. Deu tão certo que chega a incomodar a aproximação de Joia Rara com o folhetim de 2011. No entanto, a atual novela das seis carece do frescor e da agilidade de Cordel Encantado.
As semelhanças já começam pela escalação do elenco. Além dos protagonistas, Bruno Gagliasso e Bianca Bin, 17 nomes figuram nos dois "castings". Aliando isso à temática de época e à luz especial utilizada pela equipe técnica comandada por Amora Mautner, a sensação de "déjà vu" é inevitável. E fica ainda mais forte ao comparar as aberturas de ambas as tramas, igualmente feitas em animação e com canções compostas e interpretadas por Gilberto Gil.
Chega a soar preguiçoso o tratamento e o andamento da trama de uma dupla tão promissora quanto Thelma e Duca. Cheia de histórias auto-referentes, como as que envolvem as personagens de Bianca Bin e Natalia Dill, ambas encantadas pelo mesmo homem, assim como fora em Cordel Encantado. Além disso, é estranha a existência de tantas cenas e personagens que remetem a tramas recentes da Globo. Nas cenas em que Pérola, de Mel Maia, se perde no meio da floresta e é abandonada, fica impossível não lembrar dos capítulos iniciais de Avenida Brasil, onde a mesma atriz era deixada no lixão e corria, em vão, pedindo socorro.
No caso dos personagens, Carmo Dalla Vecchia se repete na pele do aprendiz de vilão Manfred, espécie de versão "de época" de Fernando, papel vivido por ele em Amor Eterno Amor, do ano passado. Vilã inicialmente pensada para Zezé Polessa, mas que ficou nas mãos de Ana Lúcia Torre, a vingativa e interesseira Frau Gertrude parece uma reencarnação de origem alemã da não menos oportunista Débora, personagem vivida pela atriz em Alma Gêmea, de 2006 – novela em que, inclusive, Thelma Guedes foi umas das colaboradoras.
Recorrer a atores confiáveis é uma tática tradicional e tida como saudável no meio televisivo. No entanto, é preciso ter cuidado ao escalar os intérpretes para tipos já vividos antes. Na mesma medida em que é importante, ao menos, tentar distanciar tramas e situações. É certo que todas as histórias já foram contadas. Mas cabe aos autores, agraciados com altos salários, mostrarem outras perspectivas. Não é necessário – ou possível – se reinventiar a cada trabalho, mas é preciso avançar para não correr atrás das mesmas bases. Bem feita e com elenco estrelado, Joia Rara é uma novela cheia de méritos. Pena que o que existe de melhor na produção já foi utilizado antes.