Obsessão por fama fácil é o caminho para a autodestruição
Luciano se torna um triste exemplo do que um participante do ‘BBB’ não deve fazer na tentativa de ser uma celebridade
“Só há uma coisa no mundo pior do que se ver transformado em alvo de rumores. É não despertar rumor algum”, escreveu o irlandês Oscar Wilde, autor de um clássico sobre a vaidade doentia, ‘O Retrato de Dorian Gray’. A obra lembra o mito grego Narciso, o rapaz que se apaixonou pela própria imagem e morreu de fome e sede após passar longo tempo olhando o próprio reflexo na água de um rio.
Essas duas referências filosóficas ajudam a compreender Luciano, o primeiro eliminado do ‘BBB22’. Ele cansou colegas de confinamento e o público com seu discurso repetitivo de ser famoso a qualquer custo. Ambicionou usar o reality show para conseguir “fama nível Beyoncé”, em suas próprias palavras. Disse querer atingir o mesmo estrelato de Leonardo DiCaprio e Cristiano Ronaldo. Perdido na ilusão e na idolatria de si mesmo, esqueceu de jogar.
Espera-se de um participante do ‘Big Brother’ que ofereça entretenimento ao público, seja comédia ou drama, heroísmo ou vilania. Luciano sai de cena sem ter entregue nada. A obsessão em se tornar uma celebridade instantaneamente anulou o carisma, a alegria e a sensualidade vendidos pelo ator e bailarino nas redes sociais e no vídeo de sua apresentação no programa. Ficou impossível torcer por alguém tão pretensioso, enfadonho e incômodo.
O mesmo erro aconteceu anteriormente. Pessoas batalharam para entrar no ‘BBB’ a fim de atingir o sonhado estrelado, porém, diante da grande chance, não souberam o que falar nem como agir. Ficaram irreconhecíveis aos olhos de parentes e amigos. Podem ter sido vítimas de autossabotagem involuntária (Freud explica) e dos efeitos do isolamento e da convivência com rivais na competição. Realities são experimentos mentais e nem todo mundo está preparado para lidar com tal sensação asfixiante.
Quem enfim se tornou famoso pagou o ônus. Fenômeno do ‘Big 21’, Juliette Freire enfrentou uma crise existencial no ápice da visibilidade após se consagrar. Fama por fama não garante a felicidade de ninguém. Prova disso é que tantos artistas frequentam o consultório de psiquiatras e analistas e até tomam medicação para controlar ansiedade e depressão. Dois dos maiores influenciadores do País, Whindersson Nunes e Felipe Neto pediram socorro por sofrer dor na alma.
Os sedutores benefícios trazidos pela fama – aceitação social, sensação de ser especial, bajulação, experiências de prazer e luxo etc. – fazem bem ao ego, porém, não garantem a alegria de viver nem a manutenção da saúde mental. Neste momento, inúmeras celebridades se encontram em profunda solidão e tristeza, apesar da imagem bem-sucedida, da fortuna na conta bancária e dos sorrisos (falsos) nas selfies e na mídia.
Cedo ou tarde, o famoso percebe que a vida não se resume a flashes, likes e cifrões. O escritor e dramaturgo espanhol Fernando Arrabal fez uma reflexão certeira a respeito: “A fama é um pedaço de nada que o artista agarra no ar sem saber por quê”. Agora, Luciano terá que se agarrar a algo menos frágil e fútil do que a fixação pela fama vazia que roubou dele a maior oportunidade que um anônimo pode ter na televisão brasileira.