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'Travessia' aborda deepfake: a internet que fascina e assusta

Novela das 9 de Gloria Perez estreia nesta segunda com trama sobre o limite ético das redes sociais; 'As pessoas continuam querendo ver novela, especialmente agora que o streaming vai recuando', opina diretor artístico Mauro Mendonça Filho

10 out 2022 - 05h11
(atualizado às 10h33)
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Sai a natureza exuberante para a chegada do mundo sombrio da internet - com a missão de sustentar a grande audiência de Pantanal, novela encerrada na sexta-feira, 7, Travessia estreia nesta segunda, 10, na Globo, com o perfil de um folhetim clássico, com dramas humanos, amores, ambição. Mas traz um ambiente novo em telenovela: a deepfake, ou seja, o uso da inteligência artificial para fazer montagens na internet, substituindo rostos e vozes para construir vídeos realistas, mas falsos.

Chay Suede, Lucy Alves e Romulo Estrela caracterizados para a novela 'Travessia'
Chay Suede, Lucy Alves e Romulo Estrela caracterizados para a novela 'Travessia'
Foto: Fabio Rocha/Globo/Divulgação / Estadão
Lucy Alves (Brisa) e Mauro Mendonça Filho, o diretor artístico, em gravação de cena do 6.º capítulo da novela 'Travessia' em São Luís, no Maranhão. Fábio Rocha/Globo/Divulgação
Lucy Alves (Brisa) e Mauro Mendonça Filho, o diretor artístico, em gravação de cena do 6.º capítulo da novela 'Travessia' em São Luís, no Maranhão. Fábio Rocha/Globo/Divulgação
Foto: Fábio Rocha/Globo/Divulgação / Estadão

"A internet e as redes sociais ampliaram esse poder e a informação maliciosa já não fica mais restrita ao boca a boca. Agora, ela se propaga rapidamente e sem limites geográficos", comenta Gloria Perez, autora da trama que começa em Portugal, onde um grupo de amigos faz, de brincadeira, uma nova montagem para um vídeo que é divulgado nas redes sociais, sem se dar que conta que isso vai impactar e transformar radicalmente a vida de Brisa (Lucy Alves), jovem que cresceu órfã e que, no interior do Maranhão, se vê obrigada a encarar uma longa jornada para recuperar sua vida e sua identidade de volta.

A narrativa vai se desenvolver no eixo Maranhão-Rio de Janeiro-Lisboa, cujas diferenças culturais são marcantes, mas estão aproximadas com o uso da tecnologia. "Vamos tratar de um tema que é, ao mesmo tempo, poderoso e invisível, algo semelhante à natureza", explica o diretor artístico Mauro Mendonça Filho. "O foco da novela está no humano, no quanto o uso desenfreado de internet, celular, redes sociais, robôs e inteligência artificial tem alterado as relações e o comportamento das pessoas. Como sempre, Gloria aborda assuntos relevantes e de identificação universal."

A estreia de Travessia foi antecipada, depois de a Globo decidir levar para sua plataforma Globoplay Todas as Flores, novela escrita por João Emanuel Carneiro, que sucederia Pantanal. A alteração de planos e a consequente pressa na gravação não incomodou Mendonça Filho, um dos mais perspicazes diretores da atual teledramaturgia brasileira. "Conheço o universo ficcional criado pela Gloria, temos uma sintonia."

Mauro Mendonça Filho tem o desafio de transformar em imagens a alquimia promovida por Gloria Perez em Travessia, ou seja, focar no aspecto cotidiano de um assunto tão espinhoso como os perigosos trazidos pela tecnologia. "Praticamente todos os pais têm filhos que vivem ligados a celulares. São vícios contemporâneos, daí ser esse um assunto relevante, universal", comenta o diretor, para quem HAL, o computador que se torna perigoso ao tomar decisões próprias no filme clássico 2001 - Uma Odisseia no Espaço, é um personagem cada vez mais próximo da realidade.

"A internet inaugura maneiras de viver as amizades, os romances, o sexo", comenta Gloria, no material de divulgação da novela. "A aposta é que esse pano de fundo, mostrando como todas essas inovações são vividas no cotidiano das pessoas, seja um poderoso chamariz para despertar a atenção do público que vive e convive com os dramas e conflitos relatados pela novela. Além de funcionar como alerta para as muitas ciladas embutidas no encanto da vida virtual."

Diálogo

Muito próximo das novidades tecnológicas, Mendonça Filho traçou uma linha de direção a partir de diálogos travados com os jovens atores da novela, especialmente o trio de protagonistas formado por Lucy Alves, Chay Suede e Romulo Estrela - este interpreta Oto, um hacker que leva uma vida nômade. "Passei a participar da rotina deles, percebendo como a rede social tem vital importância para esses jovens - e fiquei impressionado com a relação deles com os fãs."

A linguagem técnica da internet não estará presente na trama, garante Mendonça Filho, apenas os termos usados cotidianamente pelas pessoas. Segundo ele, a intenção é ser fiel ao texto de Gloria Perez, que traz questões que estão aí, tanto no inconsciente como nas ruas. "Vivemos hoje de forma muito acelerada: adoramos toda a tecnologia dos celulares, internet, redes sociais, compras online e, ao mesmo tempo, temos medo da inteligência artificial, dos algoritmos, do controle, de estarmos sendo vigiados", comenta ele. "Essa percepção é central na nossa história, de uma forma sutil e subjetiva, mas que afeta todos os personagens. É um mundo que, ao mesmo tempo, nos fascina e também nos assusta."

'As pessoas continuam querendo ver novela'

Mauro Mendonça Filho encara de forma positiva a missão de manter a audiência de Pantanal. "É muito melhor que suceder a um fracasso", garante. "As pessoas continuam querendo ver novela, especialmente agora que o streaming vai dando uma recuada. O espectador precisa de um cotidiano que a novela oferece muito bem."

Estadão
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