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"É como viver um faz de conta", diz ator de 'Meu Pedacinho'

4 jul 2014 - 12h43
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Flávio Bauraqui
Flávio Bauraqui
Foto: Carta Z Notícias/Isabel Almeida / TV Press

Flávio Bauraqui define a arte de atuar como uma grande brincadeira. E é na colorida Vila de Santa Fé, de Meu Pedacinho de Chão, que o intérprete do pueril Rodapé evidencia sua forma de encarar a profissão.

"É como viver um faz de conta. Posso interpretar as coisas mais absurdas que ninguém me questiona", explica. Sem deslumbres ou afetação, o ator viu na trama de Benedito Ruy Barbosa uma das grandes oportunidades de sua carreira para equilibrar a qualidade artística e a visibilidade da televisão. ''É muito bom ver que a TV está possibilitando novos jeitos de contar histórias. É quase como um pequeno grupo de teatro. Há espaço para todos e todos têm importância", valoriza.

Natural de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, aos 27 anos, Flávio deixou sua cidade natal para investir na carreira de ator no Rio de Janeiro. Na capital carioca, ele encontrou um emprego de porteiro para conciliar com as poucas peças que fazia. Com uma carreira artística incerta, viu sua trajetória mudar após ser aprovado para o elenco da peça Forrobodó, que o fez ganhar repercussão no cenário teatral. "Depois de muito tempo que a carreira vingou. Mas, quando deu certo, decidi ser onipresente. Fazia cinco espetáculos na semana. Essa quantidade de trabalho foi me ajudando a fazer meu nome no meio", lembra.

Luiz Fernando Carvalho é um diretor que preza pelo trabalho de pré-produção. Como foi o processo de composição para o Rodapé?

Flávio Bauraqui - 

O personagem tem muito da mão do Luiz. A gente se baseou em um tipo que é analfabeto, explorado, negro e que vive em tempos difíceis. É um cara que aprendeu a se virar e sobreviver no meio. Pegamos uma referência de arlequim para ele, que é meio criança e gosta de implicar com os outros. Tem esse andar diferenciado e semelhante a um bobo da corte. Fui em cima do lado criança, lúdico e de palhaço.

A prosódia é detalhe muito característico em Meu Pedacinho de Chão'. Como foi o período de construção para o sotaque do Rodapé?

Flávio Bauraqui - 

Sou gaúcho e moro no Rio de Janeiro há anos. Não foi fácil me livrar dos vícios de linguagem. Buscamos para o meu personagem um tom mais fofoqueiro. Tenho um timbre muito grave e procuramos deixar um pouco mais acima. O Rodapé faz um papel de fofoqueiro e queríamos transparecer isso na forma de falar. Desenvolvemos uma fala rápida e baixa, quase fofocando mesmo.

Você tem trabalhos de forte composição na sua carreira, como em  Alexandre e Outros Heróis e Duas Caras, por exemplo. Fazer personagens fora da linha naturalista atrai você?

Flávio Bauraqui -

 Tenho um carinho maior por trabalhos mais complexos. Gosto de todo esse processo de ensaiar, construir e descobrir o personagem. É algo bem artesanal mesmo, do teatro. A gente vive fugindo de rótulo na vida, mas esse eu gosto. Ajuda a viver vários tipos. Eu não ia aguentar interpretar sempre a mesma coisa. As possibilidades de variações são tantas que seria burrice bater sempre na mesma tecla. É um desperdício.

Você estreou nas novelas com 40 anos em Sinhá Moça. Por que esse começo tão tardio?

Flávio Bauraqui -

 Minha opção sempre foi o teatro. Reneguei durante muito tempo a tevê. Mas, um dia, percebi que não ocupar um espaço vago é burrice. Como fui investindo cada vez mais em teatro e cinema, isso foi aumentando minha visibilidade dentro do meio e acabou me catapultando para a televisão. É importante representar todas as áreas como artista. O público da tevê é outro. É muito maior. A visibilidade é diferente.

Mesmo com a sua entrada na TV, você não deixou de atuar bastante no mercado cinematográfico e teatral. É uma necessidade sua conciliar televisão, teatro e cinema?

Flávio Bauraqui

- O legal dessa carreira é exatamente a possibilidade de transitar em várias áreas. São duas coisas distintas e eu convivo muito bem com elas. Na minha cabeça, ser ator não é uma questão mercadológica. É algo que justifica a minha existência. Fiquei muito tempo trabalhando como porteiro para poder continuar com as minhas peças. Hoje, é um privilégio poder me dedicar às mais diversas frentes e me sustentar com a minha arte. Tenho de aproveitar.

Fonte: TV Press
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