Ator global diz que não tinha grandes intenções na carreira
- Manoela Reis
Mário José Paz abandonou a vida mais tranquila de Búzios, litoral do Rio. O argentino, intérprete do eufórico técnico de futebol André Farnel em Malhação, da Globo, é dono de uma pousada conhecida na região e do Cine Bardot, além de organizar o Festival de Cinema do balneário. Com tantas funções, ele acabou caindo de paraquedas na tevê ano passado e hoje já está com contrato longo com a Globo. "Não tinha grandes intenções. Estou levando este momento e vivo como ator pois sei interpretar", minimiza. Mário chamou a atenção do público quando interpretou o "boa praça" Maradona em Viver a Vida, novela de Manoel Carlos exibida na mesma emissora. Em seu primeiro papel de destaque, ele roubou a cena ao lado Giovanna Antonelli e Klara Castanho e conquistou a torcida do telespectador para ficar com Dora, papel de Giovanna. Apesar do destaque inesperado e de até hoje ser chamado nas ruas como Maradona, Mário não teme ser taxado como "ator de apenas um personagem". "Para sempre Maradona, assim como Pierce Brosnan será sempre reconhecido como James Bond", ironiza, às gargalhadas.
Como é interpretar um técnico de futebol no Brasil sendo da Argentina, principal rival do país no esporte?
É engraçado. Sempre que me perguntam para qual seleção eu torço quando a partida é Brasil X Argentina, respondo que opto pelo Uruguai. Não sou fissurado em futebol. Mas os brasileiros são e, quando percebem que sou argentino, brincam, fazem piadas, tiram sarro, mas eu me divirto. Essa rivalidade me parece saudável fora do campo já que não senti nenhuma agressividade. Normalmente a abordagem é bem simpática e brincalhona.
Qual a principal diferença entre trabalhar em uma novela das nove e estar no elenco de um infanto-juvenil exibido no fim da tarde?
Diferente é contracenar com adolescentes e ser assediado por eles. É um público caloroso e que é fiel à trama. Já o elenco é divertido, assim como em Viver a Vida. São meninos novos e empenhados em aprender. Encaram como uma grande oportunidade e isso dá um certo frescor à trama.
Você ainda é identificado nas ruas como o argentino de Viver a Vida. Acredita que ainda é difícil para o público da tevê separar o ator de seu personagem
Acredito que sim. Mas lido muito bem com isso, porque entendo o que quer dizer. Não é comigo. Não é o Mario que está ali, eu sou o arquétipo, uma fantasia das pessoas que querem estar perto do Maradona ou do André Farnel. Quando uma pessoa quer tirar foto comigo, eu sei que não sou eu e sim os meus personagens. E o retorno que dou para as pessoas é o que elas esperam desses papéis. Elas acompanham, entram na fantasia, e quero dar isso para elas. É fantástico interpretar um personagem que recebe carinho. O contrário deve ser bem difícil.
Você tem 59 anos e já tem experiência com o cinema há aproximadamente 50. Por que demorou tanto para ingressar na tevê?
Gosto de interpretar. E acho que interpretamos a todos os momentos. Não me parece diferente quando estou dirigindo um festival de cinema, ou quando estou como mordomo na Itália ou como mendigo em Londres. Me parece que são todos personagens do mesmo autor. Eu nunca tentei tevê. Me chamaram. Mas gostei e me sinto muito à vontade nesse meio. Não gosto de rotina.
O cinema te incentivou a trabalhar com arte. Pretende focar novamente nesse veículo?
A minha história é de como o cinema pode influenciar a vida de uma pessoa. Eu não durmo no cinema, e sim acordo. Vejo a vida através dos filmes. Construí um cinema antes mesmo de ter uma casa. É o lugar onde me sinto mais honesto e acredito em mim. Nunca vou abandoná-lo. É uma linguagem que entendo, conheço. Sou na verdade um espectador. Vou fechar as cortinas assim: "Mario José Paz: um espectador". (risos)