O impacto na Globo da saída de Maria Adelaide Amaral e Fernanda Montenegro
Emissora vive fase de dispensas e demissões voluntárias de grandes talentos da teledramaturgia e do jornalismo
A não renovação do contrato de Maria Adelaide Amaral, após 32 anos, deixa um vazio relevante no departamento de teledramaturgia da Globo.
Ela era uma das poucas mulheres titulares de novelas e séries na emissora. A escrita de ficção na TV brasileira é dominada por homens.
A autora, de 80 anos, brindou o canal e o telespectador com obras primorosas, a exemplo de ‘Os Maias’, ‘A Casa das Sete Muralhas’ e ‘Queridos Amigos’.
Fez novelas populares interessantes, como a original ‘Sangue Bom’ e os remakes de ‘Anjo Mau’ e ‘Ti Ti Ti’. Sua única incursão às 21h, ‘A Lei do Amor’, em 2016, foi rejeitada por público e crítica.
Escanteada, a dramaturga estava sem função na Globo. Batalhou pela produção de uma minissérie sobre a vida e a obra do compositor Carlos Gomes, autor da ópera ‘O Guarani’, e de uma novela para a faixa das 23h.
No final de 2020, a saída de seu amigo e incentivador, Silvio de Abreu, da direção de teledramaturgia da emissora, fez os projetos irem para a gaveta. Ela cumpriu a etapa final do contrato sem ter a chance de produzir.
A dispensa de Maria Adelaide Amaral avoluma a lista de autores, atores e diretores de novelas que deixaram a Globo nos últimos 3 anos. Entre eles, o premiado Aguinaldo Silva, criador de sucessos como ‘Roque Santeiro’, ‘Tieta’ e ‘Senhora do Destino’.
A qualidade do texto da novelista fará falta à TV. Sua produção privilegiava pesquisa histórica, diálogos bem construídos, discussões interessantes à sociedade e bons ganchos para os próximos capítulos. Na maioria das vezes, teve a colaboração do coautor Vincent Villari.
A despedida de Maria Adelaide acontece junto com o anúncio de que Fernanda Montenegro pediu para deixar o elenco da próxima novela da 9 da noite, ‘Terra Vermelha’, e não quis renovar contrato com o canal.
A veterana, de 93 anos, decidiu não mais fazer trabalhos longos. Vai priorizar participações especiais que exijam poucos dias de gravações. Tomou a decisão para preservar a saúde e focar nos convites para cinema.
Com isso, a Globo fica sem sua atriz mais premiada — única brasileira ganhadora do Emmy Internacional, por ‘Doce de Mãe’, de 2014 — e o maior curinga para atrair a atenção do público e da imprensa especializada em TV, no Brasil e no exterior.