Novela da Globo foi barrada pela ditadura dez dias antes de estreia há 48 anos
Trama da Globo já tinha capítulos gravados e produção estava a todo vapor, o que rendeu prejuízo de milhões para a emissora
Em 3 de janeiro de 1977, há 48 anos, a Globo estrearia a novela Despedida de Casado, trama que ocuparia a faixa das 22 horas, mas foi barrada pela ditadura dez dias antes da estreia. A emissora precisou correr com uma substituta para a obra que já havia sido anunciada como próxima novela do canal.
Censura recorrente
O texto de Despedida de Casado estava nas mãos de Walter George Durst, que contava inclusive com assessoria de um psiquiatra, o Dr. José Ângelo Gaiarsa. O cuidado com construir uma narrativa realista, entretanto, não foi suficiente para os censores do Governo Militar, que enxergaram no folhetim um ataque aos bons costumes.
Segundo o jornalista NilsonXavier, do Teledramaturgia, a notificação de proibição da novela foi recebida pela direção da TV Globo de Brasília dez dias antes de sua estreia oficial, com as chamadas já no ar. O comunicado do Serviço de Censura e Diversões Públicas declarava a obra, que tratava do dia a dia e desgaste de um casamento, como "atentatório aos bons costumes".
Como recorda Xavier, essa não foi a primeira trama da emissora barrada pelo governo. Um ano e três meses antes, outra novela havia sido completamente vetada: o sucesso Roque Santeiro, que acabou gravado em 1985. Além das proibições, o governo da época também interferia com cortes e mudanças drásticas nos textos de diversos autores e emissoras.
Liberdade e casamento
Inicialmente, de acordo com o Teledramaturgia, a sinopse havia sido liberada pelo Departamento de Censura, mas a opinião mudou quando os trinta primeiros capítulos já prontos foram exibidos com antecedência para os censores.
Despedida de Casado sofreu por abordar a separação, um tema considerado tabu para os conservadores da época. No enredo, o casal Stela (Regina Duarte) e Rafael (Antônio Fagundes), com mais de dez anos de união, enfrentam o desgaste do dia a dia e problemas familiares que, acumulados, geram o fim da relação.
A proibição da novela levou a emissora a recorrer a uma reprise como tapa-buraco. A substituta escolhida foi Bem-Amado (de 1973), exibida enquanto Durst trabalhava em uma nova trama.