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Remake de ‘Pantanal’ é chance de estimular preservação do bioma

Especialistas temem romantização de conflito entre fazendeiros e pantaneiros, mas veem na novela a possibilidade de incentivar proteção

13 abr 2022 - 05h00
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Juma (Alanis Guillen), em Pantanal
Juma (Alanis Guillen), em Pantanal
Foto: Globo/João Miguel Júnior

Há uma semana no ar, o remake de 'Pantanal' pode ser entendido como um recado: é hora de fazer a natureza valer mais viva do que morta. Isso porque, apesar das paisagens paradisíacas exibidas pela Globo, autoridades no assunto afirmam ao Terra que os danos causados ao bioma nos últimos tempos podem ser considerados "críticos" e até "irreparáveis".

Juliana Camargo, uma das fundadoras da AMPARA, ONG que trabalha na preservação de animais típicos do Pantanal, acredita que o avanço desgovernado da pecuária seja um dos principais motivos para este cenário. O desmatamento e queimadas promovidos para ocupação e cultivo de pastagens resultam em mortes de espécies ameaçadas de extinção e a degradação do bioma.

"Existem pantaneiros que criam gado, mas essa criação coexiste com a natureza e com a fauna que ali habita. Quando falamos em pecuária ostensiva, falamos de fazendeiros poderosos, que devastam o ecossistema sem qualquer tipo de cautela", analisa Juliana.

Só no primeiro semestre de 2020, por exemplo, foram registrados 2.534 focos de incêndio, número 158% acima do contabilizad no mesmo período de 2019. Os números são do Instituto Naiconal de Pesquisas Espaciais (Inpe). Cerca de 20% da vegetação pantaneira foram destruídos pelas chamas, afetando significativamente as espécies animais que ali convivem.

Juliana Paes como Maria Marruá, em Pantanal
Juliana Paes como Maria Marruá, em Pantanal
Foto: Divulgação | TV Globo

Bioma é vítima do desmonte

Em meio às queimadas, Juliana Camargo atuou ativamente no resgate de animais no Pantanal. A lembrança do período é com pesar. De acordo com a ativista, foram mais de 93 espécies atingidas, entre antas, onças-pintadas e outros bichos.

Além disso, a ajuda governamental foi "praticamente nula" e mais do que atrasada. Em sua avaliação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) renegou a causa e, quando aceitou ajudar, a maior parte do estrago já estava feito.

A postura não surpreende especialistas como o antropólogo e historiador Felipe Sussekind. Em entrevista ao Terra, ele afirma que o Brasil tem passado por um "desmonte de legislações" que se tornou uma "ferramenta de destruição" da natureza.

Em abril de 2020, período em que o Pantanal era consumido pelo fogo, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou que era preciso aproveitar a pandemia de Covid-19 para "passar a boiada". O gestor fazia referência às reformas em legislações que visavam à preservação de ecossistemas. 

Novela pode ajudar

Há décadas o Pantanal vem sofrendo as consequências da modernização e intensificação da pecuária, com a substituição de espécies nativas por pastagens exóticas, atividades de mineração onde se encontram as cabeceiras dos rios e o desmatamento e ocupação desse espaço. A consequência é o risco de alteração no ciclo das águas, que é um dos fundamentos ecológicos do bioma. 

Mas o pesquisador Felipe Sussekind acrescenta que a população pantaneira convive com o que ele chama de "eliminação sistemática" de onças como retalização à predação do gado. Autor de 'O Rastro da onça: relações entre humanos e animais no Pantanal' (2014), Sussekind diz que o turismo ecológico na região do Mato Grosso tem inibido parcialmente este quadro, mas não completamente.

"Pelas notícias que temos, a perseguição das onças continua como prática comum. A espécie está ameaçada e protegida por lei, mas a caça aparentemente vem se intensificando e a proteção, se tornando menos efetiva", pondera ele.

Apesar do cenário "crítico" e "irreparável", nas palavras dos especialistas ouvidos pelo Terra, a exibição do remake de 'Pantanal' pode beneficiar a causa ambiental. Juliana Camargo, CEO da ONG AMPARA, vislumbra a oportunidade de captar investimentos para a construção de postos de atendimento para animais feridos e corredores verdes, usados para impedir o avançao da pecuária. Com isso, partes do bioma podem ser mantidas intactas, sem risco de ocupação para criação de pasto.

"A AMPARA está com uma campanha para pessoas físicas ou jurídicas interessadas em conservar o Pantanal. A ONG propõe a compra de áreas para manter partes do bioma intacto, evitando assim o uso das áreas para criação de pasto", explica.

Por outro lado, Juliana teme que a história do personagem José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira) romantize o agronegócio e deturpe as tensões que existem entre fazendeiros, panteneiros e a fauna nativa do ecossistema.

"Não serão todas as pessoas que terão uma visão crítica, mas enquanto a novela estiver no ar é nosso dever cutucar a ferida", observa.

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Fonte: Redação Terra
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