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"Não há maldade", diz Sophie Charlotte sobre Amora de 'Sangue Bom'

8 mai 2013 - 10h26
(atualizado às 12h58)
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Experimentar o posto de protagonista na TV é algo que Sophie Charlotte já vivenciou quando encabeçou o elenco de Malhação no final de 2007. Mas agora, sendo escalada pela primeira vez em um dos papéis centrais de uma novela, a atriz reconhece que a oportunidade veio com certa zona de conforto. Na pele da deslumbrada Amora de Sangue Bom, Sophie divide com outros cinco colegas a responsabilidade de movimentar a trama central do folhetim de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari: Marco Pigossi, que vive o florista Bento, Fernanda Vasconcellos, que interpreta a engajada Malu, Humberto Carrão, que encarna o revoltado Fabinho, Isabelle Drummond, que dá vida à invocada Giane, e Jayme Matarazzo, o engomadinho Maurício. 

"Isso fortalece. Dividimos a parte boa e também a parte dos riscos. É mais gostoso e dá uma tranquilidade saber que um pode salvar o outro caso alguém se perca no meio", avalia. Na história, Amora é uma ex-menina de rua que foi para um orfanato quando criança, sendo adotada um ano depois por uma atriz que a transforma em uma celebridade. Com isso, seus valores se invertem e, em uma espécie de autodefesa, passa a abominar tudo que faz parte do universo de seu passado. "Torço para que a gente veja uma história de redenção através da Amora. Alguns a veem como vilã, mas não há maldade ali. É só um meio de se proteger", defende.

Em Sangue Bom, você interpreta uma "it girl". Que preparação esse tipo de personagem demanda?

Eu costumo dizer que, enquanto a Fernanda Vasconcellos foi para as ONGs fazer trabalho voluntário, eu entrei na internet. Li textos e vi vídeos de várias dessas garotas que ditam tendências nos meios de comunicação. Hoje em dia, sigo várias nas redes sociais, estou ficando bem antenada nesse meio. É legal porque esse foco excessivo na aparência contrasta bastante com a pegada social que a novela tem, discutindo questões de um jeito que nem sempre se vê no ar. 

Que tipo de discussão social, por exemplo, você acha que pode se destacar em Sangue Bom?

Não acho que seja o grande filão da novela, mas acho muito legal a forma como a adoção está sendo mostrada. Todo mundo incentiva a adoção e nem de longe eu condeno. Ao contrário, acho que é uma solução na vida de inúmeras crianças. Mas é preciso que se tenha um juizado de menores de olho em quem está adotando. Às vezes, uma pessoa tem todos os requisitos financeiros, mas falta controle emocional. Essa discussão é interessante. 

Sangue Bom faz uma crítica a pessoas que vivem de aparência e se preocupam mais com o "ter" do que com o "ser". E usa uma apresentadora de TV para discutir um dos vértices dessa trama. Como lidou com essa crítica ao meio em que você trabalha?

Achei natural. Na verdade, se a gente for analisar, qualquer campo profissional está muito em cima das aparências, do que você tem. Essa não vai ser só uma brincadeira com relação ao meio artístico, mas a qualquer um. É algo que a gente vê na medicina, na justiça, na engenharia e tantas outras áreas. Não vou ser hipócrita e dizer que não há atores assim, mas acho até que outros profissionais lidam de uma maneira pior com esse jogo de poder e interesse do que os artistas.

A Amora, pelo jeito como trata as pessoas, é vista como uma espécie de vilã entre os seis personagens principais. Como você enxerga a personagem nessa reta inicial da trama?

Não a vejo como vilã, até porque a Amora tem um passado que justifica a maioria das suas atitudes. E eu espero que a gente veja uma redenção dela ao longo da novela. Ali, temos três personagens que sofreram com o abandono. No caso dela, ficaram muitos traumas. Isso mexe com os valores, não consigo julgar essa posição. O grande problema é que ela não consegue olhar para o outro. Na teledramaturgia, normalmente, essa é uma das características dos vilões. Mas não é maldade, é mais defesa. 

Você fala em redenção e, pela história, essa parece mesmo a proposta. Em que caminho você tem investido para tentar conquistar a torcida do público?

Eu não estou preocupada, por enquanto, em ganhar o telespectador. Mas, sem dúvidas, é na relação dela com o Bento que aparecem suas fragilidades e sua pureza. Tanto que esse reencontro dos dois faz com que se perceba que, apesar de ela ser aparentemente fútil e superficial, estou interpretando alguém que já teve uma leveza e pureza. E, se a novela caminhar para mostrar isso, acho que vou poder trabalhar bastante em cima dessa transformação. 

Apesar de ser uma trama das 19h, o humor não parece estar tão forte no núcleo principal. Existe abertura para isso mudar?

Pelo que estou vendo, a comédia, de fato, não é a linha dos seis personagens centrais. Talvez aumentem isso com algum efeito de edição ou sonorização em determinadas sequências, mas o nosso foco não é fazer graça. A Amora, por exemplo, tem essa loucura por sapatos, com alguns até iguais. E a preocupação exagerada dela e da mãe com a imagem até rende umas situações cômicas. Mas nada muito caricato. É um tom bem diferente do que eu experimentei às 19h em Ti-Ti-Ti

Em Ti-Ti-Ti, que a Maria Adelaide Amaral também escreveu, você interpretou uma mulher com um comportamento fútil e deslumbrado. Chegou a sentir receio de se copiar em cena? 

