O interesse político de Bolsonaro por trás da renovação da concessão da Globo
Presidente criaria poderosos inimigos caso prejudicasse a rede de TV dos herdeiros de Roberto Marinho
Por que Jair Bolsonaro ‘traiu’ seus apoiadores que defendem o fechamento da Globo e assinou o decreto renovando a concessão da TV da família Marinho por mais 15 anos?
Simples: caso negasse a nova outorga, ele desagradaria a políticos poderosos que são donos de afiliadas ou têm ligação com grupos de comunicação parceiros da Globo.
Por exemplo, o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB), dono da TV Gazeta de Maceió, que é afiliada da Globo desde 1975, e apoiou a campanha de reeleição.
Outra referência: a Rede Anhanguera, afiliada em Goiás, é aliada do governador reeleito Ronaldo Caiado (União Brasil), que trabalhou por Bolsonaro e ajudou o presidente a derrotar Lula nas urnas do estado.
Mais dois casos: no Maranhão, a associada da Globo, TV Mirante, é do ex-presidente José Sarney (MDB); já na Bahia, a principal parceira da rede carioca, TV Bahia, pertence ao clã Magalhães, comandado por ACM Neto (União Brasil).
No total, são 116 afiliadas espalhadas pelas 5 regiões, atingindo quase 100% dos domicílios. Essas TVs regionais empregam milhares de profissionais e têm grandes marcas entre seus anunciantes nos intervalos comerciais.
Se não renovasse a concessão, Bolsonaro prejudicaria algumas das maiores fortunas pessoais e empresas do País. Imediatamente haveria um contra-ataque feroz de deputados, senadores, governadores e caciques partidários na defesa dos interesses dos afiliados da Globo e do mercado publicitário.
O presidente em fim de mandato perderia importantes apoios para se manter líder da direita em oposição ao futuro governo petista. Sairia caro demais desafiar a influência e os negócios da bilionária família Marinho e das TVs agregadas ao grupo.
Por isso, a edição de 21 de dezembro do Diário Oficial da União traz nos artigos 3º, 4º, 5º, 6º e 7º, a renovação da licença de transmissão dos 5 canais próprios do Grupo Globo, determinada por Jair Bolsonaro e o ministro das Comunicações, Fabio Faria.
Agora cabe ao Congresso Nacional fazer uma votação para chancelar a decisão vinda do Executivo. A emissora líder no Ibope possui forte lobby nas duas casas legislativas. A aprovação está garantida.
Neste mês, o SBT, a Band e a Record também tiveram concessões renovadas pelo presidente da República.