Números mostram por que Lula e Bolsonaro não ignoram convites da Globo
Ex e atual presidentes dependem da audiência do canal que odeiam para definir a eleição
“Muitas vezes, não temos tempo para dedicar aos amigos, mas para os inimigos temos todo o tempo do mundo.”
A frase escrita pelo romancista norte-americano Leon Uris pode ser aplicada à estratégia de campanha de Lula e Jair Bolsonaro.
Ambos odeiam a Globo, porém, estão disponíveis para a emissora. Participaram da sabatina no ‘Jornal Nacional’ e confirmaram presença no debate de quinta-feira (29).
Como não é possível abater inimigo tão poderoso como a TV líder no Ibope, melhor se aproveitar dele.
A audiência do canal da família Marinho se tornou fundamental para os dois presidenciáveis na última semana de campanha.
Um bom desempenho de Lula, que faltou ao debate do pool com SBT e Terra, poderia estimular o voto útil e levar o petista a vencer no 1° turno, segundo comentaristas de política.
Performance bem-avaliada de Bolsonaro teria o potencial de reverter parte de sua rejeição, atrair novos eleitores e levar a disputa para o 2° turno.
Os números da Globo falam por si.
Na entrevista a William Bonner e Renata Vasconcellos, em agosto, o presidente que tenta a reeleição atraiu 32,6 pontos, índice que representa 6,7 milhões de telespectadores na Grande São Paulo.
Já Lula, que busca voltar ao Planalto após ter cumprido 2 mandatos, conseguiu no ‘JN’ 31,4 pontos, ou seja, 6,4 milhões de pessoas diante da TV.
Para confirmar o poder do telejornal, basta compará-lo com a propaganda eleitoral no horário nobre (das 20h30 às 20h55), que não passa de 20 pontos.
O debate na emissora carioca – o último antes do 1° turno – gera alta expectativa de público também.
Em 2018, o encontro de presidenciáveis no canal registrou 22 pontos, algo em torno de 4,5 milhões de indivíduos sintonizados somente na área metropolitana de SP.
Desprezada na eleição passada por conta da ascensão das redes sociais, agora a televisão retoma protagonismo. Os assessores dos candidatos apostam no veículo para atingir melhores resultados.
Ironicamente, a superinfluente Globo está na mira tanto de Bolsonaro como de Lula.
O atual presidente de direita sinaliza a possibilidade de não assinar o decreto de renovação das concessões da emissora, que vencem em 5 de outubro.
Enquanto isso, o ex-presidente de esquerda defende um projeto de regulação de mídia que proibiria a propriedade cruzada e, com isso, poderia desconstruir o império de comunicação do clã Marinho.