"Não existe botox para a alma" diz Tuna Dwek sobre vilã Sueli Pedrosa
A postura sisuda de Sueli Pedrosa, de Sangue Bom, é o completo oposto do jeito leve e descontraído de sua intérprete, Tuna Dwek. Aos 56 anos, a atriz esbanja bom humor para falar sobre as mais variadas atividades que desempenha na vida, que vão de tradutora a escritora, passando por trabalhos com locução e o seu forte, a atuação. O sorriso já fácil de Tuna fica ainda mais evidente quando o assunto é Sueli Pedrosa, que já virou seu xodó após interpretá-la em duas novelas, Ti-Ti-Ti e agora em Sangue Bom, ambas da dupla Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari. "Ela voltou com requintes de sensacionalismo. É capaz de qualquer coisa por um furo", diverte-se.
Formada em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo e pela Universidade de Paris, Tuna não se contenta em estar só na tevê. Quando Sangue Bom terminar, a atriz poderá ser vista no cinema. Em 2014, estará em cinco produções. Entre elas, Quando Eu Era Vivo e O Aprendiz de Samurai. Com tantos projetos engatilhados, a palavra de ordem é descansar assim que a atual trama das sete sair do ar. "Vou para Nova Iorque carregar as baterias. Mas já planejei um circuito de peças que estou doida para ver por lá", conta, deixando escapar que nem nas férias se desliga do trabalho.
Confira a entrevista:
Em Ti-Ti-Ti, você ia fazer apenas uma participação como a Sueli Pedrosa e a personagem ficou até o fim da novela. Já em Sangue Bom, ela entrou com um status maior. A que você credita esse sucesso?
Tuna Dwek – A Sueli é uma personagem muito bem construída, muito sólida. Além disso, é totalmente crível. Todo mundo conhece alguém extremamente antiético como ela, que só se importa com o que está fazendo e esquece do mundo em volta. Além disso, é sorrateira, barraqueira. As pessoas também se identificam com isso, os reality shows estão aí para não me deixar mentir. Ela é a própria contradição humana. Se por um lado é frágil e se apaixona, por outro, está escavando o passado da Amora (personagem de Sophie Charlotte). As pessoas são o que são. Não existe botox para a alma. E a mistura desses lados todos faz com que haja uma identificação muito grande.
E como você se preparou para repetir a dose em Sangue Bom?
Tuna Dwek – A essência da Sueli continuou a mesma. Houve alguns ajustes, como a questão amorosa e o aumento da sede por notícias das celebridades. Durante a preparação, algumas obras foram emblemáticas para mim, como o filme Montanha dos Sete Abutres (1951). Nesse filme, o Kirk Douglas interpreta um jornalista sensacionalista que faz de tudo para manter um mineiro preso em uma mina por seis dias. Tudo para que a matéria dele renda. Eu me inspirei muito nesse espírito sensacionalista, onde o que mais importa é se a notícia vai beneficiar você como repórter, sem se preocupar com a consequência na vida do outro. Outra obra que me influenciou muito foi o Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues.
Além de ser atriz, você se divide em outras funções, como intérprete, locutora e escritora. Como surgiu esse interesse em expandir os horizontes?
Tuna Dwek – Acredito que a necessidade me fez procurar meios de expandi-los. A profissão de ator é muito inconstante, tem de ralar muito, fazer muito teatro. Ainda assim, você encontra períodos de interrupções, de buracos, onde você só ouve "não". É um terror. Mas o segredo é não se amargurar e saber que isso faz parte do jogo. Então, fui atrás de usar meu diferencial. Eu gosto de aprender idiomas e tenho facilidade para isso. Falo francês, italiano, inglês, espanhol e um pouco de árabe. Por isso, abriu-se um leque para mim. Comecei a ser chamada para ser intérprete em eventos internacionais, festivais de teatro. Com isso, veio a locução, a vontade de escrever e todo o resto.
Dividindo-se em tantas vertentes, quando você percebeu que também queria ser atriz?
Tuna Dwek – Essa é a pergunta que me faço sempre e a mais difícil de responder. Eu acredito que seja uma vocação, embora eu tenha fugido dela por muito tempo. A vida foi me encaminhando para isso. Sempre tive muito contato com as artes, gostava de escrever, meu pai sempre me levava ao teatro aos domingos. Comecei a fazer teatro amador com 7 anos. Aos 19, quando estava ficando mais sério, estava fazendo peças maiores, tive de me mudar. Fui para a França por causa da ditadura política brasileira e morei por dois anos e meio lá. Fiquei esse tempo todo afastada do teatro, fiz faculdade de Ciências Sociais. Quando voltei para o Brasil, voltei angustiada. Senti que estava faltando alguma coisa na minha vida. Então, me matriculei na Escola de Artes Dramáticas e não parei mais.
Você já escreveu biografias de pessoas como de Maria Adelaide Amaral e Denise Del Vecchio. Não sente vontade de escrever também sobre a sua vida?
Tuna Dwek – Sinceramente, eu me acho muito desinteressante. Sou muito insegura. Se insegurança viesse no exame de sangue, com certeza minha taxa seria altíssima (risos). E não é falsa modéstia. Mas a Márcia Camargo, uma historiadora de São Paulo, vem tentando me convencer há algum tempo e, recentemente, me deixei levar. Mas é ela quem vai escrever, eu acho que não seria capaz de falar sobre mim mesma. Acredito que o resultado final vai ser muito gratificante para mim. A partir da minha experiência, eu posso ajudar as pessoas. Apesar de ter vivido momentos muito difíceis, ter tido depressão e síndrome do pânico, eu saí delas de maneira muito feliz. Sou para cima, alegre, não reclamo da vida. Acredito que isso possa mexer com as pessoas em um certo nível.