Oscar escala atriz trans na tentativa de ser mais inclusivo
Chilena Daniela Vega entra para o time de apresentadores da premiação de Hollywood
O drama chileno ‘Uma Mulher Fantástica’, do diretor Sebastián Lelio, está entre os cinco concorrentes na categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar.
A maior premiação do cinema americano acontece no dia 4 de março, com transmissão na íntegra, ao vivo, no canal TNT, e aquela exibição retalhada na Globo.
Protagonista do longa, Daniela Vega foi incluída na seleta lista de apresentadores que surgem no palco do Teatro Dolby, em Los Angeles, onde as estatuetas douradas são entregues.
A atriz, de 28 anos, é transexual. No filme, vive Marina, uma jovem trans que é hostilizada pela família de seu companheiro após a morte dele.
A escalação de Vega faz parte da estratégia do novo presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS), John Bailey, eleito em agosto de 2017, para fazer o Oscar ser mais politicamente correto – ao menos parecê-lo.
Primeira mulher negra no cargo, Chery Boone Isaacs, que comandou a Academia de 2013 até o ano passado, enfrentou em 2016 a campanha virtual #oscarsowhite (Oscar tão branco), em razão da escassez de artistas negros nas principais categorias do prêmio.
Ela agiu rápido e convidou muitos não brancos, de diferentes nacionalidades (inclusive brasileiros), a fazer parte da instituição, com direito a voto. Até então, 94% dos membros eram caucasianos e 77% do total, homens.
Apesar das tentativas de inclusão, a festa do Oscar ainda está longe de representar a diversidade racial e de gênero dos novos tempos.
Neste ano, por exemplo, apenas uma mulher conseguiu figurar entre os candidatos a Melhor Diretor, Greta Gerwig, do queridinho dos críticos ‘Lady Bird’.
Nas 89 edições do Oscar até hoje, apenas uma cineasta levou o prêmio, Kathry Bigelow, por ‘Guerra ao Terror’, em 2010.
A presença de uma mulher trans como Daniela Vega no tapete vermelho é um avanço. Ela terá valiosa visibilidade: cerca de 30 milhões de telespectadores somente nos Estados Unidos.
Ainda que produções bem-sucedidas como o filme ‘Transamerica’ (2004) e o seriado ‘Transparent’, no ar desde 2014, tenham ampliado a discussão midiática sobre a transexualidade, o tema ainda é tabu.
E os transexuais (famosos ou não) sofrem no dia a dia a rejeição de uma sociedade que, além de machista, racista, homofóbica e às vezes misógina, também é transfóbica.
“Como artista, o que busco é questionar certos espaços. Por exemplo, os espaços da moralidade, os espaços familiares”, disse Daniela Vega em entrevista à GQ espanhola.
“Que tipo de família construímos, que tipo de corpos habitamos. Há corpos proibidos, mas por quê? Quem disse que não se pode habitar certos corpos, viver determinadas realidades familiares que não se ajustam às demais?”