Os acertos da Jovem Pan News ressaltam os erros da CNN Brasil
Canal de notícias associado ao discurso da direita se destaca enquanto franquia da potência norte-americana de jornalismo vive crise
Apoiada na maior grife de jornalismo do planeta, a CNN Brasil, lançada em março de 2020, pretendia disputar audiência e anunciantes com a GloboNews. Jamais ameaçou a grande concorrente.
Hoje, fica atrás também da Record News e da Jovem Pan News no Ibope. As receitas publicitárias são insuficientes para cobrir os custos fixos. Dezenas de demissões ocorreram nos últimos meses.
A CNN Brasil causou impacto inicial ao investir alto em jornalistas famosos. Contratou dois ex-globais, William Waack e Evaristo Costa, e tirou outros profissionais em ascensão no canal.
Entre eles, Monalisa Perrone, que comandava o ‘Hora Um’ e apresentava eventualmente o ‘Jornal Nacional’, e os populares repórteres Phelipe Siani e Mari Palma. O time causou impacto.
O tempo trouxe uma lição: não basta colocar rostos conhecidos na TV. Imprescindível estabelecer uma linha editorial sólida e criar identidade própria capaz de fidelizar o público.
A GloboNews faz isso com abordagem progressista do noticiário. Seus comentaristas estão à esquerda no especto político. Do outro lado, à direita, está a Jovem Pan News. A CNN Brasil parece perdida no meio, oscilando entre os polos.
No momento, a JP News não possui nenhum jornalista grifado no elenco. O âncora mais midiático, o advogado conservador Tiago Pavinatto, fez fama na própria emissora. Ainda que suavizada, a abordagem dos fatos continua com viés direitista.
Mesmo sendo alvo de campanha de desmonetização e boicote de anunciantes, a TV criada em outubro de 2021 se destaca, deixando para trás a CNN Brasil, uma potência com estrutura e equipe bem maiores.
Questão ideológica à parte, a Jovem Pan mostra competência ao firmar um perfil sólido e criar uma comunicação eficiente com os telespectadores que deseja atingir. Não precisa de apresentadores e comentaristas famosos.
Enquanto isso, a CNN Brasil muda a programação com frequência a fim de atrair mais público. Conta com analistas respeitados, à direita e à esquerda, porém, passa a impressão de falsa neutralidade, como se evitasse se comprometer.
Para piorar a situação, perdeu para a GloboNews a âncora Daniela Lima, inquestionavelmente à esquerda, e demitiu Rafael Colombo, um apresentador com atuação robusta e destemida.
Nos Estados Unidos, a CNN ‘mãe’ é declaradamente progressista e faz oposição à conservadora Fox News. Falta à versão brasileira do canal definir em qual lado vai ficar. O assinante de canais pagos de notícias indica querer um posicionamento firme. A polarização se introjetou no jornalismo. Ignorá-la é autossabotagem.