Não bateu esse tipo de coisa porque lá era uma personagem que não tinha muita lógica. E isso abria a possibilidade de eu trabalhar um monte de coisas. Eram excentricidades e loucuras misturadas a armações que não davam em nada, mas com esse canal da total falta de lógica. Aqui, não. Desta vez, interpreto uma mulher inteligente e isso fica evidente o tempo inteiro. O Dennis Carvalho tem me ajudado muito a encontrar o tom certo. 

Essa é a quarta novela seguida em que você trabalha com Marco Pigossi, segunda em que fazem par romântico. Isso facilita ou atrapalha vocês?

São papéis completamente diferentes, então não rolou uma preocupação. O Marco já é um grande parceiro, um ator que admiro bastante. Acho que a gente consegue tirar o melhor um do outro. E estamos crescendo juntos, começamos mais ou menos ao mesmo tempo na TV e tivemos muitos trabalhos em comum. A nossa carreira é parecida, o que acaba nos aproximando. Então, é um facilitador, sem dúvida. Talvez se não fosse ele e se não rolasse essa energia que rola entre a gente, pudesse atrapalhar. Mas, do jeito que vem acontecendo, só tem nos favorecido. 

Dividir o posto de protagonista com cinco pessoas ameniza a responsabilidade da função?

O fato de serem seis pessoas encabeçando a trama central nos fortalece. É uma união, estão todos no mesmo barco querendo e fazendo de tudo para dar certo. A Fernanda Vasconcellos já viveu isso várias vezes e a experiência dela ajuda a gente nisso. É uma divisão tanto das responsabilidades e inseguranças quanto das descobertas e alegrias. É muito mais gostoso e dá uma tranquilidade, sim, saber que um pode salvar o outro caso alguém se perca no meio. 

Desde que protagonizou Malhação, entre 2007 e 2008, você vem emendando uma novela em outra, sendo reservada antes mesmo de sair do ar. Como analisa essa trajetória em apenas seis anos de televisão?

Olha, eu fico orgulhosa, sim, mas tento não pensar nessas coisas. Eu sei que chega uma hora em que a gente para, reflete o que fez até ali, o que ainda quer fazer e eu tenho mil planos. Só que agora o que me deixa mesmo feliz é poder circular por equipes diferentes. Conheci pessoas novas, repeti algumas parcerias nesses trabalhos, como com o Jorge Fernando, que me dirigiu duas vezes. Você falou seis anos agora e me senti estranha. De verdade, não tenho essa consciência de tempo. O que eu fiz foi seguir um caminho de acordo com as portas que se abriam.

Talento importado

A pele morena e a fala simpática fazem Sophie Charlotte passar fácil por carioca. Mas a atriz nem brasileira é. Sophie nasceu na Alemanha em 1989 e se mudou para o Brasil apenas aos 9 anos. Filha de pai brasileiro e mãe alemã, aprendeu português bem pequena, assim que começou a falar. Depois, se naturalizou brasileira. Mesmo assim, no início da carreira, precisou de ajuda profissional para eliminar o sotaque "gringo".

Um exercício que deu certo, já que hoje fica imperceptível deduzir sua origem durante mais de meia hora de conversa. Algo que, na época em que viveu a romântica Angelina de Malhação, ficava mais evidente. "Mudei muito de lá para cá. Fiz trabalhos que me ajudaram demais e que foram fundamentais para que eu chegasse onde estou. Hoje, me sinto um pouco mais madura", avalia. 

A boa safra de personagens na TV – de 2008 para cá, Sophie já fez Caras & Bocas, Ti-Ti-Ti e Fina Estampa, além de protagonizar um episódio do seriado As Brasileiras – tem sabor especial para a atriz. Antes de conquistar o posto de mocinha de Malhação, ela fez testes ao longo de seis anos para o folhetim infantojuvenil. Não chegou a desistir da carreira principalmente porque, em 2006, conseguiu uma vaga no elenco de apoio de Páginas da Vida, interpretando uma amiga da bulímica Gisele, de Pérola Faria.

"Tudo que a gente consegue fácil pode se perder da mesma forma. Dei passos do tamanho das minhas pernas. Não adianta querer mais do que a gente pode fazer. No meu caso, as coisas aconteceram no tempo certo", filosofa.  

Jogo de aparência

Uma das preocupações de Sophie na hora de construir Amora foi com o visual da apresentadora de TV. É que algumas referências de jovens que ditam tendências de moda são de pessoas que exageram um pouco nas roupas e acessórios. O que, no caso da personagem, poderia ficar caricato demais em cena. "Muitas meninas se vestem como se estivessem em um desfile o tempo todo, com neon dos pés à cabeça. Na novela, adotamos um 'look' que eu denomino como o que não 'espanta bofe'. É o tipo de traje que nenhum homem vai ter vergonha de ver na namorada", explica.

Responsável pela caracterização dos personagens, Fernando Torquatto sugeriu um corte curto para a atriz, que sempre atuou com os fios longos. Uma mudança com a qual, aos poucos, Sophie vai se acostumando. "Às vezes, me vejo no espelho e não me reconheço. Mas essa cara encaixou demais nesse papel, achei o resultado excelente", conta. 

Trajetória televisiva

- Malhação (Globo, 2005) - Azaleia.

- Sítio do Picapau Amarelo (Globo, 2006) - Cinderela. 

Páginas da Vida (Globo, 2006) - Joyce. 

- Malhação (Globo, 2007) - Angelina Maciel.

Caras & Bocas (Globo, 2009) - Vanessa.

- Ti-Ti-Ti (Globo, 2010) - Stéfany.

- Fina Estampa (Globo, 2011) - Maria Amália.

As Brasileiras (Globo, 2012) - Esplendor, protagonista do episódio "A Sambista da BR-116". 

- Sangue Bom (Globo, 2013) - Amora.

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Fonte: TV Press
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